Psicologia

Síndrome de Munchausen: Conheça a doença

Imagem de uma mulher na cama olhando o termometro e agasalhada
Ivan Posavec de Getty Images/ Canva
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Alguém que está sempre doente, cujo quadro não melhora, mesmo com medicamentos e ajuda médica, e sempre recebe muita atenção das pessoas em seu entorno e da equipe médica. Pode parecer um quadro de doença rara, mas também pode ser a síndrome de Munchausen, em que o paciente finge estar doente.

Essa doença psiquiátrica, de difícil diagnóstico, faz com que o paciente busque a recompensa emocional que estar doente traz consigo, como a atenção e os cuidados que recebe. E, para que isso seja possível, é capaz de infligir grandes danos a si mesmo.

Confira todos os detalhes sobre a síndrome de Munchausen, como ela se manifesta, como é feito o diagnóstico, quais são os principais sintomas e de que forma o tratamento acontece, além de personagens da ficção que apresentam o problema!

O que é a síndrome de Munchausen?

Em suma, a síndrome de Munchausen (também conhecida como síndrome de Münchhausen) é uma doença psiquiátrica do grupo que a Psiquiatria chama de transtornos factícios, que são aqueles nos quais os pacientes causam doenças ou traumas em si mesmos.

Nessa síndrome, o paciente provoca ou simula doenças (ou seus sintomas) de maneira contínua, deliberada e compulsiva, e o objetivo gira em torno de chamar e receber atenção, bem como simpatia de pessoas próximas ou de equipes médicas.

Além disso, a outra coisa que caracteriza a síndrome de Munchausen é que os pacientes nunca esperam recompensas ou vantagens materiais por causa das doenças que fingem, porque o objetivo é puramente emocional, no sentido de receber os cuidados para a patologia que infligiram a si mesmos.

Em alguns casos extremos, os pacientes com síndrome de Munchausen estudam uma doença com profundidade para que possam simular os sintomas ou até mesmo causá-los de maneira deliberada para atingirem o objetivo de chamar atenção.

Sintomas da síndrome de Munchausen

Diagnosticar a síndrome de Munchausen pode ser muito complicado, porque, muitas vezes, isso exige a cooperação entre vários membros de um corpo médico, como psiquiatras, neurologistas e outros médicos com formação em diferentes especialidades.

Em resumo, porém, podemos resumir alguns sintomas que costumam caracterizar os pacientes com o problema – lembrando, contudo, que cada caso é individual e pode se manifestar de maneira única.

Imagem de um médico com o estetoscópio no peito do paciente
superohmo/ Canva

• O paciente é diagnosticado com uma doença cujos sintomas são exatamente aqueles descritos na literatura médica (o que mostra que ele estudou a doença).
• Apesar dos sintomas evidentes, o tratamento se mostra ineficiente e/ou instável.
• O paciente demonstra conhecimento profundo a respeito da doença e dos procedimentos que envolvem o problema de saúde.
• Além disso, o paciente se mostra não desagradado, ansioso e até mesmo desejoso de receber um diagnóstico negativo e/ou de se submeter aos exames e procedimentos médicos.
• O histórico médico pode apresentar diversas outras doenças ou o mesmo problema atual, todos com dificuldade de cura e tratamento.
• O paciente consulta médicos e faz exames e procedimentos com frequência, às vezes em diferentes hospitais.
• É comum que o paciente recuse que a equipe médica peça para se comunicar com familiares, amigos e pessoas próximas.
• O paciente apresenta sintomas ou tem histórico de transtornos psicológicos ou de sinais como insegurança emocional, teatralidade (exagero/fingimento no comportamento) e carência afetiva.

Diferenças entre a síndrome de Munchausen e outras doenças

Os sintomas da síndrome de Munchausen, assim como de outros transtornos psiquiátricos, são similares aos de outros problemas de ordem psiquiátrica. Por isso, é comum que ela seja confundida especialmente com hipocondria, transtornos somatoformes e outro problema chamado folie à deux.

Em relação à hipocondria, o que definitivamente diferencia os dois problemas é que o hipocondríaco pensa frequentemente estar doente, mas tem pavor disso, ao passo que o paciente com síndrome de Munchausen parece se agradar da atenção que recebe por ser diagnosticado. É frequente também que o hipocondríaco acredite estar com sintomas que são refutados por exames, enquanto aqueles com síndrome de Munchausen são capazes de produzir a doença efetivamente.

Já os transtornos somatoformes são aqueles nos quais problemas psiquiátricos e psicológicos causam sintomas físicos. Por exemplo, uma depressão pode causar insônia e perda de apetite; um burnout, indisposição física e enjoo; e assim por diante. O que diferencia esses transtornos da síndrome é que os sintomas não são intencionais, ou seja, a pessoa não “vai atrás” de senti-los.

Por fim, a folie à deux se parece bastante com a síndrome de Munchausen por procuração (confira no tópico mais adiante), mas é um problema no qual a pessoa sente sintomas físicos causados por um relacionamento patológico. Por exemplo: sintomas de transtorno de ansiedade por estar perto de pai/mãe abusivos ou de um(a) companheiro(a) em um relacionamento tóxico; quando afastado da relação patológica, o paciente percebe que os sintomas se reduziram.

Causas da síndrome de Munchausen

As causas da síndrome de Munchausen ainda são um mistério. Na verdade, é mais preciso dizer que são inexatas, porque, muitas vezes, envolvem uma mistura de vários fatores. Aqueles que estudam esse problema apontam que as causas podem ser tanto biológicas (derivadas de outros transtornos psiquiátricos) ou comportamentais.

Entre as causas comportamentais, são apontadas como potencializadoras desse problema situações como:

• Pais ausentes emocionalmente ou devido a doença/morte.
• Traumas de infância.
• Quadros de saúde graves na infância.
• Frustração do desejo de trabalhar na área médica.
• Baixa autoestima.
• Carência afetiva.

Tratamento da síndrome de Munchausen

Imagem de um médico fazendo uma prescrição para uma paciente em seu consultório
Syda Productions/ Canva

O tratamento depende muito do diagnóstico, que pode levar anos e até décadas para ser feito. Portanto, se você suspeita disso ou conhece alguém que pode sofrer com esse problema, é uma boa ideia abordar um psiquiatra em consulta e falar a respeito disso. Muitas vezes, o diagnóstico é feito com base na confissão do paciente.

O tratamento depende muito de que uma equipe formada por psiquiatra e psicólogo entenda as possíveis causas do problema e também as hipotéticas recompensas emocionais que o paciente recebe por causa do problema.

O tratamento passa pela psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, que vai ajudar o paciente a identificar e trabalhar possíveis transtornos do humor, de ansiedade, de personalidade borderline, além de traumas de infância, carências afetivas, entre outros comportamentos que possam potencializar esse problema.

Medicamentos antidepressivos podem ajudar a reduzir os sintomas e a frequência com que esse problema se manifesta e prejudica a qualidade de vida do paciente.

Síndrome de Munchausen por procuração

Uma variação bem conhecida da síndrome de Munchausen é a chamada síndrome de Munchausen por procuração (do inglês “by proxy”). Nesse problema, os pais ou cuidadores informam a uma criança ou adolescente a existência de um problema médico inexistente, muitas vezes convencendo especialistas e até provocando os sintomas nas vítimas.

Segundo Phillip Resnick, especialista nesse problema de abuso infantil, 85% dos casos identificados são perpetrados pela mãe. A taxa de mortalidade é considerada alta, por volta de 10%. O principal comportamento pode variar de dois extremos: filhos que vivem doentes, sendo que a mãe se recusa a levá-los ao médico; ou visitas mais do que frequentes a consultas e hospitais.

Em suma, os cuidadores, muitas vezes, fazem isso para serem considerados necessários pelas crianças e adolescentes, porque sempre são os responsáveis pelos cuidados em relação aos problemas que causam. Dessa forma, recebem a atenção desejada, que é o objetivo daqueles que sofrem com a síndrome de Munchausen.

Sintomas da síndrome de Munchausen por procuração

O diagnóstico dessa modalidade de síndrome de Munchausen normalmente se faz por exclusão, e também exige que o corpo médico tenha atenção não somente com o paciente infantil, mas também para identificar traços preocupantes no comportamento do cuidador. Confira as principais situações que possibilitam a identificação da síndrome de Munchausen por procuração:

• O cuidador é uma pessoa com grande carência afetiva e/ou traumas de infância associados a isso.
• As doenças do paciente nunca são curadas ou evoluem de maneira persistente e fora da normalidade.
• Acidentes suspeitos são relatados pelos cuidadores.
• O cuidador tem conhecimento muito profundo a respeito da enfermidade, especialmente dos sintomas.
• Em caso de casais cuidadores, distanciamento do cônjuge, o que deixa a responsabilidade dos cuidados sobre o portador da síndrome de Munchausen.
• O cuidador sempre está presente e não permite que ninguém assuma os cuidados.
• Sintomas e sinais da doença desaparecem quando o cuidador é afastado do convívio.
• O cuidador tem comportamento instável no trato com a equipe médica: ora muito instável e exigindo atenção e tratamento, ora calmo, mesmo mediante uma situação preocupante.

Síndrome de Munchausen no entretenimento

Por ser bastante pitoresca e pouco conhecida, a síndrome de Munchausen já foi tema de muitas produções, como filmes e séries. Confira algumas obras que retratam esse problema:

“Sharp Objects” (série): nesse seriado, Camille Preaker (Amy Adams) volta à cidade onde nasceu para investigar os assassinatos de duas garotas, mas também passa a precisar lidar com suas próprias questões, especialmente os conflitos com sua mãe, Adora (Patricia Clarkson). A síndrome de Munchausen tem um papel central na série. Mas falar mais sobre isso seria entregar spoilers.

“Fuja” (filme): nessa produção da Netflix, Chloe (Kiera Allen) é uma adolescente que sofre com inúmeras doenças. Ela se locomove com a ajuda de cadeira de rodas, por causa de uma paralisia. Porém, pouco a pouco, a garota começa a achar que sua mãe, Diane (Sarah Paulson), talvez seja causadoras dos muitos problemas de saúde que enfrenta.

“The Act” (série): esse seriado conta a história verdadeira de Dee Dee Blanchard, que simulou e produziu uma série de doenças em sua filha, Gypsy Rose, para poder receber ajuda financeira e atenção. O caso acabou na justiça porque a garota pediu a ajuda do seu então namorado para assassinar a mãe e escapar do relacionamento abusivo.

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“Travessia” (novela): na trama da Rede Globo, Guida (Alessandra Negrini) desenvolve a síndrome de Munchausen devido a um quadro maníaco-depressivo no qual entra por querer se vingar de Moretti (Rodrigo Lombardi). Inicialmente, quem desenvolveria esse problema no folhetim seria a personagem interpretada por Jade Picon, mas o papel foi transferido por causa das críticas à atriz.

Enfim, essas são as principais informações a respeito da síndrome de Munchausen. Difícil de ser diagnostica, ela pode colocar em risco não só o paciente, mas também que estejam sob os cuidados dele (no caso da síndrome de Munchausen por procuração). Mas o problema tem tratamento, e o quadro pode ser curado. Por isso, é essencial procurar ajuda médica.

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