Autoconhecimento Consciência Aplicada

Você procura no lugar certo?

Criança atrás de tronco de árvore com binóculo
Escrito por Pedro Paschuetto

Desde seu nascimento no planeta, o ser humano é impelido a agir buscando metas, resultados, objetivos e premiações. Podemos constatar isso pelos jogos escolares: desde tenra idade, os alunos já são treinados a competir para ganhar. Ninguém nem ao menos explica que o que importa é o “caminho” e o aprendizado adquirido… e que “vencer” é superar seus próprios adversários interiores, e não o outro time.

Essa programação irá repercutir em uma busca desenfreada por notas altas nos estudos. Mais tarde, em reconhecimento no trabalho. E em vários outros temas da vida.

Também o esporte, no geral, está baseado apenas em vencer – em primeiro lugar! Raríssimos são os casos em que a trajetória do esportista é reconhecida como uma via de autoconhecimento. O autoconhecimento não é o foco do capital, não leva ao prestígio social.

A identificação que temos com “quem busca” é gigantesca. Estou falando daquele que é insaciável; que sempre quer algo do futuro; que nunca está satisfeito com o presente; que remói o passado; que vive desejando; que quer tudo para si e não enxerga o todo; que se identifica como algo separado do outro e do mundo. Sim, é o Ego, a mente concreta denominada Kama Manas nas tradições esotéricas.

Nós acreditamos que somos o Ego, e isso faz muito sentido. Como seria possível negar esse “eu” que pensamos ser? Afinal, é possível dizer que o “contorno” da nossa experiência está delimitado pelo nosso corpo, representado principalmente por nossos órgãos dos sentidos, e pela nossa mente, foco das nossas emoções. A nossa experiência sensorial (visão, olfato, paladar, audição e tato) não deixa dúvidas de que existe um corpo e uma mente, e que estamos conectados a eles de alguma forma.

E, no entanto, essa identificação com o Ego advém de questões cármicas e inconscientes. Segundo Siddharta Gautama, o Buda, a mente/corpo se apega aos sentidos, que são fonte de tanto prazer e, concomitantemente, de tanto sofrimento.

Garoto de óculos com o rosto de perfil e olhos fechados
Foto de Min An no Pexels

Para complicar a nossa situação, a mente não se satisfaz olhando “para dentro” de si, ela nem possui essa capacidade. Sua principal característica é “sempre buscar algo que está fora para se completar”. Desse comportamento, advém uma das maiores ignorâncias que praticamos, que é depositar nosso bem-estar e nossa felicidade em coisas externas: em alguém, em uma condição meteorológica, em vencer uma competição, em tirar a melhor nota, em uma substância, em um encontro, em um emprego, etc. Agindo assim, estamos fatalmente caindo em profundo sofrimento, pois nada do que é externo pode trazer uma satisfação plena – que já existe dentro, é o que já somos.

Então, como sair dessa armadilha?

Muitas tradições orientais apontam para a necessidade da prática da meditação como uma forma de reconhecer que aquele que pensa não é quem nós pensamos ser.

O silêncio, que é a base da meditação, é um silenciar da mente tagarela, que está sempre pronta para arranjar algo em que se meter. O caminho de autoconhecimento é o movimento de tomar consciência dessas questões para se libertar.

Mulher agachada com olhos fechados em pedras com mar ao fundo
Foto de Eternal Happiness no Pexels

A sacada não é negar o mundo externo, uma outra armadilha, mas sim reconhecer que o que sustenta todas as coisas (inclusive você) é a chave do equilíbrio. Daí, então, usufruir deste mundo sensorial como um recurso, uma ponte para a libertação – que deve, sim, ser transposta com prazer, mas de forma que supra as necessidades básicas do corpo e que não gere mais apegos.

A satisfação de cada ação desabrochará naturalmente no agir do cotidiano, aprendendo passo a passo a viver na Reta Ação apontada pelo Buda. A Reta Ação consiste em executar cada ação de forma desprendida do resultado que ela possa trazer. É um fazer sem olhar a quem, é estar profundamente entregue e dedicado a cada ato como se cada um deles, do mais simples ao mais complexo, fosse dedicado a uma divindade. Fazer e esquecer que foi feito, não se apegar ao “eu”, que quer os créditos pela obra realizada, essa é a chave da Reta Ação, e então da libertação do sofrimento pela renúncia dos resultados.

Você está no limiar entre o infinito “pra dentro” e o infinito “pra fora”. Você nunca se moveu, nunca sequer saiu do lugar e existe um exercício para você descobrir isso: feche os olhos…

Mulher com mãos cruzadas em frente ao peito
Foto de Eternal Happiness no Pexels


observe a respiração…

silencie…

respire profundamente algumas vezes…

Faça a seguinte pergunta a si: Onde e quando estou?

A única resposta plausível é “aqui e agora”.

Onde quer que você esteja (no interior da sua cidade, nos Himalaias ou na Lua), o que quer que você esteja sentindo (raiva, angústia, desamparo, felicidade, bem-estar, entusiasmo), sempre a resposta para esta pergunta de olhos fechados será a mesma: “aqui e agora”.

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Um certo dia, o chefe dos samurais do imperador foi visitar o mestre zen com uma dúvida que pairava em sua mente. Sentou-se à sua frente e perguntou:

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Eis que o mestre zen o indaga:

– Ooora, mas quem é você para me fazer essa pergunta?

– Como assim? Eu sou o chefe dos samurais do imperador!

– Ué… com esse traje você está mais parecendo um mendigo!

Então o samurai se enche de ira, levanta rapidamente, saca sua espada e quando se prepara para dar um golpe mortal, o mestre zen diz:

– Neste momento se abrem as portas do inferno!

O samurai sentiu aquilo, refletiu um pouco… resolveu guardar sua espada e se sentar.

Eis que o mestre zen diz:

– E neste momento se abrem as portas do céu!

Sobre o autor

Pedro Paschuetto

Pedro Paschuetto é natural de São Bernardo do Campo, SP. Iniciou sua trajetória em 2010, quando ingressou no curso de filosofia livre na academia, na Escola de Filosofia Livre, onde se formou como professor e orientou aulas de filosofia livre e meditação durante cinco anos.

Em 2011 iniciou sua prática de Tai Chi Chuan pelo Shobu Dojo, arte marcial que ensina desde 2014, ano em que se formou no curso de instrutor de Tai Chi Chuan pelo Espaço Caminho da Luz – professor Laércio Fonseca.

Fortemente identificado com a meditação, experimentou diversas técnicas. Se estabeleceu na Vipassana, tendo concluído seu primeiro curso em 2012.

Admirador das artes orientais, pratica Iaidô (espada japonesa) e Sumi-ê (pintura com tinta preta).

Por sua intensa necessidade de investigação da natureza da mente humana, em 2018 iniciou seus estudos em psicanálise.

CONHECE-TE é um projeto para a extinção do sofrimento por meio de autoconhecimento, consciência e verdade.

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