Seja o(a) último(a) a ir embora nas horas difíceis!
Fará uma enorme diferença na vida da pessoa, que se sentirá protegida, amparada e confortada, como seria desejável, se você vier a ficar junto dela naquelas horas dramáticas, como hospitalização, cerimônias fúnebres, ocasiões em que a pessoa mais se sente sozinha, perdida e tudo mais que gire em torno de toda essa dramaticidade e outras de mesma intensidade emocional.
Nessas horas, não basta “dar uma chegadinha” apenas! Ou se está ou não se está ao lado da pessoa nas horas difíceis, não havendo um meio termo que se possa aceitar como adequado.
Se a pessoa carece de amparo e do conforto da presença das pessoas mais próximas, por que negar isso? Não há “meia dor” para “meia presença”, portanto, é inaceitável a já citada “chegadinha”: é melhor não comparecer no evento a ter que apenas “cumprir tabela”.
Será difícil permanecer tanto tempo como parte do cenário de dor? Certamente, porém será muito mais difícil conviver com o sentimento de culpa. No final da noite daquele triste evento, o levantar de olhos da pessoa que nele mais sofria deparou com o olhar quieto e manso de uma pessoa que ali ficara desde o final da tarde do dia anterior. E o silêncio dos olhares trocados trouxe ambos para um abraço que não houve, porque não precisava, já que toda a afetividade que pulsava naquele momento era conduzida pelos olhares.
Anos depois, muitos, ambos se encontraram novamente em ocasião que fazia sofrer: um terceiro, por ambos amado, na condição de amigo que a poesia não explica nem a dureza da vida mácula, já cumprida a sua passagem pela Terra, os teve como companhia até o último momento, antes de fechar a janela para este mundo, vidros imaginários substituídos pela relva fresca, úmida do orvalho, cobrindo o último útero para a gestação de uma viagem infinita, útero feito de terra e silêncios.
Na despedida, perguntaram-se: “Quem nos fará companhia e será o último a sair, quando chegar a nossa vez?”. Não souberam, mas a resposta foi dada pelo amigo que se fora, agora em luz, que já não precisava de janelas para espiar o coração dos que o amaram.
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