Autoconhecimento

5 lições que aprendi com meus erros – e como você pode evitá-los

Uma sequência de lâmpadas, desde uma totalmente quebrada até uma inteira, representando erros que são reparados até chegar ao acerto
patpitchaya / Shutterstock
Escrito por Dulcineia Santos

Aqui na Europa existe uma companhia aérea de baixo custo chamada Easyjet. Na revista de bordo, há uma coluna muito legal chamada “My Greatest Mistake” (ou “Meu Maior Erro”), em que empresários contam qual foi o maior erro que cometeram no seu negócio.

Em uma das edições, um empresário diz que perdeu um contrato milionário de vendas de água de coco para a Europa porque não se informou sobre a legislação para fazer a embalagem, minimizando a importância de alguns itens obrigatórios. Demorou vários anos pra ele conseguir ter outra oportunidade de entrar na Europa de novo – felizmente, no fim, ele conseguiu.

Outra revista contra sobre um empresário que tinha um restaurante que funcionava sem reservas. Quando abriu outro, em outra parte da cidade, usou o mesmo princípio. Só que, nesse lugar, as pessoas iam embora e nunca mais voltavam, porque nunca tinham certeza se iam conseguir uma mesa. A solução foi deixar metade das mesas com reserva e metade sem, assim ele conseguia atender às necessidades dos dois públicos. E a lição pra ele foi que não dá pra pensar que uma regra vai sempre servir para tudo que você faz.

Com base nisso, vou compartilhar cinco erros que cometi na minha trajetória, e como eu (e você) poderia tê-los evitado. Eu só descobri esses erros trabalhando a minha biografia – caso contrário, acabaria entrando no engano de que as coisas são sobre sorte ou azar, quando, na verdade, são coisas que poderiam ter sido mais bem manejadas.

Se você está na fase da maturidade, é importante que revise a sua biografia para poder entender melhor por que agiu como agiu, e como isso está afetando a pessoa que você é hoje.

Tomar decisões emocionais

Posso dizer que, na minha vida, tive algumas boas chances na carreira. Eu entrava numa empresa e logo era promovida, porque tinha um grande senso de responsabilidade e, principalmente, de liderança. Acabava acontecendo que, com dois, três meses as pessoas, já estavam me colocando pra ser responsável por alguma coisa, ou pagando cursos pra eu me especializar em algo.

No meu primeiro emprego em São Paulo, por exemplo, pude fazer várias formações em programação porque demonstrei curiosidade na área de informática. Já no segundo emprego, fiz formações em Direito Internacional, entre outros.

Porém, quando acontecia alguma coisa, algum problema de relacionamento, não importava quantos anos de empresa, eu me demitia. Em vez de separar o emocional do racional, eu colocava tudo num balaio só – um problema emocional impactava a minha carreira.

Quando falamos dos setênios ou ciclos de sete anos, a partir dos 28 anos, o Eu tem que fazer o pensar, o sentir e a vontade trabalharem juntos. Não dá para deixar o sentimento comandar. O Eu, que está mais maduro, tem que ser a autoridade.

Então um dos exercícios que aprendi quando trabalhei a minha biografia foi fazer uma lista das decisões que eu tomei, e ver qual era a qualidade delas: foram tomadas por uma questão de sobrevivência? Por um impulso irracional? Pra atender a uma necessidade de carência – por exemplo, a falta que eu senti de pai e mãe?

Só se pode transformar a sua biografia, o seu destino, se você os compreender.

Homem de roupa social com a cabeça abaixada e as mãos segurando nervosamente o cabelo
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Procurar no trabalho o preenchimento de uma carência de lar

Novamente, misturei uma área da vida com outra que não tinha nada a ver.

Eu tive pais separados e mudei muito de casa. Então, por muito tempo, fiquei procurando a sensação de lar, de família, a estabilidade dentro da empresa.

Hoje vejo, por exemplo, que o meu histórico de trabalhar em empresas pequenas não foi uma coincidência, e sim um padrão. Se prestar atenção, chamamos uma empresa pequena de “empresa familiar”.

Nessas companhias, havia os mesmos dramas que há em uma família: as paixões, as brigas etc. Tudo era muito voltado para simpatias e antipatias.

Esse padrão hoje impactou meu trabalho, já que, por não ter tido essa vivência de trabalhar numa grande corporação, tenho uma carência que me impede de trabalhar com coaching executivo.

Meu conselho é: se você está na primeira metade da vida e vê essa tendência na sua biografia, ainda está em tempo de corrigir esse curso e procurar outras vivências que expandam mais a sua experiência e o seu olhar.

E, se está na segunda metade, faça uma revisão do seu histórico profissional e veja o que o permeava. Então, primeiro, analise se isso ainda tem impacto na sua vida. No meu caso, além do que eu falei acima, posso checar se, na minha vida profissional ou no meu casamento, ainda estou tentando suprir essa carência. Depois, coloque luz e consciência naquilo para poder corrigir o curso.

Além disso, procure usar o que aconteceu a seu favor. Você pode pensar, por exemplo, que qualidades criou a partir disso? Ou o que pode criar a partir disso? Com base nessa reflexão, você começa a dar propósito àquilo que aconteceu na sua vida.

Homem em pé apontando para alguns dos trabalhos de uma mulher que está sentada
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Deixar passar oportunidades por ter o olhar fixo num objetivo

Como coach, acredito que ter um objetivo é algo maravilhoso: dá motivação, disciplina, foco.

Porém temos que tomar cuidado pra que esse foco não se transforme em rigidez, ou em controle. Às vezes, focamos tanto uma coisa que acabamos perdendo o fluxo da vida, aquilo que está acontecendo naturalmente, sem que precisemos colocar esforço.

Recentemente me dei conta de algo assim: tenho um grupo fechado no Facebook chamado “Cura de Amor”. Ter um grupo fechado é diferente de postar coisas para pessoas aleatórias na internet, em que alguns vão ler e não ser tocados pelo seu conteúdo. Num grupo fechado, as pessoas estão ali por vontade própria, escolheram estar ali e querem ouvir o que você tem a dizer.

Nesse grupo, nunca precisava fazer muito: toda vez que eu entrava na rede social, tinha alguém pedindo autorização pra entrar no grupo.

Só que eu estava tão focada no Instagram, em aumentar meu engajamento lá, que não valorizei o que estava acontecendo organicamente. E fiquei só sentindo a dor de que “o Instagram era tão difícil, não entregava meus posts etc.”.

Então a dica que eu quero te dar é: olhe à sua volta. O que está funcionando no fluxo, sem que você precise fazer tanto esforço? E vá por aí.

Por exemplo: coisas que as pessoas te pedem toda hora pra fazer, ou coisas que você sente que faria de graça. Então porque escolher sofrer, se você pode investir no que já está recebendo sinais pra fazer?

Mulher sentada com a mão na testa olhando fixamente para o computador
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Reverenciar a autoridade errada

No segundo setênio, ou seja, dos 7 aos 14 anos, dizemos que o tema é “O Mundo é Belo”. É a época em que a criança entra na escola, e é muito importante a figura da autoridade amada – que normalmente é a professora, mas pode ser também uma tia, uma outra pessoa. No caso da professora, ela vai usar a arte, os contos de fada, para mostrar à criança que o mundo é belo.

Quando essa autoridade falta na infância, você a procura em outras fases da vida.

Eu tenho essa brincadeira na minha biografia de que eu queria ter tido uma governanta alemã, que seria uma pessoa que tivesse me guiado nos estudos: o que ler, arte etc., uma educação intelectual mais refinada.

E conto no meu livro “A Namorada do Dom” a história do Fernando. Fernando era uma pessoa intelectualmente interessante, mas que se sentia muito superior ao mundinho normal e não trabalhava. Começamos a nos relacionar, e eu fiquei ali trabalhando pelos dois, me endividei, tudo em troca de beber daquela fonte, de ter essa educação que eu não tive. Comecei a reverenciar a autoridade errada. E também não deixei que o Eu, a autoridade própria daquele setênio, fizesse seu papel.

Eu paguei isso com a minha autoestima, com perdas de noite de sono, com a perda da minha alegria, já ele tinha uma personalidade sombria.

Demorou uns dois anos, mas eu tive pessoas que me alertaram, que me ajudaram a sair daquela situação. Quando você está vivendo algo assim, e está com a autoestima baixa, com carência de sono etc., entra no que é chamado de túnel – você foca uma coisa só, não consegue enxergar o quadro todo.

Quando você está no túnel, só sai dele com um agente externo. Então, se você está nessa situação de túnel, de reverenciar a autoridade errada, peça ajuda e ouça os conselhos.

E, se você está de fora, não desista das pessoas. Tenha compaixão. Compaixão é querer que o outro fique livre do sofrimento e das causas do sofrimento. Não pense que as pessoas não querem ser ajudadas. Às vezes, elas nem sabem por onde começar; não têm mais força. Ofereça sua sabedoria, a sabedoria de quem já viveu muito e de quem está fora do túnel.

Homem falando e gesticulando na direção da mulher enquanto ela olha para a frente apoiando a mão no rosto
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Não ter tido um(a) mentor(a)

Esta é uma falha grande na minha biografia: não ter tido alguém que me guiasse nas minhas escolhas.

Já escrevi sobre a questão de os mais jovens trabalharem com os mais maduros, de como as ideias dos jovens, quando unidas ao idealismo maduro, podem trazer mais frutos.

O que acontece hoje é que, muitas vezes, seus pais não tiveram educação, ou não falam a mesma língua que você, e não podem te orientar, principalmente na carreira. As empresas, por sua vez, insistem em mandar os maduros embora, segurando só talento jovem. Ou o chefe mais velho acha que sabe tudo e entra na posição só de mandar, em vez de trocar. Isso cria um distanciamento entre a experiência dos maduros e a energia criativa do jovem, que precisa ser posta em movimento, mas também precisa ser orientada, pra que possa haver uma conexão entre o pensar do jovem e a vontade.

Na minha vida, tomei muitas decisões erradas, principalmente no sentido de não terminar o que comecei. Deixei a faculdade de Direito pra trás, que era algo que tinha talento pra seguir. Faltou alguém pra dizer: “Se você fizer assim, dá pra continuar”, ou “Não vai deixar faculdade por este motivo”.

Muitas habilidades que tenho agora, como falar inglês e francês, ou mesmo o meu diploma, eu consegui tarde na vida, com mais maturidade e suporte.

O meu conselho, se você está na primeira metade da vida é: arrume um mentor. Pode ser uma pessoa da sua empresa, seu próprio chefe, o chefe de outro departamento, alguém que você admire. Muitas pessoas fazem isso até como trabalho voluntário – e têm muito prazer em ajudar outros.

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E, se você está na segunda metade da vida, considere ser mentor de alguém. Você pode ajudar uma pessoa cujos pais não receberam educação e guiar aquela pessoa nas escolhas dela. Pode pegar alguém que trabalhe na mesma área que você trabalhou, e ajudar. E, com o tempo, pode até fazer disso uma nova profissão, por que não?

Isso é uma das melhores coisas que você pode fazer na sua maturidade: passar o bastão; ajudar essa nova geração a se manter no futuro da melhor forma.

Sobre o autor

Dulcineia Santos

Dulcinéia Santos é consultora de desenvolvimento para a maturidade, praticante certificada da ferramenta MBTI® de tipos psicológicos e coach. É também autora do livro “A Namorada do Dom”, em que conta as lições que aprendeu nos relacionamentos e na sua jornada até a Suíça.

Acredita que a vida é cheia de lições e que se não as aprendemos não passamos pro próximo nível do jogo. Saiu de casa cedo e foi morar no mundo – agora está na Suíça, onde estudou antroposofia por três anos. Gosta de tomar cerveja no boteco enquanto papeia, de aconselhar, da língua portuguesa, de cozinhar, de ficar só e de flexibilidade de horários. É esotérica, mas acha que estamos encarnados para viver as experiências terrenas com o pé no chão – de preferência dançando.

Formações:

Bacharel em línguas aplicadas

Brain Based Coaching Certification
NeuroLeadership Group – Londres

MBTI® – Myers-Briggs Type Indicator – Step I and Step II
Myers-Briggs Foundation – Florida, USA

Antroposofia
Goetheanum – Dornach, Suíça

Terapia Multidimensional
Genebra – Suíça

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