Educação

Homeschooling no Brasil: como funciona e o que pode mudar após a pandemia

Mãe tentando ajudar o filho em estudo online
Onjira Leibe / Shutterstock
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Homeschooling no Brasil é um assunto que tem sido muito debatido nos últimos tempos, desde quando a pandemia impôs o isolamento social. Nesse cenário, as crianças precisaram estudar sem sair de casa, e essa necessidade trouxe importantes reflexões sobre o tema.

Entretanto a maioria das pessoas ainda tem dúvidas sobre o tema. Afinal, foi aprovado o homeschooling no Brasil? Por que essa prática seria proibida, e no que ela consiste? Quantas pessoas praticam homeschooling no Brasil? Para se aprofundar nessa discussão, leia atentamente o conteúdo que preparamos.

O que é homeschooling?

Homeschooling é um termo em inglês que, traduzido para o português, significa “educação escolar em casa”. Ou seja, em vez de ir até a escola para aprender diferentes conteúdos, um jovem poderia ser educado dessa maneira dentro de casa, pelos próprios familiares ou por professores particulares.

De acordo com a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), por meio do homeschooling os familiares podem desenvolver uma educação personalizada para os jovens, explorando as habilidades deles, em um ambiente seguro e confortável. Saiba mais sobre essa prática, a seguir.

Homeschooling e suas práticas

A educação domiciliar apresenta uma dinâmica própria, que não é a que costumamos ver nos ambientes de ensino tradicionais. Em primeiro lugar, como dito anteriormente, os conteúdos são transmitidos para os jovens dentro de casa, com a orientação de familiares ou de professores particulares.

Nesse contexto, as aulas costumam ser interativas, dinâmicas e multimídia, permitindo que os estudantes tenham acesso a vídeos, livros, sites, aplicativos e material didático. Evidentemente eles sempre são orientados por quem os está ensinando sobre o que devem pesquisar e no que se aprofundar.

Criança escrevendo "homeschooling" em uma lousa
Elizaveta Galitckaia / Shutterstock

Inclusive uma característica fundamental do homeschooling é a supervisão dos familiares durante as aulas, ainda que elas sejam oferecidas por professores particulares. Por esse motivo, é comum que os horários das aulas sejam ajustados à disponibilidade dos familiares para essa função.

Outra característica do ensino domiciliar é a ausência de avaliações, em muitos casos. Para os praticantes do método, aprender se torna mais prazeroso quando não há uma cobrança excessiva por boas notas, e quando o conteúdo não precisa ser memorizado. Com base no homeschooling, seria mais importante garantir que o jovem tenha aprendido uma matéria, e não apenas a memorizado para um exame.

Finalmente, ainda que a proposta da educação em casa seja manter os estudantes nos próprios lares, isso não significa que eles não possam frequentar outros lugares durante o aprendizado. Com o acompanhamento dos familiares, os estudantes podem visitar museus, teatros, cinemas, praças e locais históricos.

Além disso, algumas famílias que praticam o homeschooling podem marcar encontros entre os filhos, para que eles troquem experiências sobre essa maneira de aprender e de ensinar. No próximo tópico, você vai descobrir como essa prática ocorre no Brasil.

Como o homeschooling chegou ao Brasil?

Cerca de 15 mil estudantes entre 4 e 17 anos praticam o homeschooling no Brasil, de acordo com uma estimativa da ANED realizada em 2016. Mas como esse método de ensino começou no país?

Antes de responder a essa questão, vamos entender qual é a origem do homeschooling. Desde antes do século 20, membros da elite de diversos países costumavam dar aulas aos filhos em casa. No entanto, o método só se tornou popular a partir de 1970, nos Estados Unidos.

Desde então, o homeschooling foi adotado como método legal em 63 países. Na maioria deles, os estudantes devem realizar uma avaliação anual, para verificar se estão sendo educados adequadamente. Porém, em outros países, a prática é ilegal. Na Alemanha e na Suécia, por exemplo, a educação domiciliar é crime.

No Brasil, a ideia do homeschooling se popularizou por meio de pregações de pastores sobre o tema, que incentivaram essa forma de educar. Com o passar do tempo, principalmente durante a pandemia, as mobilizações para que a prática fosse legalizada se tornaram mais frequentes.

Isso porque, de acordo com a Constituição Federal, a educação básica é gratuita e obrigatória, e todas as pessoas de 4 a 17 anos devem frequentar o ambiente escolar. Com o homeschooling, essa determinação não seria cumprida e, portanto, a prática seria ilegal.

Apesar disso, em dezembro de 2020, o governador Ibaneis Rocha sancionou a lei que torna o homeschooling legalizado em Brasília. No restante do país, o ensino domiciliar permanece ilegal, mas essa realidade ainda pode mudar. Nos próximos tópicos, entenda o que levou a essa possível mudança de mentalidades.

Homeschooling e a pandemia

Durante a pandemia, para manter o isolamento social e controlar a disseminação da Covid-19, o ambiente físico das escolas foi fechado. Então, para que os jovens continuassem estudando, foram oferecidas aulas online, à distância.

Sendo assim, os professores continuavam sendo responsáveis pela educação formal dos alunos. Os familiares poderiam acompanhar as atividades, mas não definiam o que os jovens iriam aprender ou estudar.

Portanto a experiência de ensino que o Brasil viveu durante a pandemia não pode ser considerada como homeschooling, tampouco ensino domiciliar. Mesmo assim, as famílias puderam se deparar com um dos desafios desse tipo de educação, que é a falta de socialização entre os jovens.

Dessa maneira, podemos refletir sobre o que a pandemia nos ensinou sobre o homeschooling: como fazer crianças e adolescentes se desenvolverem plenamente sem o contato com outras pessoas da mesma idade? Como garantir que eles estão aprendendo o conteúdo exigido? Como combater as desigualdades na educação? Continue pensando sobre isso, a seguir.

Quais são os aprendizados do homeschooling durante a pandemia?

Mais uma vez, é fundamental ressaltar que a experiência do ensino a distância, que ocorreu durante a pandemia, não é a mesma experiência do homeschooling. No primeiro caso, os responsáveis pela educação são os professores de uma instituição de ensino; no segundo caso, são os familiares ou professores particulares do jovem.

1) Disponibilidade dos familiares

Tendo isso em mente, podemos ponderar sobre os aprendizados do homeschooling durante a pandemia. O primeiro deles diz respeito à disponibilidade dos familiares para acompanhar a educação formal diária dos filhos. Como a maioria dos pais e das mães começou a trabalhar na modalidade home office, foi necessário dividir as atenções entre os jovens, o trabalho e os cuidados com a casa.

Mãe ajudando filho nos estudos online
Fabio Principe / Shutterstock

Por outro lado, os familiares que continuaram se locomovendo até o trabalho tiveram que contratar pessoas para ficarem com os filhos durante o dia, incluindo o período de aulas. Ou seja, se eles fossem responsáveis pela educação dos jovens, estariam indisponíveis. E, mesmo que recorressem a professores particulares, não poderiam acompanhar as aulas.

Portanto, se o homeschooling fosse colocado em prática por essas famílias, elas teriam que reajustar as próprias agendas e funções no mercado de trabalho, para que estivessem disponíveis para proporcionar uma boa educação aos filhos.

2) Capacitação dos familiares

Também é preciso considerar, na relação dos familiares com o ensino a distância, que nem todos eles estavam preparados para tirar as dúvidas dos jovens com os conteúdos que aprendiam durante a pandemia. Afinal, a maioria dos pais e das mães não têm uma formação acadêmica voltada para a educação, ou para as matérias ensinadas nas escolas.

Isso significa que o homeschooling não pode ser praticado por qualquer pessoa. É preciso que haja didática, paciência e conhecimento para transmitir diversos conteúdos aos jovens, e, em muitos casos, essas qualidades só são adquiridas por meio de uma formação profissional, que é o que qualifica os professores.

3) Dispersão de atenção

Em relação aos alunos que tiveram o ensino à distância, manter a atenção nas aulas tornou-se um processo ainda mais desafiador. Com uma série de estímulos ao redor deles, provenientes do próprio computador por onde as aulas aconteciam, ou do próprio celular, alguns estudantes tiveram que se esforçar em dobro para manter a disciplina.

Crianças distraídas com estudo caseiro
FamVeld / Shutterstock

Será que os familiares que adotassem o homeschooling conseguiriam diferenciar o contexto do lar, associado ao relaxamento e ao lazer, do contexto do ensino, que deve incluir foco, concentração e comprometimento? Em qual medida o ambiente doméstico pode ser dissociado do ambiente de ensino? São questões para nos fazer pensar.

4) Ausência de socialização

Um ponto fundamental decorrente do ensino a distância na pandemia foi a ausência de socialização entre os estudantes. Os jovens não vão à escola apenas para aprender, mas para trocar experiências, conversar e amadurecer como indivíduos. Sem esse contato com outras pessoas além do círculo familiar, a compreensão sobre a vida em sociedade pode ter sido limitada.

No caso do homeschooling, mesmo que os familiares que praticam o método organizassem encontros entre os filhos, o contato seria bem mais reduzido do que aquele que ocorre em uma escola. Talvez fosse difícil para os jovens construírem e manterem amizades, e a solidão poderia se manifestar facilmente, sem que crianças e adolescentes tivessem alguém com quem conversar sobre isso.

Como pode ficar o homeschooling após a pandemia?

Com base nas principais lições que a pandemia trouxe sobre possíveis desafios do homeschooling, podemos entender melhor sobre essa prática, além de nos preparar adequadamente para ela.

Antes dessa experiência, muitas famílias poderiam imaginar que o ensino domiciliar é mais cômodo, por não exigir deslocamento ou gastos com a escola, mas é preciso considerar vários fatores antes de se dedicar a ele.

Então, ao mesmo tempo em que a pandemia trouxe luz ao debate do ensino domiciliar, fazendo com que mais famílias conhecessem essa modalidade, também evidenciou os desafios de educar os próprios filhos em casa. Será que isso é suficiente para nos prepararmos? Pondere sobre isso, a seguir.

Estamos preparados para o homeschooling no Brasil?

Com os mais recentes debates sobre o homeschooling no Senado, para tornar legal essa prática no Brasil, inúmeros setores da população estão analisando se as famílias brasileiras realmente deveriam adotar esse método de ensino.

Em 1º de junho de 2021, Ítalo Dutra, chefe de educação do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no Brasil, declarou: “Transferir exclusivamente para a família o processo de aprendizagem traz prejuízos importantes para crianças e adolescentes. Isso porque a escola é fundamental para garantir o direito à aprendizagem, à socialização e à pluralidade de ideias, além de ser um espaço essencial de proteção de meninas e meninos contra a violência”.

Com essa declaração, podemos compreender alguns dos pontos que estão sendo questionados sobre esse tema, no processo de aprovação do homeschooling no Brasil. O primeiro deles é a qualificação dos familiares para ensinar os jovens, já que eles não estudaram para isso, necessariamente.

Outro ponto sobre esse tema é que o contato com outros estudantes garante que os jovens conheçam novas perspectivas sobre o mundo e desenvolvam maneiras diferentes de pensar. Se eles aprenderem algo apenas baseados na visão de mundo dos próprios pais, podem ter essa pluralidade limitada.

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Por fim, as disparidades na realidade socioeconômica do Brasil são uma preocupação. Nas famílias de baixa renda, os jovens costumam ir à escola não só para aprenderem, mas também para se alimentarem. Além disso, os professores são capazes de identificar situações de violência doméstica por meio do contato com os alunos, em muitos casos.

Então ainda é preciso se aprofundar em muitas questões para determinar se estamos prontos para o homeschooling no Brasil. Mas o que você acha? Será que o ensino domiciliar pode reduzir as diferenças entre os estudantes ou vai torná-las ainda mais evidentes? Continue pesquisando sobre o assunto!

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