Há lições que apenas o tempo nos ensina, permitindo-nos perceber a vida e sua complexidade de maneira ainda mais profunda. Daí se pergunta: seria a escolha entre conduzir ou ser conduzido um caminho obrigatório?
Somos, por regra, educados para nos adequar a papéis pré-definidos: liderar, ser a referência para muitos ou, em contrapartida, obedecer, seguir o fluxo, não questionar.
Só que a realidade é muito mais complexa do que apenas tocar a vida dentro desses parâmetros: nem sempre é necessária uma posição de comando para se desenvolver o potencial possível, assim como não se faz imprescindível a submissão para compreender o valor do coletivo.
A figura do “pastor de ovelhas” remete ao entendimento de alguém que protege e cobra disciplina: é a quem cabe defender seu grupo e tomar para si o peso da responsabilidade, antecipando-se aos riscos que seus liderados podem não estar enxergando. Destes, por sua vez, se espera que respondam com confiança, humildade para reconhecer as próprias limitações e uma irrestrita fidelidade e interação com o grupo ao qual pertençam.
Só que o observador não envolvido pode mais facilmente evitar rumos equivocados, pois ao preservar sua independência, consegue aprender melhor com os erros dos outros dois do que com os próprios, em se colocando assim como permanente aprendiz no seu posto de observação, não precisará errar para corrigir o próprio curso.
É nos ensinado que na vida cabe-nos escolher essencialmente entre o pastor e a ovelha como modelo a ser seguido, de modo a enfrentar o caminho que nos está reservado mais à frente. Mas a pergunta que fica é se temos efetivamente que incorporar um desses dois papéis para garantir o melhor resultado, mesmo conscientes de que não temos todas as respostas.
Se a resposta for um “sim”, significa dizer que só não cairemos em erro se tivermos alguém para imitar, o que afasta a hipótese de que o observador pode descobrir por si mesmo que o que precisa é de consciência, em lugar de muletas.
Poderemos então descobrir, ao final do processo, que sem o peso dos papéis destinados a nós por terceiros, estaremos aptos a obter um aprendizado no mínimo mais autêntico. Talvez um conhecimento que dependa somente de análises e conclusões próprias surgidas do confronto entre diferentes visões. Isso tem potencial tanto para emprestar maior segurança ao rumo a ser tomado, quanto para dispensar a autoridade do pastor ou a passividade da ovelha.
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E não é sobre ditar regras para a vida que se revela mais como pretensão da própria competência do que fórmula de sucesso, mas sobre descobrir que todo aprendizado está igualmente sujeito às piores escolhas. A mais importante das lições, porém, é descobrir que é bem mais razoável errar pela própria cabeça do que pela cabeça alheia.
Em suma, trocar rótulos de “detentor da verdade” ou de “depósito de crenças” pelo aperfeiçoamento da própria capacidade de percepção pode valer como inquestionável instrumento de aprendizado. Chega-se assim à conclusão de que sua experiência de escolher apenas ser um observador externo pode ser muito mais profunda e confiável do que vestir a pele tanto do pastor quanto da ovelha.