Autoconhecimento Psicologia

A dor do amor

Closeup of young beautiful couple looking at each other with love under the umbrella in an autumn rainy day. Love and couple relationships concept.
Escrito por Ana Racy

Ah, o amor…algumas vezes, descrito como o combustível da vida, o sentimento que dá cor e razão a existência, e outras vezes, como sendo o sentimento que arrebenta o coração de tanta dor.

Hoje, eu gostaria de falar um pouco mais sobre o segundo, o sentimento que faz a pessoa sofrer, chorar, se desesperar e até mesmo pensar que não foi criada para a felicidade.

Mas, o que será que leva uma pessoa a ter toda essa “dor”?

No último artigo, falamos um pouco sobre a diferença entre dor e sofrimento. Apenas para relembrar, a dor é real e o sofrimento é psíquico ou seja, uma escolha do indivíduo sobre como passar por aquela dor. É fundamental lembrarmos dessa diferença, para compreendermos melhor a forma como estamos escolhendo viver o amor ou a dor.

Importante conceituarmos o amor como uma busca da unidade, da união em tudo que existe. É pensarmos em termos de humanidade, algo muito maior que a relação afetiva homem-mulher. No entanto, ainda estamos aprendendo a amar e, por isso, ainda condicionamos o amor aos nossos desejos, vontades e a carne.  

A forma como vemos o amor hoje vem de longa data, quando a ideia de alma gêmea começou a se espalhar. A alma gêmea traz junto consigo a ideia de que alguém chegará para completar a nossa felicidade. E se esse alguém não chega, então, estamos fadados à infelicidade.

Faz-se necessário perceber quando estamos depositando nas mãos de alguém ou de alguma coisa a nossa felicidade. Por exemplo, será que achamos que o nosso companheiro é responsável por nos fazer felizes?

Se respondermos sim a essa pergunta, é hora de repensarmos nosso conceito de amor. Estamos depositando nas mãos de outra pessoa a conquista de um dos nossos maiores tesouros: o da felicidade.

Amor é algo que integra os seres e não algo que os completa, uma vez que foram todos criados como seres completos. Nesse momento, cabe-nos lembrar que a felicidade é um estado interno e uma conquista individual.

A ideia de encontrar alguém que nos complete pode ser uma das explicações para as chamadas “dores do amor”. Quando não recebemos da outra pessoa aquilo que gostaríamos, começamos a sofrer, permitindo que cresça em nós a carência, nos tornando ainda mais dependentes do recebimento de carinho e atenção.

Um outro ponto importante é a idealização, que é quando criamos em nossa mente o companheiro perfeito: o príncipe carinhoso, amoroso, rico, inteligente, educado e lindo. Quando percebemos a sua humanidade, a sua imperfeição, nos sentimos muito mal. É como se o mundo viesse abaixo. Assim, mais uma vez, chegam as dores do amor.

Percebemos que, de certa maneira, a idealização e a ideia de pessoa metade, aquela que espera sua alma gêmea chegar para fazê-la feliz, se fundem, pois nenhuma das duas é real. E por não serem reais, frustram, decepcionam, fazem sofrer, porque a pessoa fica presa a algo irreal para torná-la feliz, desprezando o seu crescimento interior e a busca do amor real, aquele que traz liberdade, alegria e respeito, porque sabe que sua felicidade depende apenas de si mesmo.

A dor do amor também pode vir pelo sentimento de posse que temos em relação ao companheiro.

Achamos que o outro nos pertence, é nosso e teremos o controle da sua presença para sempre. No entanto, as pessoas são livres para ir e vir. O desafio maior para o entendimento do amor, é respeitar a escolha do outro, ainda que ela seja completamente diferente da sua, e permitir que ele seja livre – até mesmo para amar uma outra pessoa. Alcançar esse nível de compreensão significa a não existência das dores do amor.

Muitas vezes, dizemos que precisamos ter sorte para encontrar a pessoa certa. Mas, será que essa é uma ideia real? Seria lógico dizer que a felicidade depende de sorte? Não seria mais lógico dizer que a felicidade é resultado das escolhas que fazemos?

Depois disso tudo, ainda achamos que o amor dói? Então, deixo aqui uma reflexão:

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O amor não dói. O amor cura, liberta, é harmonia.

Qualquer coisa fora disso, é apego, posse, idealização, irreal.

De que lado quero estar? Do lado do amor real ou ilusório? Sofrendo pelo apego ou colhendo as delícias do amor?

Será que o amor não continua sendo o melhor caminho? A resposta cabe a cada um de nós….

Sobre o autor

Ana Racy

Psicanalista Clínica com especialização em Programação Neurolinguística, Métodos de Acesso Direto ao Inconsciente, Microexpressões faciais, Leitura Corporal e Detecção de Mentira. Tem mais de 30 anos de experiência acadêmica e coordenação em escolas de línguas e alunos particulares. Professora do curso “Psicologia do Relacionamento Humano” e participou do Seminário “O Amor é Contagioso” com Dr. Patch Adams.

E-mail: anatracy@terra.com.br