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A obsolescência da bondade: quando o altruísmo se torna uma obrigação invisível

Duas mulheres estão segurando as mãos de uma da outra, indicando apoio.
Farknot Architect / Canva
Escrito por Fabiano de Abreu

A bondade ainda é virtude ou virou obrigação invisível? Quando o altruísmo cansa, o que isso revela sobre a sociedade e sobre nós mesmos? Uma reflexão profunda sobre o esgotamento de ser bom. Continue a leitura!

Premissa inicial: o declínio da valoração social da virtude

Por que, em uma sociedade progressivamente conectada e supostamente consciente, o altruísmo genuíno torna-se visto não como virtude, mas como dever não reconhecido? Quando a generosidade é reiterada sem reciprocidade simbólica, ocorre sua banalização, e o sujeito generoso passa a ser interpretado não como exceção moral, mas como incumbência social. Essa transição da bondade voluntária para a funcionalidade imposta é não apenas uma distorção cultural, mas uma consequência mensurável neurocomportamental.

I. Neurobiologia da frustração altruísta: dessensibilização da recompensa

A generosidade ativa o sistema de recompensa cerebral, principalmente o circuito dopaminérgico mesolímbico (tegmento ventral → núcleo accumbens). Entretanto, como demonstrado em estudos sobre dessensibilização dopaminérgica, a repetição do comportamento altruísta sem feedback afetivo ou reconhecimento simbólico leva à inibição tônica da liberação dopaminérgica. Assim, o mesmo comportamento passa a ser experienciado não como prazer ou missão, mas como obrigação emocionalmente exaurida.

Ao nível funcional, o córtex cingulado anterior, responsável pela avaliação de conflito, entra em dissonância com a resposta do córtex orbitofrontal, gerando frustração cognitiva: “Faço o bem, mas isso já não produz significado”.

II. A eticidade da expectativa e o erro da naturalização moral

Quando a sociedade internaliza que certos indivíduos “devem” ser bons, por padrão, por história de vida ou por natureza, constrói-se um viés de expectativa sem reciprocidade. A bondade deixa de ser uma escolha ética para se tornar uma obrigação tácita. O sujeito generoso é desumanizado na medida em que sua virtude é automatizada socialmente.

Duas mulheres estão se abraçando no foco da imagem, indicando apoio. Atrás delas, há um grupo com outras mulheres sentadas.
Studioroman / Canva

Este processo cultural é descrito no modelo sistêmico-relacional da clínica familiar, em que padrões transgeracionais cristalizam mandatos comportamentais. O “bondoso compulsório” emerge de um sistema social doente, no qual o altruísmo é explorado como função, e não celebrado como valor.

III. A patologia da inversão moral: quando o absurdo se torna norma

No contexto da normalização do absurdo, descrita na literatura, como a aceitação de comportamentos disfuncionais como padrão social, a bondade torna-se vulnerabilidade explorável. Em vez de inspirar reciprocidade, o altruísta é interpretado como instrumento. Este deslocamento cognitivo está associado à ativação disfuncional da junção temporoparietal (envolvida na empatia e teoria da mente), resultando em déficits na avaliação do outro como fim em si mesmo.

IV. Conclusão: o risco do altruísmo não reconhecido

A bondade, quando não reconhecida, transforma-se em silêncio moral. A ausência de reciprocidade simbólica promove estados afetivos de esgotamento, baixa autoestima funcional e isolamento subjetivo. O sujeito generoso deixa de agir por impulso ético e passa a responder a uma função imposta, o que, a longo prazo, promove danos emocionais, distorções identitárias e desengajamento social.

Portanto, o verdadeiro desafio contemporâneo não é gerar mais atos de bondade, mas criar sistemas simbólicos que a reconheçam, protejam e legitimem como escolha ética, e não como ferramenta de uso social.

Sobre o autor

Fabiano de Abreu

Fabiano de Abreu Rodrigues é um jornalista, psicanalista, neuropsicanalista, empresário, escritor, filósofo, poeta e especialista em neurociência cognitiva e comportamental, neuroplasticidade, psicopedagogia e psicologia positiva.

Pós PhD em Neurociências e biólogo membro das principais sociedades científicas como SFN - Society for Neuroscience nos Estados Unidos, Sigma XI, sociedade científica onde os membros precisam ser convidados e que conta com mais de 200 prêmios Nobel e a RSB - Royal Society of Biology, maior sociedade de biologia sediada no Reuno Unido.

É membro de 10 sociedades de alto QI, entre elas a Mensa, Intertel, ISPE, Triple Nine Society, coordenador Intertel Brazil, diretor internacional da IIS Society e presidente da ISI e ePiq society, todas sociedades restritas para pessoas com alto QI comprovados em testes supervisionados. Criou o primeiro relatório genético que estima a pontuação de QI através de teste de DNA e o projeto GIP - Genetic Intelligence Project com estudos genéticos e psicológicos sobre alto QI com voluntários.

Autor de mais de 50 estudos sobre inteligência, foi voluntário em testes de QI supervisionados, testes genéticos de inteligência e estudo de neuroimagem já que atingiu a pontuação máxima em mais de um teste de QI em mais de um país corroborando com os demais resultados genéticos e de neuroimagem.

Proprietário da agência de comunicação e mídia social MF Press Global, é também um correspondente e colaborador de várias revistas, sites de notícias e jornais de grande repercussão nacional e internacional.

Atualmente detém o prêmio do jornalista que mais criou personagens na história da imprensa brasileira e internacional, reconhecido por grandes nomes do jornalismo em diversos países. Como filósofo, criou um novo conceito que chamou de poemas-filosóficos para escolas do governo de Minas Gerais no Brasil.

Lançou os livros “Viver Pode Não Ser Tão Ruim”, “Como Se Tornar Uma Celebridade”, “7 Pecados Capitais Que a Filosofia Explica” no Brasil, Angola, Paraguai e Portugal. Membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo, Fabiano foi constatado com o QI percentil 99, sendo considerado um dos maiores do mundo.

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