Filosofia

Conheça a filosofia Taoista

imagem do yin e yang
Brett Jordan / Pexels
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Quando pensamos sobre os símbolos da humanidade percebemos que eles são uma representação da forma de pensar dos seres humanos. Eles nos dão a ideia de como as pessoas de diversas sociedades se relacionam com a vida e quais valores e crenças acatam para se guiar e se estruturar. A partir disso podemos entender os profundos significados atribuídos a eles.

Entre esses símbolos, um dos mais conhecidos é o círculo Yin Yang que podemos encontrar em vários templos de religiões orientais e até como tatuagem na pele de muitas pessoas. Além disso, ele expressa um dos aspectos básicos da religião e da filosofia taoísta. Aliás, embora muito popular na China, o Taoísmo é pouco conhecido no Brasil, mas alguns de seus elementos estão muito presentes no nosso cotidiano.

Como uma das religiões mais antigas do mundo, o Taoísmo é instigante ao conhecimento e se relaciona a uma filosofia de vida, motivo pelo qual abordamos os seus principais aspectos no texto a seguir. Então descubra as curiosidades sobre essa forma peculiar de enxergar a existência e amplie o seu ponto de vista sobre os próprios conceitos.

O que é o Taoísmo?

Além de ser uma religião milenar chinesa, o Taoísmo é também uma filosofia que tem como base a comunhão e a harmonia do ser humano com a natureza da qual é parte, junto com todos os outros seres, compondo uma unidade, num fluxo de ordem perfeita. Atingir o equilíbrio com esse fluxo é um dos seus aspectos mais importantes.

A base do Taoísmo surgiu durante a dinastia Han da China com Huang-Ti (mítico Imperador Amarelo), no século II antes de Cristo, o que a cercou de misticismo e causou o distanciamento de sua compreensão. Lao Tsé, que lá viveu no século VI a.C. entre os anos 605 e 517, organizou e fundou a doutrina taoísta.

Ao completar 81 anos, Lao Tsé abandonou o trabalho nos arquivos imperiais para migrar para as montanhas do Tibete. Ele escreveu o Tao Te Ching, “O Caminho e a Virtude” ou “O Sentido e a Vida”, o livro sagrado do Taoísmo e um dos mais traduzidos no mundo, depois da Bíblia.

Durante muito tempo, além de um estilo de vida, o Taoísmo foi a religião oficial no país. Ele não é absolutamente original, sendo uma continuidade da tradição milenar chinesa, muito anterior a essa filosofia. O conceito do Tao já existia antes de Lao Tsé, que inclusive muitos historiadores alegam não ter existido. Na formação da República Popular da China, no século XX, contudo, ele foi reprimido, pois filosoficamente ele tratava de uma ideologia diferente daquela que estava sendo instaurada na época. Integra a filosofia, a religião e a espiritualidade.

De acordo com a filosofia do Taoísmo, a vida se manifesta em perfeita ordem, em harmonia e segue um fluxo natural, ligado a uma força motriz, a uma realidade cósmica. O ser humano precisa perceber e seguir esse fluxo. Assim, ela enfatiza a ligação com o Tao (Tau), traduzido como “caminho”, “princípio”, “fonte”, “essência” e “força primordial”. Acredita que, por meio de uma existência espontânea e natural, é possível estabelecer uma vida em conexão com a essência. “Embora tudo possua uma identidade, tudo vem de uma única fonte.”

Montanhas do Tibete
Julia Volk / Pexels

A filosofia e crenças do Taoísmo

A filosofia taoísta busca apoiar o ser humano a vencer as suas insuficiências, desfazer as suas ilusões, transcender do ego, conectar-se à fonte da vida e atingir a perfeição. Ela leva as pessoas à percepção da unidade do Universo e da inter-relação de todos os seres nesse tempo-espaço, admitindo a ideia de que há outros planos e dimensões, com causa e efeito em sincronicidade.

Segundo a filosofia do Taoísmo (Tao Chia), quando o ser humano se afasta da essência ou da fonte da vida, ele provoca desarmonia e conflitos, precisa agir com esforço. Entretanto, quanto mais entende que tudo está interligado, conectado e com potencial de ajuda mútua, ele passa a perceber a fluidez da vida. Deixa de agir de forma artificial e racional e passa a se envolver no fluxo, vivendo com menos esforço, mais simplicidade, mais delicadeza e mais bondade.

Além disso, o ser humano, seguindo o fluxo natural da vida, pode viver com mais alegria e em paz, contudo é necessário acessar a sabedoria intuitiva, presente na não ação (wu-wei), natural e espontânea. Quanto à espontaneidade, é importante destacar que o significado do termo nessa filosofia é manifestar o que se é de fato, deixando emergir a verdadeira essência e, para isso, o autoconhecimento e a intimidade consigo mesmo são fundamentais. Aliás, conhecer a si mesmo é uma das atitudes mais importantes no Taoísmo.

Também estabelece alguns ensinamentos ou condutas que prezam pelo desapego aos bens materiais, pois eles trazem desejos e expectativas que são ilusórias à própria essência da vida. Reforçam a contemplação da natureza como referência às atitudes e pensamentos, sendo ela a manifestação da essência suprema. Enaltece a suavidade, o relaxamento e a flexibilidade em lugar da rigidez. Destaca a importância da generosidade, da não violência e da simplicidade como meios para se aproximar da perfeição e da pureza primordial.

O que é o Tao?

Tao é a base de onde todas as coisas emanam, que não pode ser apreendido pela intelectualidade, apenas vivenciado. É a essência, o não ser, o zero, o grande vazio de onde partiu tudo e para onde todas as coisas voltam, a manifestação total do Universo, de onde surgiu o Um (uno), que fez surgir o espírito e a matéria, ou seja, o dois, presente em diversas formas e manifestações, gerando uma rica multiplicidade.

Nesse sentido, ele é inenarrável e transcendente, estando acima de tudo e por trás de tudo. Ele não se exaure, é inesgotável, espírito em vez de matéria, uma fonte que flui do Universo. Mas também se refere ao caminho que a vida humana deve prezar por seguir para se harmonizar com o fluxo do Universo.

Wu-wei e o Estado de Fluxo

O Tao Te Ching, que comunica o mundo da essência suprema com o mundo da manifestação dessa essência, contém 81 pequenos trechos que tratam de como o homem deve agir diante das ocorrências da vida, no sentido de atingir a felicidade e a realização plena. Ele trata da filosofia taoísta, no sentido de alinhar a conduta da vida cotidiana do indivíduo ao tao. Enquanto a palavra Tao significa caminho, o termo Te se refere à manifestação da essência.

Nele consta a virtude chamada de wu-wei. Ela é a ação sem esforço, sem intenção e pura, sem controle do ego, que leva ao estado de fluxo. Nela, a resistência, seja nos relacionamentos interpessoais, na relação com a natureza ou nos conflitos psíquicos é reduzida ao mínimo. É importante salientar que a não ação não significa não fazer algo, mas seguir a intuição ou aplicar as próprias habilidades em equilíbrio com a demanda da vida.

Aliás, o estado de fluxo é aquele em que o corpo age intuitivamente, os pensamentos silenciam e a ação fundida ao fluxo da vida gera um sentimento zen, similar ao da meditação ou da concentração. Ele é a “pura eficácia”, a ação perfeita. Um exemplo é um concertista que usa sua habilidade e se deixa levar pela obra de tal forma que tocar o instrumento se torna livre e intuitivo a ponto de que o músico está fundido à obra naquele momento.

Nesse ponto, as habilidades precisam estar de acordo com os desafios que se apresentam. Esse ajuste entre o desafio e a habilidade é chamado de equilíbrio, o que permite que o estado de fluxo ocorra. Assim, evita-se o tédio (quando o desafio é menor do que as habilidades) ou a ansiedade e a insegurança (quando as habilidades estão aquém do desafio).

A importância do estado de fluxo reside no fato de que as energias são canalizadas para a não ação ou para a ação sem esforço, quando não há espaço para o ego, para as lamentações do passado e para as ansiedades do futuro, não possibilitando autossabotagem e fazendo prevalecer a vivência do momento presente. As energias ficam livres para criar e fluir. A mente se torna flexível para trocar o foco de atenção tão logo seja necessário e desenvolve a capacidade adaptativa.

Aceitar o fluxo da vida, mesmo que não seja exatamente o que se deseja, com humildade e simplicidade significa se sintonizar à harmonia do Universo, sendo necessário, para isso, identificá-lo por meio da observação da natureza e manter a atenção sobre quando agir e quando se recolher.

Homem se equilibrando em um barco
Julia Volk / Pexels

Como os taoístas enxergam a vida?

O mais importante na vida para os taoístas é encontrar o tao, uma realidade inalterável e eterna, origem e fim de tudo. Para eles todas as coisas são uma só, formam uma unidade. A vida e a morte fazem parte de um único contexto, se fundem e por isso eles não temem o chamado “fim”, pois o entendem como elemento de um mesmo ciclo eterno.

Além disso, o tao é o caminho para pensar e agir em harmonia com o fluxo natural das coisas. Os taoístas cuidam para não perturbar essa ordem essencial. Acreditam que adquirir poder e riqueza não deve ser a finalidade de uma existência e representa um desperdício de energia. Entendem que quando as pessoas se dedicam a essas coisas, perdem a espontaneidade e geram conflitos, distanciando-se da paz, portanto não seguem o caminho do tao.

O Taoísmo se relaciona com questões individuais e metafísicas, sem intervenção ou pretensão direta em organizar ou estruturar a vida sócio-política. Nele, há uma visão de que o Te (força vital) anima o Tao (essência) e, portanto, busca maximizar essa força. Da mesma forma que se interessa em bem utilizar essa energia (ch’i) na vida, de modo a atingir o melhor resultado, também busca identificar como ela pode ser aumentada. Ainda se questiona sobre como essa energia pode ser concentrada para melhor ser aplicada no bem-estar dos seres ou quando se necessita de ajuda.

Assim, para atuar junto com essa força, os taoístas utilizam a matéria, o movimento corporal e a própria mente. Desse modo, na vida cotidiana eles cuidam para aumentar a energia vital, ingerindo alguns alimentos, retendo sêmen nas relações sexuais como meio para a preservação líquida e realizando exercícios respiratórios. Além disso, praticam o Tai Chi Chuan e meditação.

Os taoístas se excluem de todas as maneiras de autoafirmação e de competição e o respeito à ecologia é presente na vida diária. Para eles, o fundamental é se integrar e se harmonizar com a natureza, ao invés de dominá-la, controlá-la ou conquistá-la. Com a ideia de unidade, prejudicar algo que lhe corresponde significa prejudicar a si próprio, uma visão integrativa e não separatista da vida.

Além disso, a maioria dos taoístas percebe que a vida deve ser apreciada da forma como de fato ela se apresenta. Para eles, expectativas e desejos são ilusões. Quando um desejo é satisfeito, logo outro o substitui, criando um desperdício de energia em relação ao que de fato é necessário e essencial.

Do mesmo modo, um elemento fundamental aos taoístas é a ideia da relatividade dos valores e a identidade e complementaridade dos opostos, assim um dos símbolos do Taoísmo é o círculo Yin Yang.

O símbolo Yin Yang na filosofia taoísta

Na filosofia taoísta, o símbolo Yin Yang representa as energias da dualidade e das polaridades, não no sentido de antagonismo, mas de interdependência e se resolvem no círculo que as cerca. Então espírito e matéria, dia e noite, masculino e feminino, frio e calor, claro e escuro, luz e sombra etc. fazem parte da mesma unidade, se completam, precisam uma da outra para existir e uma contém a outra (círculo preto na figura branca e círculo branco na figura preta).

Em outras palavras, o símbolo reflete o pensamento de que todo o Universo contém diferentes manifestações da unidade infinita, tudo se transforma constantemente, os opostos se complementam, não há duas coisas absolutamente iguais, tudo possui duas faces (frente e verso) proporcionalmente de mesmo tamanho. Ele representa o equilíbrio das energias.

Mulher meditando em posição sentada de ioga no topo de uma montanha acima das nuvens ao pôr do sol.
Michal Bednarek / 123RF

As práticas da filosofia taoísta

Segundo a filosofia taoísta, a vida pode ser simples, humilde, serena e integrada à natureza. Nela, há que se desenvolver a espiritualidade, sendo um dos meios para isso a prática da meditação, que pode levar o indivíduo à iluminação e à ligação com a essência. Da mesma forma, cuidar do corpo é uma questão de respeito e de preservação da energia vital. Para tanto, a prática do Tai Chi Chuan, da Yoga, de artes marciais, como o Jiu Jitsu e outras, auxilia no desenvolvimento da concentração de energias, da consciência corporal, do silenciamento mental e do tônus muscular.

Em relação à prática da meditação, ela é importante no Taoísmo porque possibilita superar pensamentos, desejos e estados mentais desfavoráveis à canalização de energia espiritual para o corpo. Ela trabalha a respiração e a capacidade de direcioná-la a qualquer parte do organismo para, inclusive, produzir efeitos curativos.

Já o Tai Chi Chuan auxilia a pessoa a canalizar o chi (ou qi), a energia vital, para que haja uma respiração profunda, em que essa energia percorre livremente todo o corpo, promovendo vitalidade e um estado de espírito favoráveis para se unificar ao tao. Além disso, no sentido de harmonizar as energias do Céu e da Terra nos ambientes, de modo a obter equilíbrio energético das pessoas que fazem uso deles, a prática do feng shui pode ser adotada e representa muitas ideias da filosofia taoísta.

É importante destacar que não há uma estrutura institucional no Taoísmo, ou seja, não há cultos regulares, declarações sobre a fé ou um credo específico que se tenha que adotar ou seguir. Não há a concepção de um ser criador supremo ou da imortalidade da alma.

Em contrapartida, há a ênfase na importância do autodesenvolvimento, no comportamento moral e nas orientações sobre como o ser humano deve agir sabendo sobre o seu lugar no Universo. Pessoas de diferentes religiões, inclusive, adotam práticas do Taoísmo na vida cotidiana, sem vínculo com a base filosófica definida por ele, porque buscam, dentre outras coisas, equilíbrio, comunhão com a natureza e paz interior.

Você também pode gostar

Por fim, o Taoísmo, como parte da filosofia oriental é uma das diferentes formas que a Humanidade tem para compreender a vida e a própria existência. É mais uma tentativa para explicar de onde viemos e para onde vamos.

E mesmo que Lao Tsé tenha escrito os ensinamentos dessa doutrina de forma lírica e subjetiva, inclusive dando margem a inúmeras interpretações, o entendimento sobre ela nos amplia a visão de mundo e de nós mesmos, de que somos matéria e essência. O símbolo Yin Yang nos mostra, ainda, que o equilíbrio sempre nos coloca num bom caminho! Reflita sobre isso!

Sobre o autor

Eu Sem Fronteiras

O Eu Sem Fronteiras conta com uma equipe de jornalistas e profissionais de comunicação empenhados em trazer sempre informações atualizadas. Aqui você não encontrará textos copiados de outros sites. Nossa proposta é a de propagar o bem sempre, respeitando os direitos alheios.

"O que a gente não quer para nós, não desejamos aos outros"

Sejam Bem-vindos!

Torne-se também um colunista. Envie um e-mail para colunistas@eusemfronteiras.com.br