Quando você é escritora independente e empreendedora, existe uma fantasia romântica de ver seus livros numa prateleira física. Eu caí nessa fantasia e paguei caro por ela.
Há quase um ano, decidi colocar dez exemplares dos meus livros em consignação numa livraria do interior. A única livraria da cidade, aliás. Parecia uma boa ideia na época. Afinal, presença física, visibilidade local, possibilidade de alcançar leitores que não estão no digital. Fazia sentido na teoria.
Na prática, o investimento passou de mil reais. Produção física dos livros, envio, certificado digital para emissão de nota fiscal, deslocamento até a Secretaria da Fazenda para regularizar a emissão de nota de produto (já que minha empresa era de serviços). Gastei tempo, dinheiro e energia apostando que funcionaria.
Resultado? Menos de duzentos reais de retorno em quase doze meses.
Mas o dinheiro foi só parte do prejuízo. Fui até a livraria várias vezes para criar conteúdo. Filmei, narrei, editei vídeos, publiquei nas redes sociais, marquei a livraria nas postagens. Fiz o trabalho de divulgação que deveria ser deles. E sabe o que aconteceu? A filha dos donos demorava dias para aceitar as marcações. Quando aceitava.
Não recebia aviso de vendas. Precisava ir atrás, perguntar, cobrar informações que deveriam vir naturalmente. Descobri que um livro tinha sido vendido porque eu perguntei, não porque eles me avisaram. O pagamento? Chegava quando chegava.
Quando publiquei meu terceiro livro em coautoria com minha mãe, perguntei sobre fazer uma noite de autógrafos. A resposta foi: precisaria de no mínimo trinta exemplares na livraria. Para eu comprar. A contrapartida deles? Nenhuma. “Se vira aí” foi basicamente a mensagem.
Trinta livros significariam mais de quatro mil reais do meu bolso. Para fazer evento no espaço deles, gerar movimento para o estabelecimento deles, enquanto a experiência anterior já mostrava que não vendiam, não divulgavam, não se comprometiam com nada.
Eu disse não. E foi a melhor decisão que tomei nessa história toda.
O que essa experiência me ensinou vai além de números. Aprendi que nem toda parceria vale a pena só porque parece boa no papel. Aprendi que romantizar canais de venda pode custar caro. Aprendi que, quando o outro lado não demonstra comprometimento, você vai carregar todo o peso sozinha.
Mas, principalmente: aprendi a olhar para onde meu negócio já funciona.
Eu vendo mais online do que fisicamente. Trabalho com impressão sob demanda através de plataformas como Clube de Autores e Uiclap. Não preciso produzir estoque antecipado, não tenho custo de envio, não dependo de intermediários desorganizados. O livro é produzido quando alguém compra. Simples, direto, funcional.
Eu já tinha um modelo que funcionava. Mas quis forçar outro que não era para mim.
Numa quarta-feira qualquer, fui buscar os livros que sobraram na livraria, para encerrar essa história.
Não estou com raiva. Já passei dessa fase. Agora é só aprendizado.
Se você é empreendedora ou escritora independente, preste atenção: a consignação física tem custo alto e retorno incerto. Pode funcionar para algumas pessoas, em algumas circunstâncias, com parceiros realmente comprometidos. Mas se o outro lado demonstra desinteresse, desorganização, falta de comunicação, saia enquanto o prejuízo ainda é controlável.
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Olhe para onde seu trabalho já dá resultado. Invista energia no que já está funcionando. Não romantize canais de venda só porque “seria legal” ou “parece profissional”. Seja prática.
Eu gastei mais de mil reais e um ano da minha vida para aprender isso. Você pode aprender de graça lendo este texto.
A fantasia da prateleira física é linda. Mas o lucro real está onde você tem controle, comprometimento mútuo e retorno proporcional ao investimento. Para mim, isso está no digital. Para você, pode estar em outro lugar.
Só não deixe a fantasia custar mais do que você pode pagar.
