Energia em Equilíbrio Yoga

Liberdade do desejo, desejo da liberdade

Escrito por Pedro Kupfer

Você consegue se privar do desejo de algo? Às vezes, voluntariamente, conseguimos nos privar, e desejos que não são satisfeitos podem perder a força com o tempo.  Pensando desta forma, será que temos escolha sobre os desejos? Afinal, eles parecem surgir mesmo que não queiramos. E desejos que se manifestam são iguais a satisfações ausentes.

Você deve estar pensando: “Mas eu tenho livre-arbítrio e consigo reprimir meus desejos”, mas não é tão simples assim. Reprimir os desejos é algo inútil, pois eles ficam mais fortes. No entanto, nunca conseguiremos satisfazer todos os nossos desejos.

Quão grande é a sua lista de vontades a serem realizadas?

Desejos e vontades surgem a todo instante e desta mesma forma, se multiplicam, como um fogo que consome tudo que estiver a sua volta. Como num ciclo sem fim, um desejo é substituído por outro.

Como já discutimos anteriormente, satisfazer os seus desejos não é garantia de felicidade. Talvez você possa trabalhar para realizar um desejo e, ao concluí-lo, perceber que não era nada daquilo que queria de verdade. Assim, esperar ter a felicidade depois de realizar um desejo, é cometer um ato suicida.

Então, como lidar de fato com os desejos? O ato de desejar faz parte da psique humana, pois é o que nos define como pessoas e indivíduos, configurando nossa personalidade. Pensando desta forma, deixamos de ver o desejo como um problema, pois de fato é um privilégio poder desejar.

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Conseguir desejar é sinal de ter saúde mental! O problema não está no desejo. O problema está em acreditar que na realização dos desejos é que a felicidade se encontra.

Você já percebeu que em alguns momentos, você não realiza nenhuma vontade, mas mesmo assim, sente-se feliz e pleno? São essas situações que nos mostram que, talvez, a felicidade não esteja conectada a realização das coisas. Lembre-se dos seus momentos de felicidade na infância e na juventude. Nós sempre tivemos momentos de felicidade ao longo da vida.

De tal forma, temos duas ordens de realidade. Em um lado temos uma série de desejos não realizados. E do outro lado momentos, que sempre voltam ao longo da vida, cheios de felicidade.

Quando conseguimos compreender isso, percebemos que não há nada que possamos fazer em relação aos desejos. O primeiro passo para se libertar da frustração que deriva da não realização dos desejos é aceitá-los como algo natural da condição humana, fazendo parte da ordem psicológica. O segundo passo é compreender que a felicidade não está na realização desses desejos, mesmo que não haja nada de errado em desejar.

Pensando no ciclo infinito de desejos deve então existir um desejo definitivo, que não será superado por nenhum outro. O desejo que põe fim em todos os desejos, que é o desejo de se libertar da influência do sofrimento que provém dos desejos.

Este é de fato o objetivo do Yoga e chamamos isso de liberdade.

A falta de conhecimento da ordem das coisas é resultado do apego e da identificação com aquilo que acreditamos ser nosso juntamente com a tristeza que provém da perda. Neste sentido, Yoga é se desligar da tristeza e das demais formas de sofrimento a fim de compreender o que somos. A união como que se é e a separação daquilo que não se é, estes conceitos são o verdadeiro sentido do Yoga.

É impossível separar-se de sua própria natureza, de tal forma que se a tristeza fizesse parte mesmo daquilo que se é, seria impossível desistir dela. E, no entanto, ninguém quer se ver longe da felicidade, ou da alegria. Isso acontece porque no nosso interior sabemos que a tristeza é algo que foge à nossa natureza, e que a felicidade não, ela sim faz parte daquilo que somos naturalmente.

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Existe uma técnica que nos ajuda a livrarmo-nos das influências que as limitações têm sobre nós. Ela consiste em apreciar de forma objetiva e com desapego a justiça e a perfeição que existe na lei da natureza, da qual também pertence a psique humana, bem como tudo que é inerente à ela.

Quando olhamos para a pessoa amada, ou então para o horizonte, para o mar, em nós evoca-se a pessoa satisfeita. Quando temos um momento em que nos sentimentos plenos, é preciso perceber que ele não veio da pessoa ou objeto à nossa frente, nem é referente à realização de um desejo, mas sim temos a plenitude revelada a nós. Ou seja, ela já estava conosco, sempre esteve presente e sempre estará, pois ela é o que nós somos.

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Já somos toda a felicidade que procuramos. As limitações presentes no corpo e mente pertencem unicamente a eles, não sendo nossas, já que o Eu não possui nada, de nenhum tipo. O Eu apenas o é. No Yoga o ensinamento essencial é o entendimento profundo de que o ser individual é idêntico ao Ser limitado. Quando apreciamos esta verdade, vivemos uma vida tranquila, mesmo com as inevitáveis dificuldades e desafios que vêm de qualquer existência.

Então, você consegue aceitar que, em uma ordem maior, existe uma razão para tudo? Você consegue compreende que nada no mundo, nem mesmo o mundo, existe para realizar os seus desejos pessoais?

Pense nisso.

Namaste!

Sobre o autor

Pedro Kupfer

Pedro vive de vegetais, praia e surf. É casado com Ângela Sundari, com quem viaja com frequência para surfar, estudar, ensinar e compartilhar momentos bons com os seres humanos, plantas e animais deste belo planeta. Ensina Yoga há 30 anos. Move-se entre Portugal, Brasil, Índia, Indonésia e Chile, lugares que ama por diferentes motivos, sendo o mais importante de todos, as pessoas que conhece neles.

Oṁ Gaṁ Gaṇapataye namaḥ!

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