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Queer: Uma identidade além dos limites binários

Mãos segurando letras feitas de massinha formando a sigla LGBT
Sharon McCutcheon / Pexels
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Se você acompanha, mesmo que “a distância”, o movimento LGBTQIA+, percebeu que essa sigla, que antes era apenas LGBT, ganhou novas letras, com o objetivo de incluir mais diversidade e outros tipos de manifestação de gênero e de orientação sexual. Uma dessas definições incluídas mais recentemente é a palavra “queer”.

Mas o que significa “queer” e o que é uma pessoa queer? Preparamos um artigo para dirimir todas as suas dúvidas e esclarecer de uma vez por todas qual é o significado desse termo!

O que significa queer?

A palavra “queer” é da língua inglesa e, em sua tradução literal, significa algo como “esquisito”, “excêntrico”, “estranho” ou “peculiar”. Essa não é uma expressão nova no idioma inglês, já que é usada há pelo menos 600 anos, de acordo com estudiosos do idioma.

A “novidade” é que esse vocábulo começou a ser usado, desde meados dos anos 1920, para se referir de maneira pejorativa a pessoas homossexuais, assim como temos na língua portuguesa termos ofensivos a gays e lésbicas, como “bicha”, “viado”, “boiola” ou “sapatão”, que mais recentemente foram apropriados pelos próprios LGBTQIA+ para desconstruir o preconceito, mas que por muito tempo foram ofensas aos homossexuais.

Homem usando sombra colorida de arco-íris e unha de rosto sorridente colocando o dedo nos lábios
ammentorp / 123RF

Pesquisadores de temas LGBTQIA+ afirmam que, apesar de ter “colado” mais em pessoas homossexuais, a palavra “queer” era usada para ofender qualquer pessoa que não fosse heterossexual e cisgênero (pessoa que se identifica com o gênero idêntico ao seu sexo). Portanto pessoas transexuais, bissexuais, travestis, drag queens, assexuais, entre tantas outras possibilidades, eram ofendidas com o uso de “queer”.

Apropriação da palavra “queer”

Pode ser um pouco difícil compreender o uso do termo “queer” e sua carga ofensiva, já que é próprio da língua inglesa e não faz parte do cotidiano brasileiro. Numa comparação apenas para efeito ilustrativo, é como a expressão americana “nigga”, usada na época da escravidão, nos Estados Unidos, para se referir de maneira pejorativa aos negros escravizados.

Por muito tempo, ambas as palavras foram ofensivas – “queer”, para os homossexuais; “nigga” para os negros. Mas atualmente vêm sendo subvertidas e usadas por essas pessoas como uma maneira de acabar com a ofensa e demonstrar orgulho por serem quem são. Sabe quando, na época da escola, alguém ganhava um apelido ofensivo e, em vez de se ofender, entrava na brincadeira (de mau gosto, diga-se de passagem) e assumia esse apelido, com o objetivo de deixar a piada sem graça? É tipo isso.

Hoje, portanto, pessoas que não são heterossexuais e/ou cisgênero usam esse termo com orgulho para se referirem a si mesmas, em vez de considerá-lo uma ofensa. Um bom exemplo disso é o nome do coletivo Queer Nation, importante associação que luta por direitos para as pessoas LGBTQIA+ ao redor do mundo.

Teoria Queer

Por muitos anos, qualquer manifestação da sexualidade ou de identidade de gênero que não envolvesse heterossexualidade e cisgeneridade era considerada queer, ou seja, algo estranho, já que o “normal”, supostamente, era ser heterossexual e seguir o gênero atribuído à pessoa no nascimento.

Duas mulheres de mãos dadas
Anna Shvets / Pexels

É importante notar que, até os anos 1990, a homossexualidade (à época, bastante chamada de “homossexualismo”, como uma doença) era considerada por muita gente uma patologia, inclusive por conselhos federais de Psicologia e até mesmo pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que só a retirou de sua lista de doenças em 1990 (!).

E isso aconteceu por pressão dos movimentos LGBTQIA+ da época. Foi naquela década e no final da década passada, entre 1980 e 1990, que surgiu o que ficou conhecido como Teoria Queer, um movimento de grupos, pensadores e cientistas que começaram a estudar definições e tendências dos grupos LGBTQIA+, ampliando o conhecimento sobre esse tema e desmistificando muitos dos preconceitos que existiam à época.

Queer é um gênero?

Grosso modo, não é, mas vem sendo usado informalmente para definir um tipo de identidade de gênero conhecida como fluida ou não binária (genderfluid ou genderqueer, em inglês). As pessoas que se autointitulam assim escolhem esse vocábulo para se referir uma identidade de gênero que não seja definida e exata. Por isso o uso da palavra “fluida”, ou seja, é alguém que não se considera 100% homem ou 100% mulher, “transitando” entre essas definições, o que também pode ser chamado de transgeneridade. Tanto “transgênero” quanto “não binário” são “termos-guarda-chuva” que representam uma miríade de diferentes tipos de identidade de gênero que divergem das definições tradicionais dos gêneros masculino e feminino.

Há até mesmo uma bandeira criada por pessoas do movimento queer. Ela tem três faixas, cada qual com uma cor: lavanda, que se refere a pessoas andróginas; branco, em referência a pessoas agênero; e verde, que representa pessoas de gêneros não binários — ou seja, que não se sentem completamente à vontade com as definições tradicionais dos gêneros masculino ou feminino, como os casos já citados de genderfluid, pangênero etc.

Símbolos do gênero queer
artrise / 123RF

Existe também uma bandeira utilizada para e pelas pessoas que se consideram não binárias, criada por Kye Rowan, jovem ativista LGBTQIA+. A bandeira tem quatro faixas horizontais de tamanho igual, cada uma com uma cor: amarelo, em referência a quem está fora do conceito binário de gênero; branco, para pessoas que são de muitos gêneros; roxo, como uma referência à fluidez e à diversidade de experiências de gênero; e preto, em referência às pessoas agênero.

Desconstrução eterna

Como você pode notar, a definição de “queer” é relativamente recente, já que vem sendo construída há “apenas” 40 anos. E o mais importante, quando o tema é LGBTQIA+, é ter em mente que esse assunto vem sendo mais explorado justamente nas últimas quatro décadas. Então mudanças em termos e definições são bastante comuns.

É o que explicou o professor Leandro Colling, pesquisador de Estudos Queer da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em entrevista ao portal Queer, do IG: “As nossas maneiras de lidar com a sexualidade e com o gênero variam no decorrer do tempo. Há 15 anos, nós, acadêmicos, e também muitas pessoas trans, dizíamos que as identidades trans, travestis e transexuais eram variações da homossexualidade. Hoje o movimento social entende que as identidades trans são variações das identidades cisgênero”.

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Por ser um termo fluido, sem definição tão exata, portanto, “queer” vem sendo utilizado como um “guarda-chuva” para pessoas que manifestam sua sexualidade ou seu gênero de maneira menos exata.

Aprofunde-se no significado e nas pautas de cada “letra” da sigla LGBTQIA+

E aí? O que você pensa sobre a utilização do vocábulo “queer”? É importante deixar registrado que, independentemente de rótulos, o essencial é que uma pessoa viva sua sexualidade e sua definição de gênero de maneira plena, em vez de se importar com esta ou aquela expressão, a não ser, é claro, que esteja preocupada em se definir. Viva a plenitude da sua sexualidade!

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