Autoconhecimento Psicanálise

Sombra reprimida: a ilusão do ego

Escrito por Otávio Leal
“Passamos nossa vida, até os 20 anos, decidindo quais as partes de nós mesmos que poremos na “sacola”, e passamos o resto da vida tentando retirá-las de lá.”
Robert Bly  

Muitos pais se projetam nos filhos, exigindo aspectos de perfeição que eles mesmos não tiveram na vida. Há pessoas que trabalham com o chamado pensamento positivo. Mentalizam: “isso é positivo, isso é positivo, isso é positivo” ou “eu sou luz, eu sou luz, eu sou luz” ou “sucesso, sucesso, eu tenho sucesso”. Trabalhar assim com a mente pode ser benéfico, mas por um período pequeno de tempo. Achar que tudo é positivo pode fazer com que neguemos nossa própria sombra e os aspectos egoístas e perversos.

Os que não têm essa válvula de escape para colocar para fora tudo o que é negatividade, fazendo uso de atitudes bem-humoradas, das brincadeiras, do lúdico, do prazer e principalmente da forma de interpretar situações difíceis com bom humor, possuem a sombra reprimida, o que gera sentimentos exagerados de posse em relação aos outros.

Alguns espiritualistas teóricos e religiosos intolerantes têm um discurso cheio de palavras lindas como amor incondicional e fraternidade, mas só na teoria. Não amam nem uma pessoa, quanto mais todos, incondicionalmente. Escondem a pior de todas as sombras – o fanatismo religioso, a intolerância com os companheiros de crenças diferentes. O filme francês “O oitavo dia”, é sobre um motivador de comportamentos positivos. Conheço motivadores e religiosos que não se auto-investigam e, inconscientemente, tentam passar aspectos positivos para a vida de seus seguidores. Contudo, suas palavras são agressivas, duras e inflexíveis, notam-se neles atitudes e gestos treinados, decorados, nada espontâneos ou que venham do coração. O suposto sucesso que atingem ocorre porque seu público é formado de pessoas iludidas que gostam de dor e humilhação. Além, claro, das promessas de soluções rápidas e fáceis. […] dúvidas nos remetem ao nosso lado sombra, já que é ele que detém todas as chaves de nosso autoconhecimento […]

Nossa luz e nossa sombra criam contradições em nossa alma. Qual caminho seguir? O que eu quero ou o que os outros querem de mim? Todas essas dúvidas nos remetem ao nosso lado sombra, já que é ele que detém todas as chaves de nosso autoconhecimento, todos os nossos segredos. Mas é bom não confundir a sombra com o ego negativo. Enquanto a sombra faz parte do ser real, pois nos faz olhar para nosso íntimo e nos descobrir na totalidade, o ego negativo é o ser idealizado e aquele que diz: “Não seja autêntico, seja aceitável”. “Não se exceda, seja medíocre, seja normal”.

O ego muitas vezes nos ilude, mente, enquanto a sombra nos coloca diante da própria verdade porque ela sempre esteve conosco, desde o nascimento. E como sempre esteve conosco, ela se constitui de tudo aquilo que insistimos em negar e desconsiderar ou daquilo que nos recusamos a aceitar em nós mesmos. Não agimos assim porque queremos, mas porque desde criança tivemos que nos adaptar para sobreviver. E fomos ensinados a esconder não somente coisas escuras, feias, que a sociedade diz que são pecaminosas, terríveis, imorais, mas também as coisas boas, por causa das mensagens que recebemos: “Não seja curioso”; “não seja tão honesto”; “não viva tão em contato com seus sentimentos”; “não seja tão criativo”; “não seja tão sonhador”… E assim fomos ensinados a construir nossa “auto-estima”. Por isso o lado sombra é tão rico. E é, somente penetrando na própria escuridão, que você poderá transformar-se, poderá transitar da antiga para a nova forma, livrando-se de seus temores e vergonhas, fracassos e dores. E, somente assim, poderá descobrir sua verdadeira força, seu poder, seus talentos e… sua alma.

Para sua reflexão, observe esta lista de valores paradoxais:

tabela

E agora? Qual é o seu caminho?  

Tudo tão contraditório, não é?

O que é o bem o que é o mal?

Luz? Sombra? Certo? Errado?

Não existem respostas para essas questões, tudo é relativo, graças a Deus! Senão, qual o sentido de viver? O que é bom para você pode não ser para os outros e vice-versa. Jung escreveu:

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“A triste verdade é que a vida humana consiste num complexo de opostos inseparáveis. Dia e noite, nascimento e morte, felicidade e miséria, bem e mal. Nem sequer estamos certos de que o bem superará o mal ou a alegria derrotará a dor.”

No próximo texto uma reflexão para seu coração.

Sobre o autor

Otávio Leal

Otávio Leal (Dhyan Prem) é um místico, mestre e terapeuta moderno. Sua presença transmite e aponta na direção da amorosidade, confiança, silêncio, persistência e compaixão. Seus ensinamentos são baseados na sabedoria e ética universal de Satya (verdade), Dharma (caminho reto), Shanti (paz), Prema (amor a todos os seres), Tapas (disciplina e persistência) e Ahinsa (não violência). Autor dos livros: "O Poder da Iluminação”, “Quero Mesmo é Ser Feliz - A
Essência da Felicidade", "Histórias para Incendiar a Alma", "Mantra - A Metafísica do Som", "Maithuna - Sexo Tântrico - Você não sabe o que está perdendo", além de centenas de artigos místicos, espiritualidade, budismo, vegetarianismo, amor aos animais e ao Planeta. Atua na Humaniversidade, uma escola de Iluminação, Ousada, Vanguardista que forma alguns dos melhores terapeutas do planeta, eleita em 2008 e 2009 como a mais competente do Brasil pelo jornal "O Legado". Atua também no site www.salveaterra.com.br