Vivemos em um mundo que parece ter transformado a produtividade na maior prova de valor humano. Trabalhar sem parar virou medalha de honra. Estar sempre ocupado virou sinônimo de sucesso.
E, nesse cenário, nasce uma dor silenciosa que quase ninguém fala em voz alta: a culpa de descansar, a sensação de ser “menos” quando você simplesmente para.
Muita gente carrega desde cedo a ideia de que só merece carinho, respeito ou reconhecimento se estiver produzindo, ajudando, entregando.
Para muitos, aprendeu-se que o descanso é preguiça, que pausa é fraqueza, que o corpo e a mente só valem quando estão a serviço de algo. E assim, o gesto mais natural e necessário — parar — vira motivo de angústia.
Mas o corpo sussurra. Depois grita. E, quando ignoramos, ele cobra. Primeiro, com cansaço constante, falta de prazer, irritação. Depois, com ansiedade, esgotamento, burnout.
E então descobrimos, muitas vezes tarde demais, que ninguém sustenta uma vida inteira em modo “fazer”. Somos humanos — precisamos ser, respirar, sentir, existir para além da produtividade.
O descanso não é desperdício. É alimento. Pausa não é falha. É cuidado. É no silêncio, na calma, no tempo livre que a mente organiza o mundo, que o coração encontra espaço para sentir, que o corpo recupera forças. Sem descanso, não há lucidez, não há criatividade, não há saúde. Não existe vida plena.
Talvez você ainda estranhe quando seu corpo pede pausa. Talvez escute aquela voz interna dizendo: “Você deveria estar fazendo algo”.
Mas, pouco a pouco, você pode escolher silenciar essa comparação constante, esse ideal impossível de utilidade sem fim. Você pode aprender a dizer a si: “Eu mereço descansar”. Porque merece. Não porque cumpriu metas — mas porque existe.
Comece acolhendo pequenas pausas: o café tomado sem pressa, o olhar perdido na janela, o prazer de fazer nada por alguns minutos.
Permita-se sentir o vento, ouvir sua respiração, perceber sua presença no mundo. Isso não é tempo perdido, é vida sendo vivida.
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Seu valor não está no que você produz. Está em quem você é. E quem você é também precisa de silêncio, colo, pausa, calma. Parar não é desistir, é se lembrar de si.
Permita-se. Descanse sem culpa. Você não precisa merecer o descanso — ele já é seu por direito.
E, quando você se permite parar, começa finalmente a viver.
Janio Costa – Psicanalista
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