Tem crescido, de forma silenciosa e contínua, o número de mulheres que decidem permanecer sozinhas. Não por amargura, nem por desistência do amor. Também não por trauma congelado. Mas por discernimento. Por uma lucidez que surge depois de muitas repetições. Após ciclos longos demais, tentando negociar presença, afeto, maturidade e compromisso com quem ainda não saiu do próprio lugar emocional.
“Boy sober”, como muitos estão chamando, é um novo estado de consciência. Um reconhecimento claro de que insistir em relações frustrantes cobra um preço alto demais. E esse preço, quase sempre, recai sobre o corpo, o sono, a produtividade e o brilho vital que deveria estar a serviço da própria mulher, e não a serviço de consertar ausências alheias.
Ser boy sober significa abrir os olhos. Cansar de oferecer profundidade a quem só sabe se mover na superfície. Perceber que, por mais que se evolua internamente, não há como sustentar uma relação sozinha. Investir energia tentando carregar dois vínculos, o da mulher adulta e o do parceiro, que ainda exige cuidados emocionais que nem reconhece, esgota quem já carrega o próprio mundo.
Não é raro esse despertar vir após anos em busca de reciprocidade. Anos de promessas que não se cumprem, conversas que giram em círculos e justificativas que só servem para adiar o que já está evidente. Há mulheres exaustas de serem as únicas conscientes da relação. E há quem esteja redescobrindo a paz de simplesmente não precisar mais disso.
A ideia de que a vida só tem valor quando partilhada pode ser bonita na teoria, mas se torna perigosa quando sustentada por dependência. A vida pode ser plena mesmo sem par romântico. O afeto encontra outras direções: amizades verdadeiras, projetos consistentes, vínculos honestos, solitude nutritiva. Muitas estão descobrindo que o que buscavam em uma relação já existe, criado por elas mesmas.
Enfim, uma mudança de critério. O medo de estar só já não é argumento. O que importa agora é a qualidade da troca. A presença real. A escuta sem defesas. A capacidade de sustentar conversas difíceis. A maturidade para estar em relação sem desaparecer de si.
Muitas cresceram acreditando que suportar tudo era prova de força. Que paciência demais era virtude. Que dar tempo a quem ainda não sabe o que quer era sinal de sabedoria. Mas o tempo mal entregue vira desperdício. Sabedoria, nesse contexto, se parece mais com saber a hora de parar. Compreender que algumas pausas salvam mais que qualquer insistência.
Ser boy sober é um tipo de autocuidado. Um pacto silencioso consigo mesma. Um basta na ideia de que é preciso aceitar pouco para merecer algo maior depois. Um lembrete de que relações não são feitas de promessas, e sim de presença. E que presença não é aparecer. É estar de verdade, mesmo quando o outro não está no melhor momento.
A solitude, antes temida, se torna abrigo. Dormir em paz sem esperar mensagem. Não precisa descobrir traições. Tomar decisões sem medo de rejeição. Fazer planos que não dependem de ajustes alheios. Essa leveza vem de dentro. E não exige comprovação pública.
O celibato, para algumas, vem como desdobramento dessa escolha. Não por repressão. Mas há uma recusa lúcida em entregar o corpo a quem não tem consciência de presença. Há um cansaço legítimo em servir de anestesia para dores mal resolvidas. E uma liberdade tranquila em não precisar mais se colocar nesse lugar.
Não é modismo. Não é mecanismo de defesa. É amadurecimento. É olhar para si com responsabilidade. E perceber que, em vez de investir na falta do outro, há muito mais a ganhar investindo em si.
Nessa escolha existe espaço. Espaço para respirar. Para criar. Para cuidar do que realmente importa. E para perceber que, entre viver para agradar alguém e viver com leveza, a segunda opção é a que fortalece.
Você também pode gostar
Há mulheres inteiras reaprendendo a não insistir. A não implorar por migalhas. A não tolerar relações que se sustentam em jogos. E há, nesse movimento, uma nova forma de amor. Um amor que começa em casa. No próprio corpo. Na própria história. Na própria presença.
Algumas chamam de solitude. Outras de paz. E outras apenas vivem. Porque chega uma hora em que o que mais cura não é ser amada por alguém. É não precisar mais lutar para ser vista.