Autoconhecimento

É preciso silenciar para ouvir

silêncio
Escrito por Eduardo Rocha

O silêncio egoísta:

Lembro-me muito bem da época em que iniciei os estudos e tomei ciência dos desafios que logo surgiriam pela frente. Quem decide estudar psicologia, e navegar na imensidão que é o ser humano, cedo ou tarde, depara-se com o tema desse artigo. Na faculdade, em meio a tantas teorias, correntes filosóficas, técnicas e abordagens que me foram apresentadas, nada me deixou mais pensativo que o fato de saber que, em algum momento do curso, e, fatalmente, da vida profissional, teria de enfrentar e aprender a conviver de outra maneira com o “silêncio”. Foi a primeira vez em que me inquietei com o assunto, e acho que nunca haverá uma última. Surpreendo-me até hoje.

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O silêncio sempre foi meu, e era assim que me relacionava com ele. Como quem se relaciona com um empregado ou subordinado. Por vezes, através da música ou da escrita, mas sempre em uma condição de domínio, que me trazia segurança e conforto.

Certamente, você já passou por situações em que se sentiu desconfortável com aquele hiato que o silêncio provoca entre duas pessoas, e, rapidamente, disparou um novo assunto para quebrar o momento incômodo. E, independentemente, do assunto iniciado, o fato é que você escolheu simplesmente falar sobre qualquer coisa para terminar com essa ausência de sons.

No entanto, o interessante é que, com o passar do tempo, se você começar a observar e a tentar compreender o “silêncio do outro”, a qual, invariavelmente, atribui um novo significado ao seu, vai perceber que, através dessa lacuna de sons, podemos ouvir outras melodias e enxergar novas possibilidades de convivência, intimidade e cumplicidade. É preciso silenciar para ouvir.

Há mais sabedoria e significado em momentos de silêncio do que em muitos diálogos.

O silêncio exercido:

Diversos povos orientais de culturas milenares experienciavam os benefícios da prática silenciosa em suas atividades diárias, e tais povos, conhecidos também pelo exercício da meditação, escolhiam por fazê-la em silêncio absoluto. Eles acreditavam que somente nesse estado seriam capazes de encontrar a quietude dos pensamentos e a aceitação, originárias da reflexão e do autoconhecimento.

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O silêncio era um meio de comunicação com si próprio e com outro. Já os povos ocidentais se comunicam de outra forma. Gostamos de expressar pensamentos e sentimentos através de palavras e gestos. De um modo geral, falamos mais e ouvimos menos.

Para a cultura oriental, isso dificulta a compreensão da contemplação, a qual é tão baseada no vazio e no silêncio. O espaço negativo é um conceito herdado do Zen Budismo, e teve grande influência nas culturas orientais e, sobretudo, no Japão. Antigamente, o país oriental não era rico e abundante e, por conta disso, toda excelência cultural do local foi fundamentada na otimização de recursos.

O tempo, nessa época, era tão precioso que foi preciso aprender a expressar mais com menos. A comunicação muitas vezes era feita através do olhar e da economia de gestos. Ao falar demais, eles acreditavam que poderíamos estar limitando toda a verdade que se encontrava depositada no vazio. A lacuna deixada pelo excesso de gesticulação e palavras era preenchida em nosso imaginário.

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Entretanto, no mundo de hoje, milhares de anos depois, ainda parece muito difícil silenciar nosso barulho interior. Por isso, ficar em silêncio consigo mesmo nessas condições, parece mais do que uma simples tarefa. Torna-se praticamente uma revolução. Mas a boa notícia é que você tem todas as ferramentas para iniciá-la.

Você pode começar parando por alguns minutos do dia e tentando se concentrar apenas em sua respiração. Procure uma cadeira ou algum lugar em que você possa sentar com a coluna ereta e tente trazer sua atenção para os movimentos que derivam do ato de respirar. No momento, tente não se preocupar com os diversos pensamentos, de futuro ou passado, que irão passar pela sua cabeça. A proposta aqui é apenas um exercício de reflexão sobre a importância da prática do silêncio.

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Dedicar atenção à respiração é igualmente trazer sua consciência ao momento presente. É aceitar o convite para observar sua vida sob outra perspectiva. (Quem se interessar mais sobre esse tema, segue o link para o meu último post – Clique aqui para acessar)

O caminho é longo, mas vivenciar com clareza, consciência e curiosidade o ato de respirar é o primeiro passo para dizer a seus inúmeros pensamentos barulhentos que quem está no controle, neste momento, é você. É exercitar o silêncio em seu estado mais puro e genuíno.

“Há um silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras”. Clarice Lispector

Abraços! Até a próxima!!

Sobre o autor

Eduardo Rocha

Me chamo Eduardo Rocha e me sinto grato por você estar aqui no meu perfil.

Sou graduado em psicologia e pós-graduando em neuropsicologia, amante de música, cinema e tudo o que move e comove o ser humano.

Atuo na área clínica da saúde e também na área clínica do esporte. Além disso, desenvolvo um trabalho com crianças e adolescentes sob a perspectiva psicossocial em uma instituição na cidade de Niterói.

Bem como produzo conteúdos sobre diversos temas atuais — desenvolvimento pessoal, autoestima, ansiedade, autoconhecimento — para um jornal virtual e um podcast.

Sei que muitas vezes procuramos ajuda ou um melhor entendimento sobre o que acontece conosco quando a jornada já está pesada, nos sentimos sozinhos e a vida parece sem brilho.

Porém tudo isso faz parte de um processo muito maior, que é o processo de estar vivo. A vida vale a pena, lembre-se disso.

E encontrar as ferramentas corretas e os caminhos que nos levam a lugares incríveis e cheios de vida precisam ser nossas prioridades. A partir do momento em que você toma para si a atitude de fazer acontecer, tudo muda.

Espero poder contribuir de alguma forma com o seu processo.
Novamente, obrigado!

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