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A importância da Linn da Quebrada no BBB 22

A artista Linn da Quebrada.
Ramon Aquim - Mídia NINJA from Brasil, CC BY-SA 2.0 / Wikimedia Commons
Escrito por Eu Sem Fronteiras

No primeiro mês do ano, as atenções de milhões de brasileiros se voltam para o Big Brother Brasil. O reality show global que já tem 22 edições recuperou a fama a partir da edição 20, quando celebridades passaram a integrar o grupo de participantes, além dos anônimos. Desde então, o programa alcança ótimos índices de audiência e é disputado por inúmeros patrocinadores.

Em 2021, por exemplo, cerca de 40 milhões de pessoas assistiam ao BBB diariamente. Por causa disso, tudo que acontece no programa se torna uma pauta no debate público. De forma descontraída, a audiência tem a oportunidade de conhecer pessoas de diferentes realidades sociais, de desvendar as histórias delas e de desenvolver empatia pelas alegrias e dores de cada participante.

Sendo assim, quando a artista Linn da Quebrada entrou no Big Brother Brasil 22, no grupo Camarote (das celebridades), o Brasil inteiro pôde torcer para que uma travesti, Lina Pereira dos Santos, virasse milionária. E por que isso é tão relevante? O que isso representa no país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo? A seguir, reflita sobre essa questão.

Quem é Linn da Quebrada e Lina?

Para compreender por que a presença de Linn da Quebrada é tão importante no BBB 22, é preciso entender quem é essa “agitadora cultural”, como ela mesma se define. Em primeiro lugar, Linn da Quebrada é o nome artístico de Lina Pereira dos Santos. Até o início do programa, a população conhecia o trabalho de Linn como cantora, atriz e apresentadora.

A carreira de Linn deslanchou em 2017, com a faixa “Enviadescer”. Depois disso, explorando diversas maneiras de fazer música, a cantora lançou o disco “Pajubá”, em 2018. Inovando mais uma vez, o segundo álbum “Trava Línguas” foi lançado em 2021, a partir de referências e experiências diferentes do que ela já havia produzido.

No cinema e na televisão, Linn também faz sucesso. Em 2018, recebeu prêmios nacionais e internacionais pelo documentário “Bixa Travesty”, no qual foi protagonista e roteirista. A partir de 2019, Linn tornou-se apresentadora de TV, no talk show “TransMissão”. Também, ela integra o elenco de “Segunda Chamada”, série original da Rede Globo.

Linn da Quebrada durante o evento Cisheterofobia Existe - A festa.
Ramon Aquim – Mídia NINJA from Brasil, CC BY-SA 2.0 / Wikimedia Commons / Canva / Eu Sem Fronteiras

Porém, com o reality, o público começou a conhecer Lina, uma travesti de 31 anos que está tentando descobrir quem é, além da profissão que exerce. No discurso de abertura do programa, Lina declarou: “Eu não sou só cantora… Tenho uma cachorra, uma mãe. Sou filha da Dona Lilian, de 68 anos, alagoana. Estou aqui também por ela, para garantir uma velhice mais confortável para a minha mãe. Sou chorona, determinada, corajosa, mas tenho muito medo. Sou complexa […]”.

A partir dessa declaração, podemos compreender que Lina quer mostrar quem ela é enquanto pessoa, não só como artista. E é nesse sentido que a presença dela no BBB 22 é tão importante, principalmente por ela ser travesti. No Brasil, essa identidade de gênero ainda é vítima de violência diariamente. Continue lendo para saber mais sobre o papel de Lina no combate a esse cenário.

Ela é travesti!

Ao final do discurso de apresentação de Lina, ela disse: “[…] Eu fracassei. Sou um fracasso de tudo que esperavam que eu fosse. Não sou homem, não sou mulher, sou travesti!”. Em uma sociedade patriarcal, acostumada a definir uma pessoa como homem ou como mulher, essa afirmação pode soar incompreensível.

Se você ainda não sabe qual é a diferença entre homem cis, mulher cis, mulher trans, homem trans, travesti e pessoa não binária, ainda há tempo para se atualizar e aprender. Sabendo isso, será mais fácil entender a importância de Linn da Quebrada no BBB. Então confira as diferenças entre cada identidade de gênero:

Pessoas cisgênero

Pequenos blocos de madeira formando a palavra "CISGENDER".
Jorge Corcuera / Canva

As pessoas cisgênero, homem cis e mulher cis, são aquelas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer. Ou seja, é alguém que foi identificado como homem ou que foi identificada como mulher e se reconheceu nessa identidade ao longo da vida.

Pessoas transgênero

As pessoas transgênero são aquelas que se identificam com um gênero diferente daquele que lhes foi atribuído ao nascer. É o caso de uma pessoa que foi identificada como homem no momento do nascimento, mas que se identifica com a identidade de gênero feminina, sendo uma mulher trans. Quando uma pessoa é identificada como mulher ao nascer, mas se identifica com a identidade de gênero masculina, ela é um homem trans.

Pessoas não binárias

A binariedade é o que define a existência de dois gêneros: feminino e masculino. Portanto a não binariedade é o que existe além dessas duas identidades. É uma pessoa que não se identifica como homem e nem como mulher, porque não se vê limitada a essas duas formas de expressar a própria essência.

Travesti

Como Lina disse, ela não se identifica como mulher nem como homem, mas como travesti. Isso significa que a artista não se prende à binaridade de gênero, estando além dela. Não é correto dizer que Lina é uma mulher trans, um homem cis ou uma mulher cis. Ela é travesti e devemos nos referir a ela sempre no feminino.

A partir dessas informações, já começamos a entender que Lina está fomentando debates sobre esse tema no Brasil inteiro. Se as pessoas não se interessavam em estudar sobre isso, agora elas podem compreender mais formas de existir, respeitando cada uma delas. Mas não é só isso.

Durante muito tempo, a palavra “travesti” foi entendida como pejorativa. Então, quando Lina declara com orgulho que é travesti, além de estimular outras pessoas que se sentem como ela a fazerem o mesmo, ela constrói um novo uso para esse termo. Nesse sentido, nós devemos reconhecer a identidade de gênero que uma pessoa atribui a si. Se Lina diz que é travesti, nós nos referimos a ela como travesti, e não há nada de negativo nisso.

Travesti se observando num espelho.
South_agency de Getty Images Signature / Canva

Outro fator importante sobre a participação de Lina no BBB é que a população travesti ainda é marginalizada no Brasil. Isso significa que essas pessoas encontram mais dificuldade para conseguir empregos, para se profissionalizar e para ter as próprias existências reconhecidas. Inclusive, Lina afirmou no reality que ela é uma exceção nesse meio, já que a realidade da maioria das travestis não é uma carreira de sucesso.

Felizmente, ao visualizar Lina em um programa de grande audiência, tendo a torcida de muitos brasileiros para que ela ganhe o prêmio e sendo quem deseja ser, outras travestis podem acreditar que existe um futuro melhor para elas. Essa parte da sociedade tem o direito de se ver representada de forma positiva na televisão e na internet.

Como se o debate sobre identidade de gênero e a representatividade de pessoas travestis já não fossem processos incríveis decorrentes do ingresso de Lina no BBB, a artista tem mais um impacto relevante. No próximo tópico, descubra qual é o outro papel fundamental que Lina assumiu fora da casa.

Equipe da Linn formada por travestis

Uma das maiores dificuldades que as travestis encontram no Brasil é a entrada no mercado de trabalho formal. Uma vez que o país é LGBTfóbico, machista e racista, dificilmente as pessoas que não seguem os padrões heteronormativos e patriarcais recebem oportunidades justas de trabalho.

Entretanto, antes de Lina entrar no BBB, ela formou uma equipe de travestis para cuidar das redes sociais dela durante a permanência no reality. No time formado por 20 pessoas, cinco delas, que são as administradoras, são travestis, como Lina. Isso significa que o poder de decisão sobre os conteúdos produzidos está nas mãos de quem compartilha uma experiência de mundo muito semelhante à da artista.

Além disso, a escolha de Lina evidencia o compromisso dela de provocar uma mudança na forma como a sociedade percebe as travestis. Afinal, esse grupo social também é capaz de desempenhar tarefas com profissionalismo, comprometimento e seriedade, desde que tenham condições e oportunidades para isso. Então Lina não luta apenas pelo próprio sucesso, mas pelo sucesso de todas as travestis.

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Com base no conteúdo que apresentamos, observamos que Linn da Quebrada é uma presença importante no Big Brother Brasil 2022. Lina é um símbolo de representatividade travesti, uma fomentadora de debates urgentes e uma inspiração para a sociedade como um todo. Mesmo que ela não leve o prêmio milionário, ela já entrou para a história do reality e do Brasil.

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