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Coisas que você precisa saber sobre a assexualidade

Cubos de madeira com os escritos "asexual" vistos de cima.
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Escrito por Eu Sem Fronteiras

Você certamente já deve ter topado com palavras como heterossexual, homossexual e bissexual, por exemplo. Essas palavras definem a nossa orientação sexual, ou seja, o que faz com que nos sintamos sexualmente atraídos e excitados e como (e com quem) realizamos nossos desejos.

Os estudos iniciais sobre sexualidade dividiam nossa orientação sexual em apenas dois espectros: ou seríamos heterossexuais (aqueles que sentem atração por pessoas do sexo oposto) ou seríamos homossexuais (aqueles que sentem atração por pessoas do mesmo sexo). Alguns autores até mesmo admitiam a existência da bissexualidade, ou seja, pessoas que se sentiam atraídas por ambos os sexos.

Foi somente no final da década de 1940 que um biólogo norte-americano chamado Alfred Kinsey desenvolveu uma escala que mudou o modo como a sexualidade era entendida. A Escala Kinsey subdividia o comportamento sexual em sete níveis: o nível 0 era dedicado a pessoas “exclusivamente heterossexuais” e o nível 6 era dedicado a pessoas “exclusivamente homossexuais”. Entre esses níveis, havia definições como “bissexual”, “predominantemente heterossexual, apenas eventualmente homossexual” ou “predominantemente homossexual, apenas eventualmente heterossexual”.

Mas o que Kinsey realmente trouxe de novo foi uma definição inédita até então, definida pelo nível X na escala que desenvolveu: pessoas assexuais, que, segundo o especialista, eram cerca de 1% da população mundial.

O que é a assexualidade?

A assexualidade é uma orientação sexual, ou seja, está na mesma “categoria” que definições como heterossexualidade (interesse sexual por pessoas do gênero oposto), homossexualidade (interesse sexual por pessoas do mesmo gênero) e bissexualidade (interesse sexual por pessoas de ambos os gêneros).

Mas o que significa a palavra “assexual”? O que define uma pessoa assexual é a ausência de interesse e vontade de sexo envolvendo penetração, apesar de sexo oral e masturbação possivelmente fazerem parte da vida sexual. Apesar dessa falta de interesse, as pessoas assexuais têm desejo de cultivarem intimidade e relacionamentos, apenas não gostam da penetração.

Há alguma confusão entre os termos “assexual” e “assexuado”, então é importante notar que a segunda palavra não pode ser usada para se referir a essa orientação sexual, porque assexuado é o ser vivo que se reproduz sem troca de gametas, portanto é algo completamente diferente de uma orientação sexual.

Apesar da definição explicada neste tópico, há tipos diferentes de assexualidade, e muitas pessoas não se encaixam em nenhum rótulo.

Os tipos de assexualidade

Cada pessoa manifesta sua sexualidade de uma forma única e individual, então rótulos não são muito funcionais quando falamos sobre sexo. Apesar de a assexualidade ser definida como ausência de interesse em relação sexual, mesmo havendo interesse em relações amorosas, há níveis ou tipos diferentes de assexualidade.

Bandeira que representa a assexualidade
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A escala mais conhecida dos tipos de assexualidade foi criada por David Jay, que fundou a Rede de Visibilidade e Educação Assexual (AVEN, em inglês). Segundo ele, há quatro tipos de assexualidade: os assexuais tipo A, que sentem atração romântica, mas não sexual, por pessoas do gênero oposto (heterorromânticos); os assexuais tipo B, que sentem atração romântica, mas não sexual, por pessoas do mesmo gênero (homorromânticos); os assexuais tipo C, que sentem atração romântica, mas não sexual, por pessoas de ambos os gêneros (birromânticos); e os assexuais tipo D, que não sentem nenhuma atração romântica ou sexual por pessoas de nenhum gênero.

Como não há uma definição exata a respeito do que é assexualidade, há outros espectros de sexualidade que geralmente são associados à assexualidade. Conheça alguns deles:

  • Demissexual: é a pessoa que só se sente à vontade para praticar qualquer ato sexual se houver, antes do tesão e dos desejos sexuais, alguma conexão emocional com a pessoa com quem está se relacionando. Então leva pouco em conta coisas como atração física e sexual.
  • Demirromântica: um pouco semelhante ao demissexual, com a diferença de que não manifesta sequer um sentimento afetivo ou romântico até que exista alguma conexão emocional com a pessoa com quem está se relacionando.
  • Grayssexual (ou Gray-A): é aquela pessoa que não se considera assexual ou sexual, pois sua libido varia de acordo com a pessoa com quem se relaciona, com as condições de sua vida e muitas outras variáveis.
  • Assexual romântico: ainda que não sinta desejo ou atração sexual, tem vontade de manter um relacionamento afetivo por causa de todos os outros benefícios de uma relação.
  • Assexual estrito: pessoa que não tem nenhum desejo de fazer sexo com alguém, sob nenhuma circunstância.
  • Litossexual: é aquele que sente atração sexual por outras pessoas, mas não deseja que ela seja recíproca. Então a atração que sente “desaparece” quando percebe reciprocidade.
  • Cupiossexual: quem não sente atração por nenhuma pessoa, mas deseja ter uma vida sexual ativa porque tem prazer em fazer sexo (nesse caso, não há atração, mas há desejo).
  • Assexual fluído: quem sente seu espectro assexual fluir, porque sua atração sexual e/ou desejo sexual flutuam, ou seja, podem mudar de acordo com o dia ou o humor da pessoa.
  • Assexual arromântico (também chamado Aroace ou Acearo): são as pessoas que, além de serem assexuais (não sentem vontade de fazer sexo), são arromânticas, ou seja, não sentem nenhuma atração romântica por outras pessoas e não gostam de se relacionar desse modo com os outros.
  • Frayssexual: quem só sente atração sexual se não tiver vínculos afetivos com a pessoa. Nesse caso, a atração sexual pode desaparecer caso se desenvolva uma conexão emocional com o outro.
  • Mirsexual: pessoa que se identifica, ao mesmo tempo, com duas ou mais orientações do espectro assexual, podendo ser, por exemplo, um demigrayssexual.

Tem como ser assexual e hétero?

Uma vez que as pessoas assexuais podem se relacionar romanticamente com outras, existem sobreposições de espectros de sexualidade que podem se cruzar, fazendo com que existam pessoas assexuais e heterossexuais ao mesmo tempo, por exemplo.

Isso significa que um indivíduo sentirá atração por pessoas do sexo oposto ao seu (porque é heterossexual) e que pode, inclusive, namorar ou ter relações amorosas com essa pessoa, mas que não sentirá em nenhum momento vontade de se relacionar sexualmente com ele(a), porque é assexual.

Como é se relacionar com uma assexual?

Para o relacionamento entre uma pessoa assexual e alguém de outra orientação sexual dar certo, o diálogo, a maturidade e a empatia são de suma necessidade. Pode ser que uma pessoa assexual se envolva e se relacione com uma pessoa que tem fortes desejos sexuais, e as questões acerca disso devem ser resolvidas e conversadas entre o casal, buscando sempre soluções que agradem ambas as partes e não prejudiquem o relacionamento.

Silhueta de uma pessoa encostando a cabeça no ombro de outra pessoa
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Nesses casos, um relacionamento aberto pode ser a solução, por exemplo, para que a pessoa com desejos sexuais consiga suprir suas necessidades carnais de alguma forma. Pode ser também que a pessoa assexual abra exceções ou curta carinhos íntimos de outras maneiras que não exatamente sexuais, mas que consigam satisfazer o desejo de seu/sua parceiro(a). Há também a alternativa de a pessoa que gosta de sexo abrir mão de fazê-lo para assumir um compromisso de completa entrega ao seu par.

Fatos e mitos sobre a assexualidade

Pessoas assexuais podem namorar: FATO. Como não só de sexo se sustenta uma relação, pessoas assexuais podem, sim, namorar e, aliás, é comum que isso aconteça. Apesar de o casal não manter relações físicas íntimas, pode apostar que muito amor será cultivado nesse tipo de relacionamento, porque uma pessoa assexual é capaz de ter uma vida romântica como qualquer outra.

Assexualidade não é celibato: FATO. Celibato é quando uma pessoa tem desejos sexuais, mas os reprime por um voto de castidade ou promessa religiosa. O que acontece com as pessoas assexuais é diferente, pois não existe nenhuma repressão em relação ao sexo, mas a falta de vontade de fazê-lo; por isso elas se abstêm desse tipo de relação carnal.

A assexualidade é uma doença: MITO. Por muito tempo, a assexualidade foi investigada como uma patologia e interpretada como resultado de algum trauma emocional ou psíquico, mas essas hipóteses já foram refutadas. Inúmeras pesquisas mostram que os indivíduos autoidentificados como assexuais não possuem traumas e alteração dos níveis hormonais esperados.

Assexualidade é uma escolha de estilo de vida: MITO. Assim como não se pode falar que ser gay ou lésbica é uma escolha de estilo de vida, a assexualidade deve ser vista da mesma forma. Quem é assexual não faz voto de castidade, não está passando por uma “fase de seca” ou nada desse tipo, mas simplesmente não se interessa por ter relações sexuais.

Os assexuais ainda não encontraram a pessoa certa: MITO. Tanto quanto não se pode dizer que uma lésbica só é lésbica porque ainda não encontrou o homem certo, não se pode definir que pessoas assexuais ainda não encontraram a pessoa certa. Até mesmo porque existem assexuais que se apaixonam e mantêm relações românticas, mas não sentem desejo de ter relações carnais com o(a) parceiro(a).

Quase não existem pessoas assexuais: MITO. Embora faltem pesquisas sobre a população assexuada, estima-se que cerca de 1% da população mundial o seja. O problema, porém, é que esse assunto ainda é pouco explorado e falado, o que significa que podem existir muito mais indivíduos assexuais que simplesmente ainda não têm esse termo para se autodefinir como um.

A assexualidade não existe e é uma criação moderna: MITO. Como qualquer outra sexualidade, a assexualidade muito provavelmente sempre existiu no ser humano. A diferença é que isso apenas é pauta hoje em dia porque são atuais os estudos sobre gênero e formas diversas de se relacionar e amar.

Pessoas assexuais são frias e incapazes de amar: MITO. Como já foi dito anteriormente, a assexualidade não é uma patologia, portanto não existe nada que diga respeito a pessoas assexuais serem frias ou incapazes de amar. Como qualquer outra pessoa de qualquer outra sexualidade, os assexuais conseguem criar laços e conexões sentimentais com os outros e podem até mesmo engatar em relacionamentos sérios e românticos.

Qual a diferença entre ser assexual e ser panssexual?

Tanto a assexualidade quanto a panssexualidade são sexualidades, isto é, dizem sobre como um indivíduo se relaciona e por quem ele sente atração. Enquanto a assexualidade é a definição de quem não se interessa por ter relações sexuais, a panssexualidade define aqueles que se interessam, sexual e amorosamente, por pessoas de quaisquer gêneros e de qualquer sexo.

Qual é a bandeira assexual e o que ela significa?

A bandeira do movimento assexual é um símbolo de quatro listras horizontais: uma preta, uma cinza, uma branca e uma roxa. Isso porque estas cores sempre foram usadas para representar os espectros assexuais, significando a passagem entre a ausência da atração sexual até a sua existência, num gradiente.

A escolha de a bandeira ser simples, composta apenas por barras de cores diversas, foi com o objetivo mesmo de se ter um design mais limpo, que evitasse associações com simbologias indesejadas, como desenhos ou sinais que pudessem remeter a outros significados que divirjam do movimento.

Esse símbolo do movimento assexual foi criado em 2010 e escolhido por votação por meio de um fórum denominado AVEN (Assexual Visibility and Education Network), que era uma mídia social dentro dos domínios do Yahoo!, na qual pessoas assexuais interagiam e discutiam temas acerca de sua sexualidade.

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Após muitas discussões e algumas sugestões de bandeiras que vinham sendo criadas por usuários da AVEN desde 2009, a bandeira de quatro listras que hoje representa esse pessoal foi escolhida como oficial. Em 2011, a bandeira assexual foi abraçada pela comunidade LGBTQIA+, que começou a utilizá-la em paradas e eventos diversos e, a partir daí, a assexualidade ganhou, de fato, mais visibilidade.

Como saber se sou assexual?

Essa é uma pergunta sem resposta definitiva! O que você pode fazer é observar o seu próprio comportamento e como se manifestam o seu desejo e as suas vontades sexuais. Se você percebe em si uma vontade de manter relacionamentos amorosos (ou até de não manter nenhum), mas nota que não sente desejo por sexo ou por manter relações sexuais tradicionais, com penetração, é possível que você seja assexual.

Mas lembre-se de que a sexualidade é uma coisa fluida. Você já deve ter visto casos de pessoas que mantiveram relações heterossexuais por um bom tempo, mas descobriram interesses homossexuais ou bissexuais em determinado ponto da vida, certo? Isso acontece porque, ao contrário do nosso sexo, que é algo biológico, a sexualidade é um interesse que pode mudar ao longo de nossa existência e da maneira como manifestamos nossos desejos.

Então, se você se considera assexual, e ter essa definição em mente parece importante para você, faça isso. Mas não se preocupe tanto em se rotular, porque você pode, por exemplo, viver boa parte da vida sem interesse sexual, mas descobri-lo numa relação com uma pessoa específica, por exemplo. Ou seja, nada é muito permanente quando falamos de orientação sexual.

Tudo sobre assexualidade:

Agora que você conheceu tudo sobre a assexualidade, o que acha sobre essa orientação sexual? Apesar de ainda ser um pouco desconhecida, esse é um comportamento normal, e não há nada de errado com ele. Em nossa sociedade, estamos habituados a associar a satisfação de alguém a uma vida sexual ativa e à manutenção de relacionamentos, mas isso não é verdade, e a felicidade sexual e romântica pode vir de diferentes maneiras, inclusive não existir. Se você se considera assexual, saiba que não há nada de errado com você!

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