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O valor filosófico do silêncio

Uma mulher jovem está sentada sobre uma ponte de madeira. Ela está contemplando o rio e a natureza ao seu redor.
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Escrito por Luis Lemos

Por que o silêncio nos incomoda tanto? Será que calar é mesmo ausência ou pode ser presença plena? Em meio a tanto ruído, o que estamos deixando de ouvir? Descubra como o silêncio pode transformar sua mente e sua vida. Continue lendo e surpreenda-se!

A sociedade atual é barulhenta. Há ruído por todos os lados, nas ruas congestionadas, nas salas de aula, nos templos religiosos e, sobretudo, nas redes sociais. Vivemos um tempo em que o silêncio assusta. Parece que, se não estamos falando, reagindo ou produzindo algum som, estamos fora do mundo. Mas será mesmo?

O filósofo francês Blaise Pascal já advertia: “Toda a infelicidade dos homens provém de uma única coisa: não sabermos ficar sozinhos, em repouso, num quarto”. Essa dificuldade de habitar o silêncio pode estar ligada ao medo do encontro consigo mesmo. Afinal, quando calamos o mundo, escutamos nossos próprios pensamentos, e isso nem sempre é confortável.

Martin Heidegger, no século XX, refletiu sobre o “ouvir originário”, o ouvir que antecede a fala. Para ele, o silêncio não é ausência de comunicação, mas uma forma mais profunda de escuta. No silêncio, o ser humano se aproxima do ser em sua autenticidade. Calar é, então, uma atitude filosófica.

Para os mestres orientais, como Lao-Tsé, o silêncio é a morada da sabedoria. O Tao Te Ching afirma: “O sábio não fala, quem fala não é sábio”. Não se trata de ficarmos mudos, mas de economia das palavras, dizer apenas o necessário, e, mais importante, escutar com atenção plena, exercitar a escuta ativa.

Um estudante está prestando a atenção na aula. Ao redor dele, há outros estudantes. Todos estão em uma sala de aula.
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Na educação, o silêncio também é potência. Paulo Freire alertava que ensinar não é despejar palavras, mas criar espaços de escuta e diálogo. Numa sala de aula, o silêncio do professor pode ser um convite à reflexão, à interiorização do conteúdo. É no intervalo entre uma pergunta e outra que muitas vezes nasce à consciência crítica.

O silêncio também cura. Em meio à correria e ao excesso de estímulos, o recolhimento silencioso pode restaurar a saúde mental, emocional e espiritual. É no silêncio que o corpo descansa, a mente se reorganiza e o coração encontra paz. Muitas tradições espirituais recomendam o silêncio como forma de meditação e reencontro interior, uma terapia gratuita e milenar.

A “filosofia do silêncio” propõe justamente isso: um retorno ao essencial. E nesse sentido, filosofar é, antes de tudo, escutar. Escutar o outro, o mundo e a própria consciência. Como sugeria Simone Weil, a atenção profunda, quase uma forma de oração, nasce da quietude interior. Sem essa quietude, não há espaço para o pensamento, para a empatia, para a ética.

Por isso, desacelerar não é luxo, é necessidade. Precisamos cultivar espaços de silêncio como quem cultiva um jardim: com cuidado, com regularidade e com gratidão. É no silêncio que muitas respostas nascem e que muitas perguntas ganham sentido.

É preciso reaprender a valorizar o silêncio, não como um vazio a ser evitado, mas como uma pausa fecunda. Em tempos de excesso de informação e de estímulos contínuos, silenciar pode ser um ato de resistência, de cuidado com a mente e com o outro.

Em um mundo que vive à beira do esgotamento sensorial, o silêncio não é ausência. É presença plena. Talvez, no fim das contas, não sobreviva o mais ruidoso, mas aquele que souber ouvir, e calar, no tempo certo.

Silenciar é, enfim, uma forma de escutar a vida com mais profundidade. Como disse Rubem Alves: “A alma é uma catedral que não se enche com barulho. É no silêncio que ela canta”.

Sobre o autor

Luis Lemos

É professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar A filosofia em contos amazônicos" (2011), “O homem religioso A jornada do ser humano em busca de Deus” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas Histórias do universo amazônico” (2019), “Filhos da quarentena” (2021) e “Amores que transformam” (2024).

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