Energia em Equilíbrio Yoga

O templo do Yoga

Escrito por Pedro Kupfer

Imagine o Yoga como um templo. Tenha em sua mente uma imagem de uma construção belíssima feita dos mais nobres materiais. Para este templo ser erguido foi necessário a contribuição de inúmeras gerações de sábios e yogis, dando sempre o melhor de si, além de visões e revelações dos mestres antigos, sobre questões como o sentido da existência e como realizar as aspirações mais altas da vida humana. Neste templo há os frutos e as dádivas de milhares de praticantes. Mesmo construído com muitas mãos ao longo dos anos, existe uma unidade em toda a estrutura deste lindo templo, isto porque o objetivo final do Yoga é, e sempre foi, a prioridade de todos os seus construtores.

O templo do Yoga foi construído com mármore, granito, sândalo e ébano, além de prata e ouro. Suas paredes são cobertas por uma infinidade de esculturas e pinturas: registros de antigos praticantes. Sua estrutura central é rodeada por altas torres. Uma imensa cúpula dourada irradia luz em todas as direções, que é o guia muitas pessoas. Suas escadas conduzem os visitantes ao seu interior, e impressionam por sua beleza e harmonia das linhas.

Diversos portais e portas servem como entrada, e cada uma têm o seu nome, tamanho e direção. Para acessar as riquezas do templo, basta escolher qualquer uma dessas aberturas. Seus nomes podem ser infinitos e cheios de possibilidades, como Mantra Yoga, Hatha Yoga, Karma Yoga, Jñana Yoga, Kundalini Yoga, Tantra Yoga…

Independentemente da porta em que se escolha entrar, todos acabam no interior do templo. O “lado de dentro” do Yoga é chamado samadhi, que se traduz como iluminação, ou então, moska, que se traduz como liberdade.

As portas deste templo estão abertas a quem quiser, mesmo que a iluminação não seja o objetivo que todas as pessoas busquem no Yoga.
Mulher praticando uma postura de yoga à beira do mar, durante o pôr do sol.
kike vega / Unsplash

As diferentes portas do templo fazem parte dos diferentes estilos e tradições do Yoga, que nos ajudam a entrar em um estado de paz e assim, não há motivos para discutir qual escolha seria a melhor. Atingir o caminho para o estado de paz interior torna as diferenças entre os estilos do Yoga supérfluos, afinal o que importa apenas é encontrar e estar neste estado.

Quando se adquire intimidade com o Yoga, qualquer estilo, ou porta, pode ser usado a qualquer momento. Quando se está dentro do templo, você passa a reconhecer as pessoas que também encontram a tranquilidade e se torna capaz de ajudar outras a seguirem por este caminho.

Neste momento, você passa a notar que cada pessoa se move com liberdade dentro do Yoga e, da mesma forma, você reconhecerá o quanto compartilhar o espaço com solidariedade e mente aberta é importante. E também, como é vital manter as portas do templo abertas, para que o máximo de pessoas possa encontrar os benefícios do Yoga e da paz que a prática traz.

Recentemente, porém, o templo sofreu algumas reformas que fugiram dos planos dos arquitetos originais. Aqueles que deveriam zelar pela fluidez no acesso ao templo passaram a agir como proprietários, restringindo a entrada de muita gente que apenas buscava o estado de liberdade. Mesmo que algumas portas pareçam indicar o interior do templo, na verdade apenas levam para corredores escuros e longes do espaço central e sagrado onde brilha a luz do conhecimento.

Assim, hoje se pode distinguir dois tipos de entrada ao Yoga: os ramos clássicos e que sempre existiram:  Hatha, Raja, Jñana, Karma, Bhakti, Mantra, etc; e os produtos das reformas, que levam o nome dos professores que ensinam essas formas particulares, centradas apenas da experiência da prática física.

Não existe nada de errado em práticas que possam enriquecer o Yoga, já que o Yoga foi o primeiro a assimilar e sintetizar outras tradições, a fim de deixar sua mensagem mais lúcida e acessível.
Algumas contribuições ao campo dos Yogas, centrados no corpo e na experiência física, como o Hatha e a Yogaterapia, foram construídas por pesquisadores e fisioterapeutas ocidentais.

Erra-se, porém, quando se considera dono de alguma porta do Yoga, ou seja, de algum estilo da prática, invés de considerar que o Yoga é um patrimônio de todos os seres. É inevitável: algumas portas são fechadas por seus “donos” e isso contribui para que algumas tradições sejam esquecidas, ou então, para que ninguém mais as pratique hoje em dia.

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É importante então, compreender que todas as portas são válidas, já que todas visam ingressar no estado de paz: o corpo, a meditação, a respiração, a devoção, o som, a ação, ou o conhecimento. A via, meio ou porta usada não interessa.

O que importa é se você consegue se manter dentro desse estado e quais são suas contribuições para que outras pessoas possam se beneficiar dele. Além de tudo isso, pense sempre na forma como você se relaciona com o seu próximo, esteja ele dentro ou fora do templo do Yoga.

Namaste!

Sobre o autor

Pedro Kupfer

Pedro vive de vegetais, praia e surf. É casado com Ângela Sundari, com quem viaja com frequência para surfar, estudar, ensinar e compartilhar momentos bons com os seres humanos, plantas e animais deste belo planeta. Ensina Yoga há 30 anos. Move-se entre Portugal, Brasil, Índia, Indonésia e Chile, lugares que ama por diferentes motivos, sendo o mais importante de todos, as pessoas que conhece neles.

Oṁ Gaṁ Gaṇapataye namaḥ!

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