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A coragem de não saber

Imagem de uma mulher descortinando a janela da realidade. A foto traz o conceito de mostrar a capacidade de simplesmente não saber.
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Escrito por Giselli Duarte

Aceitar o não saber é abrir espaço para o mistério, abandonar certezas e viver com mais leveza. A dúvida não é fraqueza, mas convite à escuta, à humildade e à transformação. Quando deixamos de buscar controle, passamos a simplesmente viver o que é.

Vivemos cercados por respostas. Tutoriais, especialistas, gurus, coaches, manuais de vida. Parece que todo mundo tem uma explicação para tudo, e quem não tem, corre para encontrar. A dúvida virou desconforto. O silêncio incomoda. E, no meio dessa pressa por entender, a gente perde algo importante: a capacidade de simplesmente não saber.

Não saber é um espaço fértil, mas poucos o suportam. É o intervalo entre uma pergunta e outra, onde o ego ainda não achou controle. Por isso é tão difícil. As pessoas querem se sentir certas, alinhadas, conscientes, despertas. Querem parecer seguras diante do caos. Mas a vida raramente se encaixa em “receitas de bolo”. Há coisas que só se revelam com o tempo, outras que nunca se revelam. E tudo bem.

A coragem de não saber é o contrário da arrogância espiritual e também da rigidez racional. É o estado de quem aceita olhar para o mistério sem precisar decifrá-lo. É o ponto onde se abandona o papel de quem domina e se volta a ser aprendiz.

Muita gente confunde dúvida com fraqueza. Acredita que não saber é sinal de desorientação, falta de fé, indecisão. Mas o verdadeiro equívoco é fingir que sabe. Quando a pessoa se recobre de certezas, espirituais, científicas, políticas ou morais, ela se fecha à vida. E tudo o que é vivo muda.

O “saber” pode ser uma forma disfarçada de medo. Medo de perder o controle, de parecer ignorante, de se expor. O discurso na ponta da língua protege, mas também endurece. Em compensação, quem se permite não saber encontra uma liberdade que o especialista nunca toca. Porque não precisa defender nenhuma ideia, apenas observar o que se mostra.

Muitos dos maiores erros humanos nasceram da incapacidade de dizer “não sei”. Guerras, dogmas, imposições, teorias que tentam domesticar o mistério. É mais fácil criar uma crença do que lidar com a ausência de explicação. E essa ânsia por clareza produz o contrário da sabedoria: produz ruído.

A espiritualidade, quando é madura, ensina o contrário. Não convida à resposta, mas à escuta. Não oferece garantias, mas abertura. Ela se revela mais quando se admite o desconhecimento do que quando se tenta provar uma iluminação. O verdadeiro aprendizado é sempre um despojamento.

Quem tem coragem de não saber vive com mais leveza. Pode mudar de opinião, pode reconhecer um erro, pode aprender com quem pensava diferente. A incerteza deixa de ser ameaça e passa a ser uma curiosidade. Em vez de precisar definir tudo, a pessoa passa a investigar.

O não saber também humaniza. Ele desmonta o personagem que quer parecer sábio, evoluído, em paz. Permite vulnerabilidade. Deixa o outro entrar. E é nessa lacuna que nascem as trocas sinceras. Quando duas pessoas se encontram sem precisar demonstrar sabedoria, algo verdadeiro pode acontecer.

Há uma beleza em aceitar o mistério. É um gesto de humildade diante da existência. A mente quer respostas, mas há coisas que pertencem ao campo do indizível: o amor, o tempo, a morte, o acaso. Forçar explicação é como tentar medir o vento.

Imagem de várias pessoas, de várias idades, com os seus celulares em mãos acessando às redes e usando as novas tecnologias, simbolizando o acesso a todas informações.
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Na era do excesso de informação, não saber é quase um ato de resistência. É recusar a pressa de se posicionar sobre tudo, de ter opinião imediata sobre qualquer assunto. É permitir que as perguntas amadureçam antes de buscar conclusão. É observar o próprio pensamento sem se apressar em julgá-lo.

Há dias em que nada faz sentido, e talvez seja exatamente nesses dias que a vida está se movendo. A confusão pode ser um sinal de transformação, não de fracasso. O desconhecido é um terreno de crescimento, mesmo que se pareça com a desordem.

A coragem de não saber é, no fundo, um gesto de confiança… a confiança de que a vida segue, mesmo quando a gente não entende como. É o reconhecimento de que o controle é uma ilusão e de que a dúvida pode ser um lugar seguro, se habitada com honestidade.

Talvez a sabedoria comece exatamente aí: quando paramos de buscar títulos, respostas e explicações e passamos a observar o que é, com simplicidade. Sem precisar nomear, definir ou transformar em conteúdo.

E se o sentido da vida nunca for descoberto, mas apenas vivido?

Sobre o autor

Giselli Duarte

Sempre fui movida pela busca por novos aprendizados.
Minha trajetória percorreu diferentes áreas, desde a carreira corporativa até experiências pouco convencionais, como um curso de DJ. Essa diversidade ampliou minhas perspectivas e me trouxe a compreensão de que cada fase contribui para o trabalho que realizo hoje.

Com espírito empreendedor desde cedo, comecei a trabalhar aos 14 anos como jovem aprendiz e, aos 21, legalizei meu primeiro negócio. Desde então, criei e participei de projetos diversos, sempre unindo consistência e visão estratégica.

Atuei como profissional PJ em projetos para empresas de diferentes setores, incluindo engenharia, startups, agências de comunicação e administração de condomínios, conciliando o empreendedorismo com projetos fixos. Essa experiência trouxe visão prática sobre diferentes modelos de negócios e a capacidade de orientar profissionais em diversos momentos da carreira.

A experiência com o burnout transformou a forma como conduzo minha vida e minha atuação profissional. Encontrei no Yoga e na Meditação o caminho de reconexão, o que me levou à formação em Hatha Yoga e à especialização em terapias naturais.

Compartilho esse conhecimento como colunista nos portais O Segredo e Eu Sem Fronteiras e como instrutora de meditação nas plataformas Insight Timer e Aura Health, onde também atuo como podcaster, oferecendo práticas que ajudam a cultivar presença e equilíbrio.

Como autora, publiquei os livros No Caminho do Autoconhecimento, Lado B e Histórias de Jardim e Café, registrando reflexões e vivências que me conduziram a um olhar mais consciente sobre a vida.

Sou graduada em Marketing, pós-graduada no MBA em Gestão Estratégica de Negócios, com especializações em Design Gráfico e Inteligência Artificial aplicada a Growth Marketing, Inteligência Emocional, Psicanálise e outras.

Concluí também a Formação de Instrutores de Yoga para Crianças, Jovens e Yoga na Educação, ampliando minha visão sobre o bem-estar em todas as fases da vida.

Hoje, à frente da Terapeutas Digitais, auxilio profissionais da área terapêutica a fortalecerem suas marcas e a se posicionarem no digital de forma consciente e coerente com seus valores. Atuo como mentora de negócios, incentivando e conduzindo profissionais no caminho do empreendedorismo ao longo da minha trajetória. Atualmente, também sou mentora da RME – Rede Mulher Empreendedora, ampliando esse propósito.

Acredito que negócios alinhados com quem somos têm mais impacto e significado. É assim que escolho atuar e é esse o caminho que sigo construindo.

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Meditação para quem não sabe meditar

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