Saúde Mental

O que é a ansiedade do retorno ao normal?

Mulher asiática em uma estação de metrô com máscara.
Ann Rodchua / Shutterstock
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Com as idas e vindas de momentos mais dramáticos da Covid-19, passamos a falar sobre o novo normal: máscaras em todos os lugares, sem aglomerações, saídas de casa reduzidas, álcool em gel sempre na mão. Porém, com a pandemia aparentemente chegando ao fim, a volta ao verdadeiro normal, aquele de antes, parece cada vez mais iminente.

Enquanto, para muita gente, o retorno à vida de antes é algo que causa expectativa e uma ansiedade muito gostosa, para outras pessoas, pensar nisso tem sido um verdadeiro pesadelo que causa aquela ansiedade ruim, do pior tipo possível. Nesse contexto, surgiu uma espécie de transtorno que está sendo bastante relatado em consultórios de Psicologia: a ansiedade do retorno ao normal.

O que é a ansiedade do retorno ao normal?

Para muitas pessoas, sejam as mais introspectivas ou aquelas que se beneficiariam, de alguma forma, com o isolamento social, retornar à vida como ela era antes da pandemia é um pensamento que gera medo, receio, ansiedade e temor. Não é que essas pessoas queiram que a pandemia não acabe, elas só querem alguns dos benefícios que o isolamento social trouxe.

As consequências dessa ansiedade de retorno ao normal são diversas e variam de caso para caso, assim como problemas como depressão e síndrome do pânico. Algumas pessoas têm crise de ansiedade só de pensar em transporte público lotado, aglomerações, escritórios, happy hour, e por aí vai.

Para explorar um pouco a diversidade da ansiedade do retorno ao normal, vamos entender alguns tipos de pessoas que estão sofrendo com isso e por que esse problema tem acontecido com muita gente.

Mais presença

A verdade é que, para muitas pessoas, o isolamento social e o ritmo de vida reduzido foi um verdadeiro respiro de uma rotina agitada, cheia de demandas e responsabilidades. Por isso é que essa redução foi boa! Quantas pessoas não conseguiram dar mais atenção ao parceiro, aos filhos e a outros familiares por estarem mais presentes em casa?

Pessoas em um salão conversando.
Antenna / Unsplash

Quantas pessoas não conseguiram investir em hobbies e em planos que tinham feito havia muito tempo, mas para os quais nunca sobrava tempo porque surgiam compromissos demais, rolês demais, coisas demais para viver lá fora? Por isso, essa pausa foi bem-vinda para muitos.

Pressão por interação

Para algumas pessoas mais extrovertidas, sair de casa e estar cercado de gente num ambiente cheio e com música alta, por exemplo, é o momento mais gostoso e agradável da semana. Porém, para outras pessoas, pensar nisso aí já é sofrer por antecipação.

E a verdade é que, nos tempos em que vivemos, de compartilhar tudo nas redes sociais, abrir o Instagram e ver um momento de gente postando Stories com fotos em lugares legais faz com que nos sintamos mal por preferirmos estar em casa, vivendo a vida com mais calma e tranquilidade.

Então o isolamento social foi o pretexto ideal para algumas pessoas dizerem “não” para muitos compromissos, para que pudessem viver mais consigo, mais com sua intimidade, para parar de sucumbir a essa pressão de socializar o tempo todo, de estar cercado de gente o tempo todo.

Rotina de trabalho exaustiva

Muitas pessoas tiveram a felicidade de conhecer os benefícios (e os malefícios, é claro) do trabalho em home office. Então muita gente está morrendo de medo de que, com o fim da pandemia, trabalhar presencialmente seja novamente necessário.

Os benefícios do home office foram sentidos especialmente por aqueles que são muito introvertidos e não se dão bem em ambiente de trabalho, por aqueles que passam muito tempo no transporte público a caminho do trabalho e também por aqueles que puderam se mudar e viver em lugares com um ritmo de vida mais agradável.

Mulher sentada em uma mesa de home office mexendo em um notebook.
Surface / Unsplash

Além disso, muita gente percebeu o quanto gosta de estar em casa, passando mais tempo com os pets e as pessoas amadas. Então é compreensível que muitas dessas pessoas estejam se sentindo bastante ansiosas com a ideia de retornar ao trabalho presencial.

A doença ainda está à solta

E a Covid-19, ainda que esteja sendo transmitida ou afetando gravemente menos pessoas do que no início da pandemia, ainda está à solta. Então o medo e a ansiedade do retorno ao normal também inclui todos os receios de pegar a doença — ou de ver uma das pessoas amadas ficar doente.

Com o fim de imposições, como o uso de máscaras, a ansiedade só tem aumentado, porque muitos se sentem inseguros de abrir mão dela. Ou seja, conviver por aí ao lado de pessoas que evitam o ouso de máscara e de outras precauções pode ser bastante assustador causar muita ansiedade em algumas pessoas.

Sensação de segurança

A verdade é que, quando veio o medo de sair de casa e pegar a doença, muitos passaram a ver suas próprias casas como o único ambiente em que estariam seguros e longe da possibilidade de serem contaminados e acabarem numa UTI.

Então abrir mão desse espaço que traz essa grande sensação de segurança é algo que naturalmente causa bastante ansiedade e medo. Pois ser forçado a sair cada vez mais é se expor a esse ambiente, o mundo lá fora, que aprendemos a temer tanto por causa das notícias e dos casos de pessoas próximas que se infectaram e até mesmo morreram.

Mais empatia

Então, se você é uma das pessoas que está muito feliz por ter de volta a sua liberdade de sair por aí tranquilamente, tome cuidado ao julgar as pessoas que estão se sentindo o oposto por causa disso. Tenha mais empatia.

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Nossa personalidade, nossa experiência com a pandemia, o fato de termos perdido pessoas queridas ou estarmos sofrendo com sequelas da doença, entre muitos outros fatores, afetam o modo como estamos encarando o retorno à normalidade. Por essa razão, prefira sempre ser cauteloso ao falar sobre isso com qualquer pessoa.

Está difícil? Procure ajuda

Se você está sentindo dificuldade de se adaptar a esse retorno à normalidade, talvez seja preciso pedir ajuda. Marque uma consulta com um profissional de Psicologia, exponha seus medos, procure entender de onde eles vêm e de que forma eles podem ser combatidos, ou como conviver com eles.

E, acima de tudo, respeite os seus limites. Não é porque a vida vai ser parecida com o que era antes que você também precisa ser. Se você sente que deve se respeitar, mudar seu estilo de vida ou manter a rotina do isolamento social, simplesmente mantenha. Só você sabe o que é melhor para si.

Enfim, o retorno à vida normal pós-pandemia pode ser um verdadeiro tormento psicológico para muitas pessoas que sofreram durante o período pandêmico ou que se beneficiaram da rotina que o isolamento social trouxe. Então se respeite, entenda o que é melhor para você e procure ajuda profissional se a ansiedade estiver intensa demais.

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