Convivendo

Ao buscar a felicidade, cuidado para não entristecer

Escrito por Zil Camargo

A primeira expressão humana logo ao nascer se dá através do choro. Uma dinâmica biológica nos apresenta ao mundo dando como primeiro registro de sensação, a dor. Talvez seja esse registro em nosso inconsciente que faz com que passemos a vida toda buscando por motivos que nos façam sorrir.

A partir de nossos mais remotos entendimentos sobre esforço e recompensa, toda nossa energia passa a ser empenhada naquilo que nos traz prazer. A felicidade, então, se torna essa cenoura pendurada diante de nossos narizes, em uma corrida frenética de coelhos que enfrentamos ao longo de nossa existência.

A cada desejo atendido, surge uma nova necessidade e isso é reflexo da natureza agindo ao nosso favor. Convencidos de que cada conquista é a coisa mais importante do mundo, criamos coragem para lutar por elas e assim sobrevivemos.

E é imperativo que seja assim. 

A busca pela felicidade é o que nos impulsiona e nos faz seguir adiante. Quando realizamos algo que nos traz sensação de bem-estar, queremos prolongar ou repetir o evento que provocou o sentimento. Contudo, procurar a felicidade somente em eventos grandiosos e marcantes, significa negligenciar a presença dela em pequenos momentos cotidianos.

Por conta disso, muitos estão empenhando esforços demais para ser felizes e, paradoxalmente, sofrendo por causa isso.

A idealização da felicidade depositada em um objeto de desejo externo pode ser o motor propulsor que garante o engajamento necessário para conquistá-la. No entanto, os meios empregados nesse objetivo podem trazer mais tristeza do que satisfação. Isso acontece quando a energia depositada para superação de dificuldades é desproporcional ao prazer adquirido, por exemplo.

Quando sua ideia de felicidade te conduz por caminhos que você normalmente não andaria, gerando desgaste emocional em troca de uma pílula experimental de alegria muitas vezes ilusória, é melhor ficar alerta.

Não podemos esquecer que a tristeza é necessária, ela é uma resposta natural aos eventos que todos temos que atravessar e o contraponto da alegria. Sem uma, a outra não existiria. Saber lidar com ela e identificar as suas causas reais, é útil para o autoconhecimento e permite entender quais são os seus valores.

A questão, entretanto, é que aceitar a sensação de tristeza como justificativa para obter um momento de felicidade, revela um sistema de boicote difícil de corrigir. Se dar conta disso é ainda mais difícil, mas já é um passo para melhorar a rota.

Felicidade é um sentimento simples e mais presente do que muitos imaginam, no entanto, por ser uma emoção tão abstrata e subjetiva, depois do amor, talvez seja o conceito mais difícil de definir. 

Mas você sabe o que é. Ela aparece quando você sorri ao encontrar alguém querido, quando ganha um abraço de alguém que não via há muito tempo ou recebe uma notícia que faz os seus olhos brilharem. Pode se apresentar com nuances que vão desde a serenidade absoluta, até a completa euforia.

Felicidade não precisa ser um fim em si, mas uma consequência do jeito que você leva a vida. É o cotidiano de uma pessoa e a maneira como ela reage às situações mais comuns que definem seu nível de felicidade.

Você não precisa buscar pela felicidade, até porque esse termo torna as coisas meio vagas e mais difíceis de encontrar. Nem tampouco se sacrificar por ela, pois prazer e significado são seus elementos.

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Basta que esteja aberto aos pequenos sinais que a felicidade apresenta quase todos os dias. Vigilante para que suas ações não te conduzam em uma busca frustrante e dolorosa por uma compensação incerta. E, sobretudo, complacente e perspicaz para poder discernir uma coisa da outra.

Sobre o autor

Zil Camargo

Na diversidade de cada ser, é injusto com a vida, neste mar de experiência que ela concede, tentar nos definir assim, com meras palavras.

Mas dentro de mim mora alguém inspirada, sensível, às vezes curta ou grossa, ora dramática, ora objetiva.

Mãe, artesã, escritora amadora; consultora para ganhar a vida e interessada no comportamento humano.

Estudiosa de assuntos relacionados à psicanálise, filosofia e espiritualidade; uma aprendiz procurando desenvolver oportunidades em busca do bem viver.

Contato: zilcamargo@hotmail.com