Convivendo

Rótulos sociais

Figuras de quatro pessoas sobre blocos de madeira.
Foto: 123RF/Hyejin Kang
Escrito por Anne Moon

Por Anne Moon. São Paulo, 06 de janeiro de 2020

Quem nunca recebeu rótulos sociais? Na sociedade em que vivemos, temos essa necessidade de nomear as coisas, pois quando as nomeamos, passamos a ter controle sobre elas.

Percebam que quando desconhecemos algo, temos medo, pois de certa forma isso tem um controle sobre nós, mas quando passamos a conhecer, exercemos controle, perdemos o medo.

É a mesma coisa com os rótulos. Temos a necessidade de rotular pessoas e coisas, pois, como falei, é dando nome que passamos a exercer controle. É algo muito inconsciente, e foi assim que a sociedade progrediu e evoluiu.

Por isso essa necessidade de nomear as coisas, até mesmo aqueles rótulos que já conhecemos.

“Burro”; “inteligente”; “puritana”; “vulgar”; “arrogante”; “humilde”.

E disso para pior, muito pior, que não cabe aqui nesse espaço — o público do site “Eu Sem Fronteiras”. Mas deu para entender o que eu queria dizer, né?

Enfim, quando nos dão algum rótulo, ficamos bravos, com vontade de xingar a pessoa, de reagir, não é verdade?

Só que, antes de julgarmos ela, de reagirmos, temos que ser mais racionais e empáticos, pois, às vezes, nem é propositalmente, por maldade, mas já é automático. Como falei, fazemos sem saber.

Mas as que fazem isso realmente por maldade, também não podemos já reagir de primeira, se irritar a ponto de não conseguir refletir as próprias ações, de não poder tomar decisões por conta própria, não poder racionalizar sobre o que está acontecendo e não “meter os pés pelas mãos”, agir com impulsividade. Claro, como sempre falo, não é ser passivo e permissivo com esses tipos de atitudes. É não validar, seja sendo indiferente, escolhendo se calar ou agir ativamente contra, “freando” a pessoa. Pois, sim, tem pessoas que rotulam as outras tendo consciência do que estão fazendo e projetam nas outras o que elas mesmas veem dentro de si. Aí é muito mais fácil projetar externamente algo em nós que não é legal do que dar de cara e lidar com as nossas questões pessoais. Mais um motivo para ser bem razoável na hora de agir.

Grupo de pessoas de diferentes idades, cores e etnias em pé, em frente a um quadro negro.
Foto de fauxels no Pexels

Nosso tempo é valioso demais para ser perdido com coisa que não vale a pena, Leandro Karnal já disse isso em uma palestra. Se é verdadeiro esse rótulo, por que se irritar com ele, reagir e rebater? Se é mentiroso esse rótulo, por que se irritar com ele?

Claro que você pode agir, tomar uma atitude. O silêncio pode ser uma ação. É mágico, traz respostas, te permite estar centrado no que está a sua frente. Quem medita sabe do que estou falando. Mas também quando você silencia, é uma resposta sendo dada também, não há continuidade.

Claro que nessas situações em que estamos sendo rotulados, às vezes vai ser necessário dar uma resposta propriamente dita e direta.

Primeiramente, não leve nada para o lado pessoal, isso já alivia boa parte da tensão do momento e o permite racionalizar. Essa é uma observação que a pessoa fez sobre você, não é a verdade absoluta e pode até ser que ela esteja projetando externamente algo que ela vê em si mesma, que ainda não lidou. De qualquer forma, ela fala dela mesma.

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Quando uma pessoa rotula a outra, ela fala basicamente dela própria, algo que vê nela mesma e, como foi dito no início do artigo, existe essa necessidade de nomear, rotular coisas e pessoas para ter um poder sobre, exercer um controle, pelo medo do desconhecido, do que ainda não é controlado.

Por isso, a melhor forma de sair dessa situação é desarmar a pessoa, se lembrando das regras da comunicação. Na comunicação existem duas chamadas “faces da comunicação”, a face social e a face pessoal, que se trata de como a imagem da pessoa vai ser afetada diante de outras pessoas e como a imagem dela mesma fica, deve ser preservada, e vice-versa. Ou seja, não ter falas ou atitudes que prejudiquem a outra pessoa e nem a si mesmo. Buda até falou sobre isso nos sutras, para não termos atitudes inadequadas conosco e com o próximo.

A melhor forma de lidar com isso, além do silêncio ou uma resposta propriamente dita, é dar uma resposta bem-humorada. Assim você se preserva, preserva a outra pessoa e ainda alivia o momento. Claro que se o outro se irritar com a resposta humorada, aí isso tem muito a ver com ela mesma, você não tem controle sobre a reação dos outros, mas pode controlar como vai reagir nas situações da vida.

Sempre deve colocar em mente a origem desse hábito de rotular e que não se trata de você e sim dela mesma, nem sempre é algo pessoal. Quase nunca é algo pessoal. O ego nos faz pensar que tudo e todos conspiram contra, achando que tudo é sobre nós.

Foto de um homem sentado à mesa, sozinho, apoiando a cabeça em sua mão.
Foto de Andrew Neel no Pexels

Quando reagimos, estamos dando o poder para o outro, sendo esse exatamente o objetivo dos rótulos.

Como falei, não é para nos atacar diretamente, mas existe algo bem inerente na sociedade, quem tem mais poder, dita as regras. Isso acontece também no mundo dos animais. Os mais fortes e poderosos prevalecem sobre os mais fracos.

Os mais fortes lideram e os mais fracos buscam uma liderança. Percebam que nos inspiramos e somos influenciados por quem vemos como líderes, inconscientemente vamos seguir aqueles aos quais vemos que são fortes, pois são neles que confiamos.

Liderança e força aqui não se trata de autoritarismo e imposição física sobre os outros. Se trata de ser uma autoridade, ser confiante, influente e eloquente.

Isso é algo que já é natural. Quando você é uma autoridade em um determinado assunto, tem propriedade no que fala, age com confiança, tem uma boa comunicação, tanto em sua fala quanto em seu comportamento, exerce influência. As pessoas vão comprar todas as ideias que você vender a elas porque vêm de você.

Grupo de pessoas em reunião de trabalho enquanto uma mulher, em pé e com as mãos na cintura, lidera-o.
Foto de Rebrand Cities no Pexels

Todos os seres vivos sentem a necessidade de liderança, é assim que se mantém uma sociedade, tanto que em qualquer governo, há aquele governante do maior cargo que vai representar uma população. No caso de uma república democrática presidencialista, elegemos um presidente que, segundo nossos conceitos, vai nos liderar, nos representar.

Mas esse assunto de poder vai ficar para um próximo artigo.

Trouxe uma versão bem simplificada sobre poder, pois na vida há sempre um jogo de poder, daí vem a necessidade de nomear e rotular coisas. Quando não conhecemos algo, ele tem um poder sobre nós e esse jogo vira quando passamos a conhecê-lo. Conhecimento é poder e o que tem mais poder, se sobressai.

Isso vem de milênios, está enraizado em nós. Concordando com isso ou não, é assim que ela vem sido formada. Nós temos essa necessidade de exercer controle sobre os outros, por ser algo já instintivo de que se deve ter o mais forte no controle e a necessidade de termos alguém nos liderando, seja uma influência para nossas decisões, a quem nos moldamos, quem nos inspira.

Sobre o autor

Anne Moon

Anne Moon é uma escritora graduada em letras que nasceu e mora em São Paulo com seus pais e com o irmão mais velho. Desde criança adora escrever e contar histórias. Antes dos 10 anos já havia escrito duas histórias de ficção e uma biografia, e aos 14 anos começou a escrever o primeiro volume, “The Rise of the Fallen”, da série de livros “Dark Wings”

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