Autoconhecimento Significado dos sonhos

Sonhos em análise

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Escrito por Deva Layo Al-N-Dara

Neste artigo, exploramos como os sonhos e suas trilhas sonoras podem nos conectar com mensagens profundas da psique, usando a música ‘Kiss from a Rose’, de Seal, como guia.

Você já teve um sonho com trilha sonora?

Pois bem, o tema de hoje é exatamente esse. E com a deliciosa música “Kiss from a Rose”, do Seal. Interessante é observar os movimentos da psique e os sinais que ela nos envia, em especial através dos sonhos e dessas “trilhas sonoras”.

Neste texto, eu gostaria de considerar algumas ideias e possibilidades como respostas elucidativas para o feminino, partindo de uma instância interna da mulher: o Animus. Essa jornada começa pela compreensão de como o Animus**, figura masculina interna da mulher, se manifesta em sonhos e suas interações com o feminino

O Animus corresponde às figuras masculinas internas da mulher, que se apresentam nos sonhos femininos. Quando uma mulher sonha com essas figuras masculinas, por exemplo, significa que a ela está se comunicando com essa instância interna, que se projeta fora de seus sonhos, constelando-se em sua vida real através das figuras masculinas que os homens representam para ela como figura feminina, em geral:

  • Meninos (Animus infantil);
  • Jovens galanteadores e apaixonados por ela (Animus puer, irresponsável ou sedutor embusteiro);
  • Adulto (Animus maduro, podendo ser uma imagem representativa de uma instância mais sagrada);
  • Ou velho (o velho sábio ou o senex, o rabujento, o interditador, a figura de autoridade).

Este Animus pode se constelar sob a forma de um filho, de um homem, de um membro masculino da família, como um irmão, um chefe, mas, em geral, o primeiro contato com o Animus que a mulher tem é com alguém que represente a imago paterna.

Geralmente, os sonhos trabalham em sincronia com um determinado grupo, podem se sincronizar com pessoas que trabalham na mesma empresa, no grupo familiar ou em qualquer outra forma de grupo social. Isso significa que os sonhos são o resultado de uma mensagem que a psique coletiva está engendrando para determinado grupo, sendo que, além dos ajustes coletivos, o sonho individual de cada membro será reflexo dos ajustes individuais que ele ou ela em particular sonhou, uma vez que os sonhos são um função reguladora da psique humana.

Logo, temos circunstâncias, no caso da mulher, em que o Animus pode se apresentar para um grupo feminino a fim de comunicar algum símbolo, que será traduzido por esse grupo e por cada mulher em particular: como uma necessidade de tomar aspectos em si mesma, uma missão heroica feminina para se harmonizar com as circunstâncias apresentadas por esse Animus do sonho. E cada sonho em particular vai comunicar também, às outras, aspectos que elas não perceberam ou que não lhes foram apresentados em seus sonhos pessoais.

Neste texto, eu compartilho uma resposta de um “Animus considerador” que deseja se comunicar com sua *Anima. Ele deseja lhe enviar uma mensagem, lhe dizer algo muito importante: ele existe. E está ativo, procurando por ela dentro dela.

Essa percepção chegou-me através de uma cliente que relatou uma sequência de sonhos interligados, como se um fosse continuação do capítulo anterior, porém, nesta sequência de artigos separada em quatro partes, compartilho apenas a conclusão, para tornar mais fácil nossa análise comparativa, quando abordamos a questão da diferenciação feminina do Animus atávico (o desconsiderador, o infantil, o “Barba Azul” ou o “Puer”), muito presente no inconsciente feminino atual, onde filmes como 50 Tons de Cinza fazem sucesso e tornam “normal” a desconsideração do masculino: nascemos e vivemos em uma sociedade patriarcal com “alguns parâmetros” matrifocais, mas as questões de equidade nas relações não mudam muito.

O beijo de uma rosa – Na vida real e na música

A música ‘Kiss from a Rose’ nos oferece uma rica metáfora para explorar os simbolismos oníricos do Animus** e seu diálogo com a Anima.

Acredito que todos conheçam aquele momento em que, dentro do próprio sonho, ou quando estamos prestes a acordar definitivamente, ou mesmo quando estamos entre a vigília e o sono, vem aquela música em especial.

Às vezes, são músicas que nunca ouvimos, outras, músicas conhecidas que a psique empresta para nos alertar a respeito de algum símbolo, sendo este alerta um diálogo, um aviso e não necessariamente um perigo.

Às vezes, ele pode ser a resposta a uma questão que pede para ter sua crença ressignificada em nossa psique, para que possamos nos diferenciar de determinado dilema e incômodos que vivemos diariamente.

Neste caso, em especial, vejo esta “trilha sonora onírica” que esta cliente apresentou como uma resposta. Trata-se de “Kiss from a Rose”, do cantor Seal. A música veio como uma saída para que o feminino nela prestasse mais atenção àquele Animus** que desejava ser considerado, visto, acolhido e “salvo”, redimido, destacado de seu próprio lado sombrio, como também da própria sombra feminina, do feminino atávico.

COMO NO CONTO DE FADAS, ELE NÃO É APENAS SOMBRA, MAS TAMBÉM PODE OFERECER A LUZ

There used to be a greying tower alone on the sea
Costumava ser uma torre acinzentada sozinha no mar

You became the light on the dark side of me
Você se tornou a luz no meu lado obscuro

Love remained a drug that’s the high and not the pill
O amor continua sendo a droga que “dá uma onda” sem a pílula

But did you know, That when it snows,
Mas você sabia, que quando neva,

My eyes become large and
meus olhos se tornam maiores e

The light that you shine can be seen
a luz que você emite pode ser vista?

Baby, I compare you to a kiss from a rose on the grey
Meu amor, eu comparo você ao beijo de uma rosa nas cinzas

Ooh, The more I get of you,
Nossa, quanto mais eu recebo de você,
Stranger it feels, yeah
mais estranha é a sensação, é sim

And now that your rose is in bloom
E agora que a sua rosa está desabrochando

A light hits the gloom on the grey
Uma luz atinge a escuridão das cinzas.

There is so much a man can tell you,
Existe tanta coisa que um homem pode contar a você,

So much he can say
tanto que ele pode dizer

You remain,
Você permanece,

My power, my pleasure, my pain! Baby
meu poder, meu prazer, minha dor! Querida…

To me you’re like a growing addiction that I can’t deny
para mim você é como um vício crescente que eu não posso negar

Won’t you tell me is that healthy, baby?
Me diz, isso é saudável, querida?

But did you know, That when it snows,
Mas você sabia, que quando neva

My eyes become large and the light that you shine can be seen
meus olhos se tornam maiores, e a luz que você emite pode ser vista?

Baby, I compare you to a kiss from a rose on the grey
Querida, eu comparo você ao beijo de uma rosa nas cinzas

Ooh, the more I get of you
Ooh, quanto mais eu tenho você

Stranger it feels, yeah
mais estranho parece, sim

Now that your rose is in bloom,
E agora que a sua rosa está desabrochando

A light hits the gloom on the grave
Uma luz atinge a escuridão da sepultura

I’ve been kissed by a rose on the grave,
Eu fui beijado por uma rosa na sepultura

I’ve been kissed by a rose (on the grave)
Eu fui beijado por uma rosa (na sepultura)

I’ve been kissed by a rose on the grave,
Eu fui beijado por uma rosa na sepultura

… And if I should fall along the way…
… E se eu cair ao longo do caminho? (tudo isso irá embora?)

I’ve been kissed by a rose
Eu fui beijado por uma rosa

… Been kissed by a rose on the grave.
… Beijado por uma rosa na sepultura

Baby, I compare you to a kiss from a rose on the grave.
Querida, eu comparo você ao beijo de uma rosa nas cinzas

Ooh, the more I get of you
Ooh, Quanto mais eu recebo de você

Stranger it feels, yeah
Mais estranha é a sensação, é sim

Now that your rose is in bloom,
Agora que sua rosa está desabrochando

A light hits the gloom on the grave
Uma luz atinge a escuridão da sepultura

Yes I compare you to a kiss from a rose on the grave
Sim, eu comparo você ao beijo de uma rosa na sepultura…

Ooh, the more I get of you
Ooh, Quanto mais eu recebo de você

Stranger it feels, yeah
Mais estranha é a sensação, é sim

And now that your rose is in bloom
E agora que sua rosa está desabrochando

A light hits the gloom on the grave
Uma luz atinge a escuridão da sepultura

Now that your rose is in bloom,
Agora que sua rosa está desabrochando

A light hits the gloom on the grave
Uma luz atinge a escuridão da sepultura

UM Animus QUE PERCORRE O MITO DO RENASCIMENTO QUANDO NOTA A EXUBERÂNCIA FEMININA

Este Animus** que aqui é apresentado está em processo de diferenciação do Animus coletivo. Em seu discurso, ele não é apenas sombra, mas também já consegue oferecer alguma luz.

Ele vive o mito do renascimento, elaborando suas cinzas para “o renascer do diferenciado”, como uma Fênix.

Ele é a Fênix renascida, gestado dentro da Anima* e, com isso, convoca a mulher para que não tenha medo de renascer como outra dentro de si mesma, pois sabe que ela já começou a desabrochar e só precisa de seu sinal para percebê-lo e aceitar seu chamado para sair de sua torre.

A torre simboliza um mecanismo de defesa feminino que está prestes a ruir. Ele também lhe revela alguns segredos masculinos compartilhando aquilo o que pensa.

Ele tem dúvidas sobre se esse amor poderia continuar existindo se ele não fosse tudo o que a Anima esperasse dele.

Ele mostra que o amor não exclui a angústia, mas que pode ser vivido a dois, sem o desespero que o tem acompanhado em sua solidão, que nada mais é do que o reflexo da solidão que a própria Anima encontra dentro si mesma.

A proposta dele é, então, se diferenciar da solidão a dois: ele não deseja mais isso, como um sinal psíquico de que a própria mulher está mudando de sintonia.

Ele chega mesmo a questionar se essa nova sensação que traz a descoberta do amor, se essa renovação que o acompanha, é realmente saudável para ambos, mas não se importa muito com isso, desde que seu apelo seja satisfeito e, aqui, encontramos um comportamento muito comum nos homens de hoje. Ele está erotizado pela Anima.

Ele fantasia o beijo dessa Anima “sob a forma do beijo de uma rosa” e, finalmente, se levanta de sua sepultura. Isso nos faz lembrar dos belos vampiros imberbes e sedutores não? Ele também sabe que essa rosa tem seus espinhos, mas não a teme. Ele só deseja ser considerado — muito mais, deseja ser integrado.

MADURO PARA SER VIVIDO COMO SÍMBOLO E QUEM SABE CONSTELADO NA VIDA REAL…

Continuando a nossa jornada em Kiss From a Rose de Seal, percebemos que o Animus apresentado na música já está maduro, pronto para ser vivido como símbolo. Isso se assemelha, em parte, ao mito do vampiro, e tendo em vista que, os vampiros da atualidade são diferentes em cada conto fantástico hoje escrito – e ressignificado, os criados por Meyer, por exemplo são “vegetarianos” e “bonzinhos”, mal têm presas e andam à luz do dia – esse símbolo oculto na música, representaria a evolução de um Animus anteriormente atávico que atualmente renasce em seus aspectos humanos.

É interessante ainda notar que a música mostra que o lado obscuro do feminino está repleto de ouro e luz. Esse Animus que nos traz Seal como símbolo – para alguns, mas não para todos -, um “feio diferenciado em sua beleza”, percebe a rosa em uma mulher em fase de florescimento, e ele cobiça essa “rosa puella”. Ele sabe que ela crescerá. Ele confessa seu amor e arde pelo seu perfume. Esse é um Animus** que sabe o que quer.

Traz ainda, como mostra na música inteira, a rosa como símbolo do feminino, tanto sagrado quanto sexual, pois no botão esconde-se o clitóris, o local de delícias reservado para os escolhidos, revelando que a Anima já tem nível de permissão para acessar a sexualidade de sua própria rosa, assumindo seus espinhos e encontrando tanto nos espinhos quanto na flor, não só sua beleza, mas também sua defesa, plenitude e poder. Esse masculino reconhece esse poder, mas quer passar a impressão para a Anima, de que é ele quem lhe dá o poder… Vamos ficar atentas com isso, meninas?

UMA DONZELA É NOTADA EM MEIO À NEVE

Um outro símbolo interessante e que chama a atenção, é a neve. Símbolo de brancura, e por isso, também pureza, a neve é o conjunto de cristais de gelo que cobre a superfície de tudo no período do inverno, e o inverno representa a morte temporária dos aspectos naturais que precisam descansar para sua posterior renovação e renascimento.

Mulher olhando para o horizonte

O cristal de gelo é a precipitação de uma forma cristalina de água congelada. É uma elaboração da Solutio (água) psíquica. O cristal de gelo possui uma forma hexagonal, muito presente na Geometria Sagrada da Água. Pode representar emoções congeladas que estão prestes a descongelar dentro da psique feminina, pois esse Animus que a percebe chega evocando sua libido.

O fato deste Animus enxergar melhor a luz de sua Anima quando neva, significa que ele tem seus olhos renovados pela força de purificação do símbolo que a neve representa e que ele também pode se comunicar com a Anima tanto na vida quanto na morte, amparando-a no sentido renovatório de si mesma: sendo a morte o período que mais torna perceptível a renovação por sua brancura e o preparo para o renascimento de sua Anima pelo nascimento da rosa.

Esta mulher está se preparando para vir ao mundo e deixar de ser puella, a fim de se tornar a parceira deste Animus na Coniunctio Alquímica, o Casamento Sagrado com o Animus, que ocorre no processo transformador interno de toda mulher, e somente dentro dela essa alquimia pode ser iniciada. Então, o “agora que sua rosa está desabrochando uma luz atinge a escuridão da sepultura”, evocado na letra, é uma possibilidade real, pois em outras palavras isso significa que “agora que você está desabrochando, eu posso renascer também”.

Existem outros símbolos presentes na música, assim como as duplas mensagens da psique que ela pode nos trazer, e gostaria que estes outros símbolos fossem analisados pelas próprias leitoras, caso se sintam atraídas ou tenham “escutado o chamado de Seal” (risos) para algumas de nós, pois estes símbolos se tornam extremamente pessoais em cada uma.

AS DUPLAS MENSAGENS DA PSIQUE

A Psique, a maior parte do tempo, entra em contato conosco por meio de mensagens invertidas, tanto nos sonhos quanto nas situações corriqueiras, sincronicidades ou somatizações que constelamos.

Vamos analisar algumas frases do texto da música Kiss from a Rose, do cantor Seal, e os símbolos e as metáforas escondidos no discurso que a sombra trouxe através do sonho de uma cliente.

No caso dos sonhos, as duplas mensagens são mais comuns do que se pode parecer. Como esta música foi a trilha sonora de um sonho relacionado a um aspecto sombrio do Animus**, devemos prestar muita atenção aos apelos sedutores da sombra que se exprime através do embusteiro em nós. Esse é um mecanismo compensatório do inconsciente para provocar o nosso amadurecimento na vida real. Então, prestemos atenção.

Esse “Animus embusteiro” (ou “trickster”) geralmente encarna o sedutor ou puer (lembram de Don Juan DeMarco?), que promete “mundos e fundos”, porém, no momento de cumprir sua parte da promessa, teme o aprisionamento do compromisso, fugindo com desculpas evasivas – e às vezes sumindo sem explicação alguma, criando na vítima a experiência do abandono.

Na realidade, trata-se de um Animus infantil (somente um Animus puer tem medo de mulher de verdade, isto é, de mulher adulta, mulher crescida, mulher real, e não mais uma puella). Ele é medroso, vive no mundo da fantasia de seu narcisismo negativo, e ao mesmo tempo é atávico e sombrio, pois ele não vai deixar de “morder a sua parte”, se tiver oportunidade, nessa relação com a Anima*, sugando-lhe a viçosidade e a libido como o faria um vampiro, e negando-se a nutri-la ou dar-lhe um feedback positivo, abandonando o sentido da troca nessa relação.

Dessa forma, a Anima sente-se faminta por mais, porque desatenta, se deixou viciar, não sabe mais o que fazer ou pensar sem seu amado, e a psique a interdita para receber mais nutrição, a fim de lhe proteger, enquanto esse Animus imaturo passa a “curtir” o sofrimento da vítima, revelando um sadismo até então oculto, tendo na angústia feminina o prazer em querer mais. “Me diz, isso é saudável, querida?”, evoca a frase da música explícita na 2ª parte desta série.

APRENDENDO A PERCEBER AS MENSAGENS INVERTIDAS DA PSIQUE MASCULINA

Observem a mensagem invertida: ele informa como todo trickster o faz, na posição de um “suposto dependente emocional”, na posição do “inofensivo”, que sabe que o vício não faz bem, mas como ele está encantado pela Anima e, então, a “encantando” com sedução, enfeitiçando-a com a sua poesia, o seu romance, cativando-a com o verbo (transformando a Anima em sua cativa), ela não consegue perceber essa mensagem implícita no discurso por causa do glamour masculino em lisonjeá-la.

O “volta pra mim…” pode ser um convite tentador, porém, se a mulher que decide voltar atrás não estabelecer limites e continuar aceitando as manipulações narcísicas desse Animus, ela não conseguirá experimentar O Feminino de si mesma nesta relação.

A sombra, que é um complexo do inconsciente, avisa à mulher que “Existe tanta coisa que um homem pode contar a você, tanto que ele pode dizer”, e isso também inclui os discursos invertidos e não verbalizados do masculino.

Portanto, é necessário prestar muita atenção aos atos falhos que se manifestam nas palavras dos discursos masculinos de sedução.

A sombra masculina também diz na música: “Você se tornou a luz no meu lado obscuro”. Tal discurso pode representar a própria Anima revelada no espelho da sombra, falando a respeito de si mesma. Neste caso, é a Anima quem canta para o Animus e revela sua fragilidade.

A frase também revela o “acordamento” de algo que já existia e jazia enterrado, esquecido e ignorado em nossa consciência, uma presença sombria no discurso da música que deseja ser considerada – integrada: que lado em nós “vive morto” na sepultura sem uma luz, um beijo ou carinho? Por que nos negamos a crescer? Por que nos negamos amor? E se der tudo certo, o que vamos fazer com isso? Resposta: vamos tomar isso para nós. Viver “isso” como símbolo. Viver o símbolo!

O amor não precisa ser uma meta inalcançável dentro de nós, e sombra não se combate, se integra. Talvez precisemos aprender a cantá-lo para nós mesmas antes de nos aventurarmos em um relacionamento.

Cantar o amor aos nossos próprios ouvidos esquecidos da canção. Às vezes, admitir um eu falido é o melhor começo para experimentar o nascimento do amor em nós.

ENFIM, REFLEXÕES SOBRE O AMOR

Embora esse lado sombrio do Animus nos faça refletir sobre a existência do amor em paralelo à angústia, ele também evoca essa angústia mais do qualquer outro aspecto no início da música, ao mesmo tempo em que a frase tem duplo sentido ao dizer “O amor continua sendo a droga que “dá uma onda” sem a pílula”. É só “uma onda” o que ele realmente quer?

Então o suposto amor é algo passageiro, sem muita profundidade, assemelha-se mais a um encantamento passageiro. Ou ele está realmente dizendo que o que sente é muito forte e genuíno? No estudo de caso da música, Seal fala de uma paixão, mas quando a Psique traz essa paixão como símbolo para a consciência feminina, ela precisa ficar atenta aos aspectos positivos ou negativos da paixão que vive em si mesma.

Apaixonar-se por si mesmo pode ser uma experiência prazerosa como foi para Afrodite, tanto quanto fatal, como o foi para Narciso.

Um discurso semelhante aparece em:

Você permanece, meu poder, meu prazer, minha dor! Querida… para mim você é como um vício crescente que eu não posso negar

Por que o amor deveria ser um vício sempre doloroso? Por que não ressignificar o contexto do prazer pela dor? Já que ele não exclui a angústia, porque cair para o sadomasoquismo? O que falta em recursos para que o Animus saia desse dilema da dor toda vez que experimenta o amor? Significa que ele está “viciado” naquela “sensação”, na dependência química da paixão, em sinapses negativadas, e que pela mesma razão, não tem recursos para sustentar a relação por muito tempo.

Logo, que tipo de cura esse discurso nos traz, para nós mulheres? Diferenciarmo-nos dos aspectos da dependência emocional como risco em qualquer relacionamento. Todos sabemos que as relações humanas são baseadas na troca, e em especial nos relacionamentos amorosos.

Um lado nutre o outro a partir de si mesmo, ainda que todo início espera-se um elemento narcísico de manifestação afetiva, e quanto mais ambos estão conscientes dessa nutrição pessoal, íntima e intransferível de si mesmo, mais ambos só têm a ganhar um com o outro.

Vejamos que no discurso “Costumava a ser uma torre acinzentada sozinha no mar”, temos um conto de fadas. Este Animus encantador, aquele que canta e com seu canto nos encanta, começa seu discurso contando um conto. Que tipo de mulher espera por um Animus, presa em uma torre no mar, senão aquela que vive o dia a dia fechada em seu conto de fadas, longe da realidade? Como foi dito anteriormente, este mecanismo de defesa está prestes a ruir se contarmos com os parâmetros desse Animus que acaba de se apresentar ao longo da música.

Um outro fato que chama muito a atenção é “Ooh, Quanto mais eu recebo de você, mais estranha é a sensação, é sim. E agora que sua rosa está desabrochando, uma luz atinge a escuridão da sepultura”. O símbolo escondido por trás desta frase tem duas faces:

Quando ele recebe a correspondência dessa Anima, mais ele se torna capaz de experimentar a sensação estranha que esse amor lhe causa, pois ele acaba de sair de sua sepultura renovado pelo beijo da rosa e pela luz dessa Anima. Isso é bom, pois ele está dizendo que está entrando em contato com o amor dentro dele. Ele se permite experimentar o amor como Animus ressuscitado. É um Animus que expressa sua gratidão e reverência ao feminino.

Quanto mais ele recebe, mais ele se alimenta dessa estranha sensação que o amor dessa Anima lhe traz, mais ele quer beber dessa sexualidade recém descoberta, e como só agora ele foi capaz de enxergá-la em sua plenitude, em seu pleno desabrochar, só agora ele aparece cheio de promessas, porque de alguma forma projeta a imagem materna que o salvará de sua sepultura. Isso não é bom, pois se assemelha muito àquele velho discurso, de quando a mulher decide dar um basta e o homem lhe diz “desculpe amor, só agora percebi isso, eu sou um coitado, me desculpe!”

COMPREENDENDO NOSSA FORMA DE AMAR COM A AJUDA DOS SÍMBOLOS PRESENTES EM NOSSOS SONHOS

Estas duas possibilidades acima estão presentes no discurso da música, e é muito importante a mulher estar atenta às mensagens invertidas nos discursos da sedução da sombra que se apresentam em seus sonhos, pois em última análise, tais discursos podem representar o embusteiro em nós e nossa falta de conexão e inconsciência da nossa feminilidade. E quanto menos temos conexão com o feminino em nós, mais distante do Animus sagrado, de um Animus positivo, nos encontramos.

Logo, a música é tanto “um chamado”, quanto “um aviso” e “um lembrete”: o Animus sagrado existe dentro da psique feminina, mas a mulher precisa estar atenta às seduções do trickster sedutor, que a faria cair de novo para o aspecto da Anima não considerada, da vítima seduzida e abandonada, pois o sedutor apenas promete, encanta e seduz. É o que ele sabe fazer.

Ele não sabe corresponder, polarizar, sustentar a energia, responsabilizar-se e se relacionar. Se a mulher deseja de relacionar verdadeiramente, terá que estabelecer um vínculo muito profundo com ela mesma, integrando estes aspectos sombrios da sedução que ela traz como conteúdos de autosabotagem, para “se encantar a fim de não se ver”, se diferenciando deste aspecto e tirando o poder de figuras masculinas que desejam que ela continue sendo submissa ao narcisismo deles.

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Um Animus autêntico não necessita da máscara do embuste ou dos artifícios da sedução feérica para conquistar uma mulher. Ele é naturalmente seguro em seu discurso e essa segurança produz um outro tipo de atração e efeito sobre a Anima, sem os aspectos infantis do encantamento. Esse Animus não tem necessidade de encantar ninguém no sentido de “prender a atenção para si, criar uma necessidade de mim dentro dela” no dilema narcísico, pois ele tem consciência em si mesmo, de que é o masculino encarnado e de que ele é o que é.

Seal nos traz uma música repleta de símbolos e mensagens que, a depender do contexto vivido por cada mulher, podem representar aspectos positivos de um Animus considerador que enxerga sua Anima e deseja assumir com ela uma relação de desenvolvimento para ambos ou o contrário.

A mulher, na posição da “Anima encarnada”, é quem precisa aprender a distinguir qual é o seu caso, que tipo de Animus traz dentro de si, como lida com o próprio feminino, se seus vínculos consigo não estão mascarados pela autosedução e autosabotagem, por meio de questionamentos muito profundos, uma sinceridade genuína, que no começo pode gerar muita angústia, porém, no final do ciclo, pode lhe trazer felizes resultados. E todas nós temos ainda muitos e muitos ciclos para abrir e fechar, muitos e muitos símbolos para serem vividos.

Glossário:

*Anima: aspecto feminino interior do homem

**Animus: aspecto masculino interior da mulher

Sobre o autor

Deva Layo Al-N-Dara

Deva Layo – nome tântrico de Luciáurea Coelho – é autora e arquiteta com especialização em cura de ambientes (Feng Shui, radiestesia e radiônica).

Atua como condutora de percepções, é empata sensitiva consciente e contatada de fenômenos anômalos (UFO), com vasta formação e experiência no segmento artístico, holístico e em espiritualidade: técnicas de dança para educação somática, terapêutica tântrica, terapêutica Yoni Egg, mestria em Reiki, practitioner em ThetaHealing, terapêutica psicanalítica e junguiana, renascimento, leitura de oráculos e condução do sagrado.

É mantenedora da Plataforma de Conhecimento LILITH-BRASIL, criadora da “Jornada para Lilith – de 21 Dias” e mentora do “Lilith Satsang – Encontros com Lilith”, da Escola Psicopompo de Lilith, do Programa Consciência Rúnica (na Rádio StartFM, em 2017), compiladora e transmissora das obras “O Chamado de Lilith”, “Lilith – Rainha da Lua”.

É também autora das obras “A Sombra Que a Gente Tem”, “O Vampiro no Divã”, “Yoni Egg – A Pedra Filosofal da Consciência Feminina”, “Meditação Yoni Egg” e da série de cinco volumes sobre Geometria Corporal Expressiva para Dança do Ventre, disponíveis no Clube de Autores e na Amazon.

Compartilha conhecimentos por meio de seus livros pela expansão da consciência planetária.

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