No universo terapêutico, é comum ouvir sobre a importância da escuta, da empatia e da presença. Mas existe um ponto essencial que muitas vezes é negligenciado: o comprometimento do terapeuta com seu próprio processo.
Não basta saber conduzir sessões. É preciso estar em dia com a própria saúde emocional. Buscar terapia não é luxo, é compromisso. Compromisso com o outro, mas também com a ética do trabalho que se escolheu realizar.
Toda terapeuta, por mais experiente que seja, carrega pontos cegos. E quando esses pontos não são trabalhados, acabam vazando nos atendimentos. A escuta se torna reativa. A presença se fragmenta. A intervenção perde profundidade.
Às vezes, a ausência desse cuidado não se mostra de forma escancarada, mas aparece nas entrelinhas: na pressa para responder mensagens, na falta de atenção durante as sessões, nas pequenas projeções que passam despercebidas. E o mais delicado é que, nesse ponto, o cliente sente. Pode não nomear, mas sente.
Fazer terapia, reciclar seus estudos, buscar supervisão quando necessário e escolher formações em espaços sérios e éticos não é vaidade acadêmica. É o que sustenta, na prática, o trabalho de qualquer profissional comprometido.
Também é preciso ter discernimento com os cursos e os espaços escolhidos. Terapias sérias exigem preparação, responsabilidade e ética. Não basta se inscrever em qualquer formação que prometa “resultado rápido”. O cuidado com o outro começa na escolha do próprio caminho.
Quem cuida, sem se cuidar, começa a repetir discursos sem presença, técnicas sem profundidade e, muitas vezes, atitudes que não condizem com o que orienta. E isso não passa despercebido.
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É preciso estar disponível para o outro, mas ainda mais disponível para si. Nenhuma formação, por melhor que seja, substitui o próprio processo de autoconhecimento, o chão que só se constrói com honestidade e presença.
Antes de ensinar sobre equilíbrio, é preciso buscá-lo. Antes de falar sobre limites, é necessário reconhecê-los em si. Isso não é cobrança. É responsabilidade.
O cuidado com o outro começa onde começa o seu próprio.