Psicologia Saúde Integral

Setembro Amarelo

Mãos unidas com fita amarela em formato de luta contra à depressão
123RF | Thitarees
Escrito por Regiane Rocha

O suicídio é uma questão de saúde pública em todo o Mundo de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde). O site das Nações Unidas, informa que o suicídio é a segunda principal causa de morte de jovens com idade entre 15 e 29 anos, chegam a morrer 800 mil pessoas por ano, isso sem contar as tentativas de suicídio.

No mês de setembro, a OMS instituiu a campanha de prevenção ao suicídio, que o Brasil também adotou e ficou conhecida como Setembro Amarelo. O objetivo dessa campanha é diminuir o índice de suicídio, a partir da discussão do tema e do acolhimento adequado de pessoas que estejam passando por situações nas quais o suicídio possa vir a ser uma opção.

Ainda seguindo os dados do informativo da ONU, entre as causas mais comuns do suicídio encontram-se: depressão e abuso de álcool, e entre “grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como refugiados, indígenas, comunidade LGBTI e pessoas privadas de liberdade”.

Garoto sentado no chão com cabeça abaixada sozinho
Pixabay / Pexels

Nessa medida o suicídio é uma resposta extrema, que pode corresponder a eventos inesperados, mas que em geral indicam que essas pessoas já apresentavam dificuldade de lidar com as adversidades da vida. Se observarmos as causas mais comuns citadas acima, pode-se identificar um padrão de sofrimento contínuo. O abuso do álcool e a depressão já são respostas a cenários deteriorados de vida, e a discriminação pode ser um desencadeador tanto do abuso de álcool, quanto de quadros depressivos.

Refletir sobre a questão do suicídio é refletir sobre a condição humana em relação a seu tempo histórico, este fenômeno não é algo novo que se remete apenas a atualidade, esse tema é antigo na história da humanidade, que reflete a desarmonia entre o coletivo e o individual. Ou seja, se refere ao equilíbrio entre o mundo interno do indivíduo e a configuração social que o cerca.

Desde os tempos pré-históricos os grupos já organizavam, mesmo que de modo intuitivo, maneiras de se organizar e ordenar seus costumes para garantir sua sobrevivência, e desde então está presente a tensão entre as regras aceitas pela maioria e as divergências de alguns membros desse grupo. A divergência vai alcançando graus que vão desde um incômodo com as normas até um rompimento que configura a saída daquele indivíduo do grupo, entre essas formas de rompimento se encontra o recurso do suicídio.

A ideia de organização social a partir de regras gerais foi mantida para estruturar as relações do mundo moderno e a adaptação ou desajuste também se manteve, portanto é fundamental frisar que apesar do fenômeno do suicídio afetar o indivíduo, ele corresponde a fatores externos presentes no sistema coletivo no qual essa pessoa viveu.

Mulher com braços em volta das pernas e expressão triste
Engin Akyurt / Pexels

O sociólogo Émile Durkheim aponta que o suicídio é um fato social, que afeta o indivíduo, mas se origina na sociedade, nos estudos desse autor a sociedade impõe coerção social pela divisão do trabalho, que normatiza a sociedade e obriga os indivíduos a obedecerem passivamente às regras sociais, quando o indivíduo não se adapta ele vai se desajustando e pode chegar ao extremo do suicídio.

O psicólogo Jean Piaget, também defende que o desenvolvimento humano depende da interação entre o indivíduo e meio social, e que a sociedade impõe coerção social sobre o individual. No entanto, o olhar de Piaget parte do individual enquanto Durkheim parte do coletivo.

Para Piaget as fases do desenvolvimento são três: anomia, momento em que a criança não conhece as regras sociais, heteronomia: momento em que a criança aprende as regras sociais e autonomia, quando a pessoa já consegue se autogovernar, essas três fases biologicamente se concretizam no início da fase adulta, no entanto precisam de condições adequadas.

Piaget entende que nascemos com emoções predominantes necessárias à sobrevivência e o medo é a emoção mais presente, pois para nós, nessa fase tudo é novo e desconhecido. Até os dois anos de idade as reações ao medo são muito frequentes.

Mãe beijando rosto de filha bebê que está sorrindo
Nandhu Kumar / Pexels

A partir dessa fase, o vínculo afetivo da criança com a mãe ou seus cuidadores vai acalmando e permitindo que a alegria, que também é uma emoção instintiva, vá ganhando espaço, quanto mais confiável e seguro para criança mais ela segue em equilíbrio até a fase adulta.

No entanto, a partir da divisão do trabalho, cada vez mais as formas de relação humana foram transformadas, as condições necessárias ao desenvolvimento humano foram se deteriorando e as pessoas crescem sem superar o medo, desenvolvem carência, insegurança e vários outros sentimentos originários do medo não processado que vai devagarinho esvaziando o sentido da vida.

O esvaziamento do sentido de viver tem provocado uma relação superficial com a nossa experiência nesse caminhar, como educadora acompanho vários segmentos de aprendizagem e nos mais de 20 anos de atuação na área da educação e qualidade de vida tive a oportunidade de acompanhar muitas histórias, a carência de relações humanas fortes e inspiradoras é um dos pontos sempre sensíveis na narrativa de vida das pessoas que já atendi.

Independente de qual seja o motivo que leve uma pessoa a buscar ajuda profissional, por trás do discurso que a pessoa traz de início, se configura em outras camadas a dificuldade de se relacionar consigo mesma, com os outros ou com mundo. Mesmo quando a pessoa traz ambições de alcançar apenas coisas materiais, por trás desse cenário repousa a necessidade de agradar alguém, ou surpreender, ou conquistar, etc.

Em geral, quando existe uma busca por sucesso, fama ou qualquer outra meta nesse sentido, envolve compartilhar esse resultado com outras pessoas, o que configura a relação interpessoal como um fator muito importante na manutenção do desejo de viver, e para além da relação com o externo, temos ainda a relação com nosso mundo interno.

Aprender a elaborar nosso lugar no mundo é um grande desafio, pois cada dia mais fica claro que temos um universo particular dentro de nós, podemos assumir tantos papéis sociais que nem somos capazes de quantificar quantas facetas podemos criar de nós mesmos. Mas a grande problemática é que para desenvolvermos autonomia precisamos exercer o direito à vida.

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O suicídio precisa ser evitado, mas é preciso também ser refletido como o respeito à vida pode ser garantido, pessoas que tentaram se suicidar e não conseguiram afirmam que o desejo de um suicida não é tirar a vida, e sim parar a dor que representa viver.

A sociedade está doente e confusa e esse grupo de pessoas nos lembra que não se trata de impedir a morte e sim de garantir a vida digna, longa e abundante de afeto e amor.

Sobre o autor

Regiane Rocha

Regiane Rocha é inconformada, curiosa e buscadora por natureza, profunda admiradora da vida e convicta da sabedoria e beleza que habita no íntimo de cada ser. Entregue ao divino sagrado e a serviço da grande Shakti, iniciou sua busca na identificação da “incompetência” em se adaptar aos padrões sociais vigentes.

Começou a trilhar o caminho dos conhecimentos espirituais no estudo do paganismo celta e se dedicou a conhecer mais profundamente a mitologia celta, nórdica, africana e finalmente a indiana, na qual atualmente pesquisa tantra yoga, hatha yoga e vedanta.

Mãe do Enzo Uriel e parceira de vida do Thiago Rodrigues, se dedica a compreender em nível pessoal como honrar cada dia mais a manifestação da abundância que a natureza oferece na forma desses dois homens, que ensinam a cada dia a sacralidade feminina no núcleo familiar de maneira cotidiana pelo exercício do respeito, acolhimento, cuidado e apoio. Irmã, filha e eterna aprendiz das maravilhas que resultam da harmonia entre forças primais da vida.

É educadora de formação, pesquisadora por vocação, terapeuta, facilitadora de processos de despertar humano por meio de medicinas como reiki, PNL (programação neurolinguística), florais de Bach, yoga, vedanta e saberes literários, e se dedica à educação e à formação humana há mais de 20 anos.

Hoje está à frente de pesquisas em autoconhecimento e espiritualidade aplicados à prática do desenvolvimento humano, realizadas através de sua empresa: Espaço Autonomia.

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