Quando saí de um relacionamento tóxico há alguns meses, sabia o que viria pela frente. Sabia que não seria fácil. Que algumas partes minhas tinham se quebrado, sido perdidas ou nem mesmo eu me lembrava mais delas. Algumas não, saíram intactas, mas eu precisaria ressignificá-las e reconstruí-las da mesma maneira. O meu império interior tinha sofrido uma baixa e precisava de reformas.
Essa foi uma reforma íntima, muito íntima. Daquelas que só você e seu terapeuta conhecem. Aqueles medos, frustrações e energias que não fazem sentido fora de determinados contextos. Aquele resgate de uma autoestima que eu jurava que tinha sido perdida pelos quilos extras — mas que, depois descobri, tinham somente sido mais um sintoma. O sintoma de não se sentir amada, ser rejeitada constantemente e sentir que aquilo nunca teria fim. Mas teve.
Não sei dizer como acabou. Meses pensando em como fazer isso, meses procrastinando porque sabia, justamente, o que viria pela frente. Um dia, algo dentro da gente simplesmente decide e vai. E foi. E fim.
Muito choro e reconstrução depois eu tenho um sonho, na noite passada. Nele, esse ex aparece num ferro velho, completamente nu (mas sem nenhum contexto erótico). Ele me olhou com uma ternura incrível e se seguiu o diálogo abaixo:
Ele: Me desculpa, eu não consegui.
Eu: Não conseguiu me amar?
Ele acena que sim com a cabeça e me dá um abraço terno. Eu tento, depois de alguns minutos, sair do abraço. Mas ele somente se aninha do outro lado e continua. Eu entendo que ele ainda precisa de mais um pouco.
Ele: Eu não consigo amar. Nem você e nunca ninguém.
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Ele some e reaparece do outro lado da sala, ainda nu e mais gordo do que de costume.
Ele: Mas saiba que você foi a que chegou mais perto.
O perdão em um sonho. E sei, sinto, tenho certeza de que o processo carmático foi completo. Eu ainda tenho algumas curas (os quilos extras pararam de subir, mas ainda não voltaram ao normal, entre outras pequenas coisas). Mas sei que sigo livre e liberta. Reconstruída. Refeita. Falando aos quatro ventos: “Sim, é possível”.