Autoconhecimento

A arte de administrar o próprio tempo

Escrito por Luis Lemos

Dentre os vários males do tempo presente, a ansiedade distancia-se de muitas outras doenças. Talvez pelo acesso incontrolável das redes sociais, as crianças e adolescentes são as primeiras vítimas desse problema, típico de uma sociedade de consumo.

A ansiedade vem fazendo vítimas em todas as classes sociais e seus efeitos são percebidos no trato entre as pessoas. Ninguém suporta mais ninguém. Paciência, uma virtude nobre, que há muito foi embora do meio dos humanos, parece que ninguém mais a pratica. Todos querem resolver as coisas na hora, quando não, na ignorância. Relações sinceras e cordiais estão cada vez mais escassas.

Falamos com os outros sem os ouvir, juntamos informações que nunca chegamos a aprofundar, convivemos com pessoas sem nunca conhecê-las, usamos coisas sem nunca saber para quê. Tudo transita num galope ruidoso, veemente e efêmero. Como tão bem disse Padre Fábio de Melo, “a velocidade com que vivemos impede-nos de viver”.

O homem contemporâneo parece contaminado pela pressão do resultado instantâneo. Ele tem que ser o melhor em tudo. Tem que ser o primeiro na escola, no trabalho, no namoro. Contraditoriamente, essa é uma característica da sociedade atual. Aprendemos desde criança que “não há tempo a perder”, que alcançar as metas o mais rapidamente possível é condição fundamental para o sucesso.

Aprendemos que para ser bem-sucedido na vida, temos que valorizar resultados, apenas resultados. Nesse sentido, o que a sociedade capitalista nos propõe é que façamos sempre mais. Enquanto seres de “fazer coisas”, estamos doentes; ansiosos para atingir os próximos objetivos, e acabamos esquecendo de nós mesmos, dos nossos desejos, das nossas vontades, de quem nós somos.

Na produção de bens materiais, acabamos perdendo o sentido do belo, da vida. A vida é a arte do bem viver. E não se vive bem cumprindo horários, agendas, sendo burocratas, fazendo por fazer. Não precisamos ser atropelados por agendas e jornadas sucessivas que nos fazem sentir que já amanhecemos atrasados.

Deveríamos, contudo, refletir sobre o que perdemos, sobre o que vai ficando para trás, sobre o que deixamos de saber quando permitimos que a aceleração nos torne objetos, portanto, doentes. A vida tem que ser mais simples. O homem contemporâneo precisa aprender a “perder tempo”. É preciso voltar a “ser narcisista. Um narcisismo positivo, pois o homem atual perdeu-se nos outros, nas coisas e já não se reconhece.

Afirmar que o homem não é dono de si é aceitar a alienação humana. Enquanto sujeito alienado, ele é incapaz de saber o que é bom ou ruim para ele. Daí a importância das instituições sociais. As escolas, as igrejas, entre outras entidades, precisam ensinar as crianças, os jovens que a pressa condena-nos ao esquecimento.

O esquecimento é uma categoria filosófica que torna o ser humano objeto. A indústria, sabendo disso, faz de tudo para que o homem não pense. Enquanto sujeito pensante, o homem se prende a outros objetivos. Passa a valorizar mais o ser do que o ter. Ser é mais importante para o homem inteligente do que o ter.

O consumismo, ou seja, o ter é típico de uma sociedade que não pensa. Valores como preservação ambiental, desenvolvimento sustentável, futuras gerações, não têm nenhuma importância para a sociedade de consumo. Tudo o que se fala a respeito é mera ideologia. No ter, o que importa é o aqui e o agora.

Valores como paciência, prudência, respeito, favorecem o aparecimento de outras verdades. Se formos educados por esse caminho, aceitaremos quando não atingirmos todos os objetivos que nos tínhamos propostos.

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Falta muito para o homem contemporâneo aprender que o lugar aonde chegamos é ainda uma versão provisória, inacabada, cheia de imperfeições. Por isso, a gestão do tempo é uma aprendizagem, que como indivíduos e como sociedade precisamos fazer.

Enfim, a arte de administrar o próprio tempo, de aceitar o inacabado, de esperar, de agradecer o que não deu certo, de acolher o estrangeiro, pode ser a saída para a construção de uma nova sociedade. Uma sociedade do direto, do respeito, do outro, enfim, do amor.

Sobre o autor

Luis Lemos

Luís Lemos é filósofo, professor, autor, entre outras obras, de “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas – Histórias do Universo Amazônico” e “Filhos da Quarentena – A esperança de viver novamente”.

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