Todos os objetivos que buscamos se direcionam para aumentar nossa alegria, nossa liberdade, nossa paz e diminuir nossos sofrimentos. A grande questão é que a maior parte das formas que encontramos dão uma leve sensação dessas conquistas no curtíssimo prazo, mas são seguidas de decepção e tédio no médio e longo prazo, assim que aquela forma deixa de ser uma novidade. E, então, temos que buscar uma nova forma para voltarmos a ter sabor pela vida.
Porém, todos os objetivos têm apenas um mesmo fim, que é a busca por Liberdade Espiritual: uma experiência contínua de consciência, gratidão e contemplação. Como seria se pudéssemos pegar uma estrada direta e sem desvios para este fim que todos, sem exceção, buscam em sua mais profunda essência?
Essa é a proposta do livro Liberdade Espiritual: esclarecer os diferentes trechos da estrada que conduz à felicidade humana, assim como alertar para possíveis armadilhas e perigos. Neste artigo veremos um resumo dos 5 estágios da Liberdade Espiritual descritos em maior profundidade na obra. Boa leitura!
1. Tamas: A energia da inércia
Tamas é o nome utilizado para descrever a energia da inércia. Além de ser representada por algo que se mantém estático, parado ou em repouso, essa energia também se refere a intenções, falas e ações de negligência, ódio, destruição, apatia, culpa, preguiça, vergonha, ou qualquer outra energia que tende a não agir, fugir, recuar, dar desculpas para não mudar, entre outras coisas.
Uma pedra é inerte por si só, logo ela tem maior presença de Tamas do que das outras energias. Isso é natural, é a função dela no mundo e no plano físico. Já uma pessoa tamásica terá enorme índice de sofrimento, pois ela estará indo por um caminho não natural da Vida. Vida é Evolução.
Evolução é a fluidez entre repouso e movimento e, por isso, pessoas que resistem ao movimento querendo ficar inertes sentirão extrema dificuldade e ressentimento pela Vida, pois a condenarão como não sendo justa.
Por desejar mais a estagnação do que o movimento, a pessoa que está vivenciando Tamas começa a viver em um estado de procrastinação, negligência, reclamação, insatisfação crônica, desesperança, criticismo, culpa, autopunição, preguiça, apatia etc. Ou seja, é um nível de consciência que traz sofrimento profundo.
2. Rajas Baixo: A energia da hiperatividade
Rajas é a energia do movimento, contrapondo a Tamas como a inércia. De um ponto de vista do Taoísmo (filosofia chinesa que deu origem ao conceito de yin e yang), Tamas é o yin que rejeita o yang. Rajas baixo é o yang que rejeita o yin.
Essa é a natureza de nossa mente mais ancestral, chamada de cérebro reptiliano, ou cérebro de lagarto. O cérebro de lagarto é responsável pela autopreservação do ser para que haja preservação da espécie. Ou seja, sua função é economizar energia para que possamos lutar ou fugir diante de ameaças (autopreservação) e termos o tanque abastecido caso apareça uma oportunidade de procriação (preservação da espécie). Quando nós, seres humanos, fomentamos esse padrão de sobrevivência, acabamos trocando princípios espirituais elevados para mantermos nosso tanque cheio de energia, o que chamamos de egoísmo.
Quando saímos de Tamas, que é a entrega total ao estado de sobrevivência animal mais primitivo, entramos em Rajas Baixo, que é a negação deste estado. Neste momento o ser humano luta para não entrar, mas nos lodos da mente primitiva e busca se entupir de atividades para que não seja devorado pelos seus impulsos mais obscuros. “Fazer qualquer coisa, não importa o quê” é a regra desses estados. Convenções sociais, encontros familiares, baladas, bares, happy hours e, quando não socializando, trabalho, tarefas domésticas, jogos ou redes sociais, consumo compulsivo, compras, shopping, restaurantes, massagens, sexo ou qualquer coisa que alimente a hiperatividade.
Em um primeiro momento essa hiperatividade esconde os assuntos mais profundos que estão trazendo sofrimento. No entanto, as fontes dos incômodos são negadas, fazendo com que o ser ainda viva um estado negativo de consciência.
3. Rajas Alto: A energia da atividade
Rajas Alto contrapondo a Rajas Baixo é uma energia mais equilibrada. Yang passa a aceitar Yin, ao invés de rejeitá-lo. Aqui começa um estado de aceitação. Aceitação dos acontecimentos, aceitação das responsabilidades, aceitação das diferenças e dos outros, aceitação de ritmos e intenções variadas, aceitação do mundo, aceitação de si mesmo e aceitação das Leis Divinas.
Com as duas energias polares dançando mais harmonicamente, a hiperatividade passa a ser atividade com respeito ao descanso, reflexão e criatividade. Quando o lado esquerdo do cérebro permite a intervenção do lado direito, o mundo ganha. Inovação é sua resposta. Somos mais criativos e construtivos quando vemos o mundo como colaborativo, onde nós somos os responsáveis por dar. Aqui neste estado há uma grande mudança na consciência do ser humano. Níveis de Tamas e Rajas Baixo são caracterizados por mais consumir e receber do que prover e dar. Já o Rajas Alto começa a mais prover e dar do que consumir e receber.
Ao invés de parasita o ser se torna contribuidor. Isso não significa que o ser deixa de consumir, mas agora ele contribui muito mais do que ele gasta. Os campos atratores de intenções e experiências se tornam mais fortes e é comum começar a ver líderes que inspiram pelo exemplo e pela dedicação. Aqui está o nível daquelas pessoas escolhidas para o avanço e que buscam constantemente construir para a sociedade, para sua família, para amigos, para a história e para si mesmo. O curto prazo já não é mais prioritário.
Médio e longo prazo ganha força e diminui-se os impulsos animais comuns aos níveis abaixo. Muitas pessoas aqui abrem mão de recompensas rápidas em prol de construir algo para alguém que também fará bem a si mesma. Aqui começa o nível do altruísmo, da construção para o contexto (si mesmo e os outros). Aqui tudo se soma, nada se subtrai. O ganha-ganha se torna um estilo de vida que é gratificante por si só.
4. Sattva: A energia do equilíbrio
Quando Yin volta a ser aceito por completo, a dança de Yin e Yang dá uma sensação de fluidez na vida. A preferência passa a ser de Yin sobre Yang, pois estamos com saudades dessa energia. Yin é completamente aceito e permitimos ao Yang continuar sua construtividade e nossas atividades no mundo, mas muito comum é um afastamento da maior parte das obrigações sociais, como presenças em eventos ou grupos, pois a Graça é sentida a partir da liberdade de não precisar estar com e nem ser aceito por alguém ou algum grupo específico.
A solidão se torna solitude. O silêncio se torna quietude. Não pensar passa a ser uma liberdade e muito se busca a partir daí. Desejamos aproveitar mais o Presente ao invés de remoer o passado e planejar o futuro. Como o Yang não é negado, lembra-se do passado e planeja-se o futuro normalmente, porém o presente é muito mais agraciado e valorizado. O peito se abre, a postura muda, nos tornamos seres mais abertos, amorosos, queremos ajudar da maneira que o outro quer ser ajudado, adquirimos uma gentileza enorme e uma vontade de que as pessoas sejam felizes. Passamos a ser prioritariamente bondosos e diminuímos drasticamente críticas, reclamações, julgamentos, achismos, opiniões emocionalizadas e excessos.
A partir deste estágio o que vem à frente é o que realmente somos, espírito. O espírito está além da alma, que podemos considerar como o compilado dos corpos físico, vital emocional e racional. Neste nível de consciência, sabemos que somos nosso espírito e começamos a compreender a lei da interconexão, de sermos um com o todo. Aqui surge a percepção real do Deus Imanente, Deus dentro de nós que também está em tudo o que existe.
5. Moksha: Unidade
Este estado é a transcendência e o desapego das energias vinculadas à matéria. O Ser se desprende de Tamas, Rajas e Sattva apesar de ainda interagir com eles enquanto tiver um corpo físico. As energias agora passam a ser apenas condições físicas a serem respeitadas enquanto ainda se segue com a limitação do corpo físico e esgotando o estoque de carmas
passados pendentes que ainda precisam se manifestar para que a realização total ocorra.
Muitos mestres e sábios a este nível não chamam, mas o desencarne de morte, mas de libertação do corpo.
A descrição é a de que a consciência ilimitada se limita ao estar ‘presa’ a uma condição material. Por sua serenidade alcançada, por mais que saiba dessa limitação, aquele que alcançou e se mantém em iluminação não luta para se livrar daquilo que o condiciona fisicamente, pois sabe que o espírito é incondicional. Tanto faz seguir com ou sem o corpo. A única coisa que importa é poder atender e servir a vontade de Deus.
Os relacionamentos seguem normalmente. Nada muda. Ninguém percebe nada de diferente, pois este é o estado de pura espontaneidade e naturalidade. A simplicidade se torna comum e existe uma autenticidade incomum, porém nada chamativa. O anonimato é a preferência. Mesmo que haja um contexto professoral, de comunicação pública e social ou de ‘fama’, o ser a este nível não se importa com isso. Este estado é conhecido como Indiferença Divina. Não a indiferença de repugnância ou de ‘dar de ombros’. Mas uma indiferença de perfeição.
Tudo é perfeito, seja assim ou assado. O observador toma o lugar daquele que firmava intenções. Sem precisar mais intencionar nada, o observador apenas observa o desdobrar da Vontade Divina e interage conforme convocado por evidência. ‘Age sem agir, fala sem falar, não busca reconhecimento e por isso é reconhecido’ como descrito por Lao Tsé no Tao Te Ching. Aqui os paradoxos se integram. Yin já não é mais separado de Yang. O observador compreende o absurdo que é enxergar as coisas como duais e opostas. A oposição obviamente não existe e tudo apenas se contrabalanceia em uma só dança. A dança de Shiva. A Unidade com Deus é a vivência deste estado. Uma Serenidade ensurdecedora vem à tona e o ser observa o silêncio por trás dos ruídos. O ego se aquieta e passa a ser apenas um murmurador indesejado com sua tagarelice infinita querendo receber atenção como uma criança mimada, desrespeitando o silêncio da Presença. E, então, esta natureza do ego é aceita e amada, mas não mais atendida e desejada. Observador e objetos observados não são mais distintos. Tudo é um e tudo flui, tudo está conectado.
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Conclusão
O caminho para a Liberdade Espiritual é feito de diferentes energias, sendo que todas cumprem uma determinada função na existência. Podemos vivenciar cada uma dessas energias em um único dia ou até mesmo em um intervalo de poucos segundos. Conhecer essas dinâmicas nos ajuda a identificar apegos e criar uma intenção de nos alinharmos constantemente com aquilo que é benéfico e pacífico, gerando realização para nós mesmos e para as outras pessoas.
Se você gostou deste conteúdo e quer se aprofundar no assunto, recomendamos a leitura do livro Liberdade Espiritual, publicado pela Editora Pandora. Nessa obra, você encontrará um apoio para trilhar a estrada de alívio dos seus sofrimentos e do sofrimento dos outros a cada dia, passinho por passinho, dentro do seu próprio contexto de vida. Adquira o livro e comprometa-se com a busca da felicidade acima de tudo!