Autoconhecimento

Sossegar é verbo que se conjuga em conjunto

Pessoa segurando xícara de café e lendo um livro
R_Tee / Getty Images Pro / Canva
Escrito por Leandra Dib

Dias atrás fui convidada para participar de uma conversa em que o tema era sossego.

Falaríamos sobre a importância do sossego como construtor de relações saudáveis entre pais e filhos. Foi então que pensei no verbo sossegar, essa ação conjunta dentro de um ambiente familiar, onde muitas vezes o foco encontra-se apenas nas crianças e esquece-se com facilidade de olhar para os adultos do entorno.

Eu sossego. Tu sossegas. Nós sossegamos. Esse nós que só existe quando o eu é incluído nesse processo como parte ativa e participativa da experiência. Reforço aqui a importância que o autocuidado exerce nas nossas relações e, consequentemente, nas nossas vidas.

Buscar atividades que sejam significativas e que, ao realizá-las, eu possa me sentir mais calmo que antes de tê-las iniciado. Considero relevante frisar que não necessariamente a busca pelo sossego tem relação com atividades mais paradas ou que exijam do corpo certa imobilidade.

Uma mesma atividade exercerá ações diferentes a cada um de nós. Uns podem encontrar sossego numa prática de yoga, outros, tocando bateria.

Buscar por referenciais próprios e construir um repertório que atenda as nossas necessidades faz parte do processo de autoconhecimento, de autoeducação, para que assim não nos tornemos dependentes daquilo que facilmente encontramos representado por um ideal externo.

Ideal este que irá facilmente associar a palavra sossego a imagens de paisagens naturais que sugerem quase que a ausência de sons externos. Praia. Campo. Floresta. Imensidão azul, seja no céu, seja no mar. Tons naturalmente coloridos que se alternam criando uma atmosfera convidativa ao silêncio.

Sim, eu concordo que esse cenário é ideal ao sossego, ao aquietamento, a uma maior proximidade de nós mesmos que fará com acabemos nos aproximando com mais naturalidade do outro que nos acompanha. O contato com a natureza é essencial, eu sei, eu sinto.

Mas gostaria de compartilhar a inquietação que o encontro com essas imagens sugestionadas numa busca pela palavra sossego gerou em mim.

Senti-me desassossegada ao me dar conta de que aquele não era o cenário onde eu estava, que inclusive ele pintava algo distante da minha realidade, já que moro em um apartamento na cidade e estou mais rodeada por asfalto que por mato. Quase insidiosamente chegou junto uma mensagem que dizia mais ou menos assim: aqui não será possível encontrar sossego.

Percebam a sutileza da informação, e se eu não estivesse atenta a isso teria caído numa armadilha.

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Por isso reforço a importância de um referencial próprio, pois na sua ausência nos tornamos mais suscetíveis ao que nos é apresentado externamente.

O que para mim significa sossego? Quais são os lugares e as atividades que me tranquilizam? Quem são as pessoas com as quais eu posso experimentar o sossego? O que faz com que eu me acalme?

E junto a isso ouso dizer que vale muito a pena se deixar encantar pela beleza que nos habita e nos cerca e que seria valioso criarmos esse recanto de refúgio em nós mesmos, fazendo do nosso corpo um lugar confortável para se estar.

É possível encontrar sossego onde quer que estejamos! Experimente!

Sobre o autor

Leandra Dib

Meu nome é Leandra e contar sobre mim é sempre uma oportunidade de reescrever a minha própria história, de trazer para o papel em forma de palavra aquilo que em meu corpo está registrado como memórias, lembranças, encontros, experiências.

Isso de alguma forma me conecta ao movimento que tanto aprecio. Movimento do corpo, movimento da vida.

Ao concluir a faculdade de fisioterapia o corpo tornou-se meu ‘campo’ de pesquisa. Cursei uma primeira especialização em Fisiologia do Exercício pela FM-USP. Tenho formação nos métodos de Reeducação Postural Global e Estruturação Postural Integrada, Reprogramação Músculo-Articular e Watsu (Water Shiatsu).

A dinâmica do corpo em movimento que evidencia um desejo posto em ação sempre me instigou, o que fez com que eu vivenciasse em meu corpo diferentes técnicas e passei a aliar isso ao que era proposto em terapia aos meus pacientes.

Percebia como eles estavam desconectados de seus corpos, lembrando que ele existia em função do desconforto que apresentavam, ou seja, a dor os fazia lembrar que tinham um corpo.

‘Ter um corpo’, como se fosse algo distante do que eram. Isso me chamava muito a atenção. Esse corpo de lamentações era o companheiro diário. Iniciei meu caminho em busca do ‘ser um corpo’ e não só ‘ter um corpo’.

Encontro nas práticas de yoga e meditação o meio para facilitar estes processos de (re)encontro comigo, e resolvo então buscar por uma formação em Hatha Yoga e Yogaterapia pela Humaniversidade Holística. Neste caminho me especializo em Yoga para Crianças pela Metodologia Yoga com histórias.

Estar presente neste corpo, neste lugar. Habitá-lo com tranquilidade e com prazer.

Foi quando me aproximei da educação e entrei em contato com a antroposofia, com os ensinamentos para a vida que nos deixaram Rudolf Steiner, Emmi Pikler, Maria Montessori, Paulo Freire.

Decido estudar sobre o começo da vida, sobre as infâncias, sobre o brincar como uma condição humana e as biografias despertaram meu interesse.

Uma costura de saberes de diferentes áreas do conhecimento que tanto dialogam entre si e que me possibilitam a especialização em Escutas antropológicas das infâncias - a vez e a voz das crianças.

Hoje atuo como professora de yoga e meditação, cuido de crianças e adultos que sintam o chamado de retorno a morada corporal.

Trabalho também com rodas de mulheres, onde abordamos temas relacionados ao feminino em nós, ressignificando a relação com nosso corpo e nossos ciclos.

Ofereço grupos de estudos e rodas de conversa sob a perspectiva do ‘cuidar de quem cuida’ um trabalho voltado para os educadores, pais e professores.

Contatos:
Email: leandra.vozdocorpo@gmail.com
Site: vozdocorpo.com
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