Autoconhecimento

Se contemple

Mulher loira de blusa preta se encarando no espelho.
Escrito por Bluma Hausswolff

Acho que a maneira mais bonita de aplacar a ansiedade é se parabenizando por ter chegado até onde você está hoje, exatamente como se incentiva uma criança aprendendo a andar, comprometida com a sua vontade de dar passos maiores, depois giros, saltos. Só que todo ballet precisa antes do amadurecimento dos joelhos. E isso é uma metáfora ampla: a vida também é uma dança. É gradativa.

Pessoa dançando em frente ao Taj Mahal.

Alcançar a versão final é sempre uma expectativa, eu fico pensando. É sempre futuro. E o futuro é escorregadio porque se vai na medida em que se vive, no compasso da respiração. Um descuido, um arquejo e o amanhã já se tornou tardio, virou poeira. O que fica são os esboços do que a gente vai desenhando no processo, e pensar nesse ciclo pode te paralisar de medo ou te fazer correr até o próximo passo. Nada disso é bem uma novidade, nunca foi. Mas sempre nos esquecemos de que o resultado desses dilemas trazidos pela ansiedade se resolvem apenas com gentileza de escolha e de percepção.

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Ainda somos poucos gentis com a gente, mas costumamos perceber essa falha tardiamente.

Isso significa que, ao olharmos para o prisma de nossas vidas, notaremos mais autocrítica do que aconchego. Só que empatia não se aplica apenas ao outro, porque deve se estender também para o centro do próprio peito – não do umbigo. Ela é necessária na primeira pessoa do singular, de forma que contemplar nossos pequenos feitos acaba sendo não só um reforço ou uma forma de alívio, mas uma construção do mapa de quem somos nós. ⠀

Homem sentado meditando.

Não há como saber onde estamos chegando ou o que queremos achar no final se durante o percurso passamos voando – e sequer (nos) enxergamos, seja pela ânsia de dar resultados, de provar eficiência ou qualquer outra coisa assim. Se esse virtualismo de hoje nos encoraja apenas a correr para mostrar algo, o ritmo da vida real precisa ir na contramão. O que encontramos, o que descobrimos, o que conseguimos, por mais simples que seja? É preciso ter atenção, pois somos o ajuste entre todas as partes de um todo, inclusive em nossa biologia particular e em nosso corpo. Somos colcha de retalhos. ⠀

E isso, cada parte disso, importa.

Sobre o autor

Bluma Hausswolff

Bluma Hausswolff nasceu na Itália, em Milão. É artista da dança, escritora e através da Psicanálise e do leque terapêutico,
deseja tocar o íntimo e expandir o potencial de (ser) humano.

Contatos:

E-mail: blumahausswolff@outlook.com
Instagram: @blumahausswolff