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10 curiosidades sobre a Umbanda

Pessoas com roupas típicas da umbanda.
William Rodrigues Dos Santos / 123rf
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Umbanda, na língua quimbunda, significa “magia” ou “arte de curar”. Poucos sabem, mas essa religião surgiu quando um adolescente brasileiro de apenas 17 anos, Zélio Fernandino de Morais, incorporou o espírito do Caboclo das Sete Encruzilhadas durante uma sessão em um centro espírita, o qual o instruiu a criar a nova doutrina.

Com mais de 100 anos de existência, a umbanda reúne elementos do candomblé, do espiritismo kardecista e do catolicismo. Entre as suas principais entidades, estão o deus Olorum, os orixás e os guias espirituais. Alguns dos orixás mais famosos são aqueles da tradição iorubá, conhecidos como Oxalá, Oxum, Xangô, Yemanja, Obá, Yansã e por aí vai.

Já os guias espirituais são divididos em categorias: Caboclos, Pretos Velhos, Exus, Pombas Giras e Erês. De início, esse tanto de nome bem que causa um nó na nossa cabeça, né? O que nos leva a pensar: como é o ensinamento da umbanda para iniciantes? Como posso conhecer o que diz essa doutrina se não sei nem por onde começar?

Dentro da religião, há uma espécie de hierarquia que começa com os abiãs, ou seja, pessoas que frequentam o terreiro como assistentes e têm o desejo de ingressar nos rituais; e vai até o Babalaô, como é conhecido o Pai de Santo depois de 21 anos de feitura e muita dedicação à umbanda. Ao longo do tempo, aquela pessoa que queria apenas conhecer a religião vai desenvolvendo seus dons e tornando-se cada vez mais conhecedora das práticas e cerimônias.

Por outro lado, todo esse processo dura anos e pode suscitar várias dúvidas sobre a umbanda, principalmente se você não a conhece muito bem. Mas calma! Não desista! Continue lendo que você vai descobrir muitas informações interessantes sobre a doutrina.

Perguntas sobre a umbanda

Antes de iniciar na umbanda, alguns questionamentos são comuns para quem não está tão acostumado com a religião. Por ser uma doutrina muito complexa, que envolve crenças de diferentes origens, é comum que ela cause certa confusão e até estranhamento por causa do sincretismo religioso — isto é, a mistura de várias crenças em uma só.

Mas a verdade é que a umbanda é muito mais simples do que parece. Abaixo, você confere as dúvidas que todo mundo têm sobre a religião, mas não sabe para quem perguntar. Acompanhe:

O que a umbanda proíbe?

No universo religioso, existem algumas atitudes chamadas de preceitos, regras que devem ser respeitadas por seus praticantes. Na umbanda, os preceitos variam de terreiro para terreiro, mas alguns deles são bem conhecidos.

Antes dos encontros — as famosas “giras” —, os integrantes não devem consumir álcool, comer carne vermelha ou praticar atos sexuais. Já no dia a dia, o importante é afastar-se de tudo aquilo que o puxa para o caminho do mal e/ou para longe dos orixás e de sua família espiritual.

O que aprendemos com a umbanda?

Pessoas de roupas brancas tocando instrumentos.
mauRÍCIO SANTOS / Unsplash

O principal conselho da religião é amar o próximo como a si mesmo. A umbanda é uma doutrina completamente voltada para caridade, humildade, fraternidade e desenvolvimento espiritual e pessoal. Os orixás também transmitem diversos ensinamentos ligados a qualidades como coragem, bondade e paciência.

Tipos de umbanda

Desde que o mundo é mundo, as religiões se diversificam em novas vertentes. Na umbanda, não poderia ser diferente. São vários os seus tipos, mas vamos conhecer as principais:

— Umbanda Branca (tradicional): é aquela fundada pelo médium Zélio Fernandino de Morais, considerada a primeira de todas as umbandas. Acreditam em santos que podem ser sincretizados com orixás, não usam atabaques e palmas e as velas são sempre brancas.

— Umbanda de mesa branca (kardecista): bastante influenciada pelo espiritismo desenvolvido por Allan Kardec, é praticada dentro dos centros desta religião.

— Umbanda Mirim (esotérica): criada pelo médium Benjamin Gonçalves Figueiredo, trouxe algumas modificações para a religião, tais como a retirada dos santos católicos, a organização dos orixás em 7 linhas e a criação de uma hierarquia para os médiuns.

— Umbanda Popular (cruzada): cultua diversos santos, orixás, guias-chefes e linhas de trabalho, usam atabaques, músicas, velas coloridas e oferendas; além disso, difere entre si em cada terreiro.

— Umbanda Omolocô (traçada): fundada por Tatá Trancedo, aproxima-se bastante do candomblé, daí a presença do sacrifício ritualístico e do sincretismo com santos católicos.

— Umbanda Almas e Angola (traçada): com origem na Angola, destaca os orixás ligados à água, como Iemanjá, Oxum, Nanã e Iansã.

Umbanda faz maldade?

Como vimos, a umbanda defende a lei do amor ao próximo e de fazer o bem. Portanto não existe trabalho maldoso nesta religião. Se há maldade, não é umbanda. E se quiserem te convencer do contrário é por puro preconceito.

Quer ver? É comum ouvirmos que a “umbanda faz macumba”, sempre em tom pejorativo. Originalmente, a macumba nada mais é do que um instrumento de percussão que imita o reco-reco. Com o tempo, as religiões mais tradicionais acabaram utilizando o termo para se referir aos despachos, isto é, oferendas feitas a espíritos e entidades para obtenção de um favor desejado. Assim como em outras religiões, esses despachos podem ser usados contra terceiros, mas nenhum centro de umbanda que se preze aceitaria esse tipo de trabalho.

O que são as sete linhas da umbanda?

As linhas dentro da umbanda representam um agrupamento de espíritos dominados por um chefe-orixá, o qual é responsável por uma grande missão no espaço. São elas: linha de Oxalá (religiosa), Iemanjá (povo d’água), Xangô (justiça), Ogum (demandas), Oxóssi (caboclos), Iori (crianças) e Iorimá (preto-velhos). Cada uma possui objetivos, músicas e rituais característicos.

O que é cruzamento na umbanda e como é feito?

O cruzamento é um dos rituais que compõem a umbanda. Se você for a uma gira, verá que, em alguns momentos, os médiuns ou dirigentes do encontro fazem o sinal da cruz no solo, no ar ou no próprio corpo. Essa tradição serve para transformar algo que não está sagrado em sagrado, energizando-o e fortalecendo-o para o contato com os guias-espirituais.

Pessoas negras de roupas brancas.
Tiago Celestino / Unsplash

O cruzamento pode variar de acordo com o terreiro ou o guia-chefe da casa, mas geralmente é feito com Pemba Branca ou Pemba Ralada e algums ervas de Amaci. O médium recebe o sinal da cruz com a Pemba em determinados pontos do corpo e depois tem a cabeça lavada com o Amaci.

Como é o ritual de iniciação na umbanda?

Assim como o catolicismo, a umbanda possui alguns sacramentos que devem ser seguidos para que uma pessoa comece, de fato, a vida religiosa. Tudo se inicia com o ritual da feitura de cabeça, quando o novato fica afastado por até 7 dias para preparar a mente para o contato com o seu orixá.

Depois, vem o abiã, que é quando ele escolhe os trajes para a passagem. Em sequência, é feito o bolanã, uma limpeza espiritual que o afasta de tudo que é profano.

Depois de 21 dias, acontece a festa de Oruncó, onde o iniciado é apresentado a todos. No dia seguinte, outra festa dá lugar: a quitanda do erê, que serve para que ele brinque, estimule sua consciência infantil e ganhe presentes. Ao final de todo esse processo, o iniciado passa a viver com seu orixá, seguindo preceitos que vão desde o uso de roupas características até o respeito a determinados comportamentos ligados à entidade.

Qual o primeiro passo para entrar na umbanda?

A primeira coisa que você precisa ter em mente para entrar para a umbanda são os seus objetivos. Tenha a certeza de que está ingressando nessa religião pelos motivos certos, não por mera empolgação ou vaidade. Reflita se você quer mesmo assumir o compromisso com os rituais e a dedicação com a vida espiritual, os quais vão muito além de vestir branco e participar passivamente das giras.

Visite um terreiro, faça o atendimento com o pai ou mãe de santo daquela casa e converse com as pessoas que já fazem parte desse universo. Entenda como a umbanda funciona e, então, demonstre seu interesse aos praticantes dessa religião.

Como é feito o batismo na umbanda?

Os passos iniciais dentro da umbanda dependem muito da realização do batismo, um dos sacramentos mais importantes da doutrina. É por meio dele que o iniciado se conecta pela primeira vez com as entidades e os orixás. O ritual pode acontecer em um terreiro ou em uma fonte de água natural, como um rio, uma cachoeira ou o mar.

Durante o batismo, a pessoa recebe padrinhos espirituais (orixás) e encarnados — outros praticantes da umbanda que se responsabilizam por introduzi-la nos caminhos da religião junto aos sacerdotes.

Curiosidades da umbanda

Agora que você já possui conhecimentos básicos sobre a umbanda, vamos descobrir algumas curiosidades bacanas sobre essa religião tão completa? Veja a seguir:

1 — A umbanda acredita em reencarnação

Nós já aprendemos que a umbanda se formou a partir da junção de várias outras religiões. Como consequência, a reencarnação é uma das crenças que foi trazida como parte da doutrina. Segundo os umbandistas, os espíritos desencarnados estão entre os seres humanos para nos dar recados e nos ajudar, mas os únicos capazes de fazer isso são aqueles já muito evoluídos e que não precisam mais encarnar.

É importante entender que, para essa religião, existem vários planos espirituais. Nesse contexto, a Terra surge como uma das etapas do ciclo de evolução responsável pela reencarnação. Ou seja, é neste plano material que vivemos que os espíritos melhoram a si mesmos em relação às vivências no passado com a ajuda de outros espíritos mais adiantados no processo evolutivo.

2 — As imagens católicas na umbanda remontam à escravidão

O sincretismo religioso, apesar de ser uma belíssima forma de misturar diferentes crenças sem preconceitos, muitas vezes apresenta raízes em momentos sombrios da história. Na época da colonização escravocrata, os senhores exibiam imagens católicas dentro das senzalas para se “proteger” contra os rituais umbandísticos realizados pelos escravos. Daí a correlação entre vários santos cristãos com as entidades cultuadas na umbanda.

Hoje, essa ligação é muito presente ao redor dos terreiros. Iemanjá, por exemplo, é comumente associada à Nossa Senhora da Conceição, bem como a Santa Bárbara. Xangô, a São Jerônimo e São João. Ogum, a Santo Antônio e São Jorge. Oxalá, é claro, à própria figura de Jesus Cristo, tendo em vista seu papel como criador da humanidade.

3 — Existem vários tipos de giras

As giras, ou encontros da umbanda, servem para reunir os espíritos de cada linha por meio da incorporação dos médiuns. Elas contam com danças, rezas e passes e são classificadas em três tipos: de desenvolvimento, de trabalho e festivas.

Vela preta e elementos da cultura umbandista.
Edalin Photography / Canva / Eu Sem Fronteiras

As giras de desenvolvimento são mais voltadas para a evolução dos médiuns, para que eles entendam a importância e a responsabilidade das suas habilidades na incorporação.

Já as de trabalho são abertas ao público e visam atender às diferentes necessidades de quem as procuram. Giras festivas, por fim, são feitas para homenagear espíritos e orixás.

4 — A umbanda não trabalha com sacrifícios de animais

Lembra daquela história de que se faz mal não é umbanda? Pois é. Ainda que a religião tenha alguns elementos do candomblé, doutrina que pratica o abate de animais para determinados rituais, essa não é uma prática aceita pelos umbandistas.

Como preconizado pelo fundador, Zélio Fernandino de Moraes, a coisa mais importante é a preservação de todas as formas de vida, por isso seria totalmente contraditório que se matassem bichos inocentes com propósitos religiosos.

5 — Exu é um demônio?

Não. Exu não é um demônio. Na verdade, ele é um guardião e mensageiro. O objetivo desse orixá é proteger os terreiros e casas dos médiuns e fazer a ponte entre os seres humanos e o plano divino, garantindo a aplicação da lei no domínio espiritual.

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É muito comum que ele seja associado a demônios por causa do preconceito e da confusão com outras crenças religiosas. Na umbanda, Exu tem a vibração energética de um espírito que já vivenciou situações muito ruins, mas hoje quer promover apenas Luz. Por isso ele trabalha com profundidade questões supérfluas e materiais da humanidade para, assim, encaminhá-la ao bem. Nesse processo, acaba atuando como um criador de estímulos que ativam e tratam as emoções humanas.

Exu faz parte da Linha de Esquerda da Umbanda, ou seja, trabalha absorvendo os desequilíbrios e a negatividade desse plano para que a Linha de Direita o reestruture. Regido pelo mistério “Trono Neutro”, ele não promove nem o bem nem o mal, mas o equilíbrio.

6 — O que significa o ato de bater cabeça?

“Bater cabeça” ou a atitude de levar a cabeça ao chão é algo comum em diversas religiões. Ela representa a submissão humana ao poder divino, reconhecendo si mesmo como um ser limitado frente à grandeza espiritual. É uma maneira de demonstrar respeito, entrega, agradecimento e humildade frente aos orixás, guias, entidades e até pais ou mães de santo. Nesses momentos, o congá (ou altar) e os pontos (ou músicas) são amplamente utilizados para movimentar tais energias.

Elementos da umbanda.
Carlos Frederico Sant Anna Pinheiro / 123rf

No mesmo sentido está a prática de ficar com os pés descalços, em contato constante com os nossos antepassados. Originária da tradição africana, deixar os calçados do lado de fora é também uma forma de impedir que os médiuns levem energias carregadas para fora do terreiro, protegendo-os.

7 — A umbanda não tem discriminação

Nesta religião, não existem trocas de favores ou mercadorias. Ela atende a qualquer pessoa, da mais pobre à mais rica, sem distinção de raça, cor, sexualidade ou gênero. As pessoas que seguem essa doutrina têm por obrigação atender todos que buscam ajuda. O amor e o respeito são os grandes pilares da umbanda.

Por isso, se conhecer alguém cobrando para realizar trabalhos, desconfie: provavelmente são pessoas mal-intencionadas que querem se aproveitar de todo um sistema de crenças para benefício próprio.

No entanto, considerando que pais e mães de santo comumente se dedicam 24 horas à missão espiritual, eles precisam de recursos para manter o terreiro em funcionamento. Daí a cobrança, por exemplo, de mensalidades entre os frequentadores, que devem ser combinadas e acordadas da maneira mais justa possível.

8 — Todos têm mediunidade

Ao participar de uma gira, você vai perceber que as pessoas que já frequentam aquele terreiro possuem a habilidade de incorporar espíritos. A umbanda defende que todos nós temos essa capacidade, em menor ou maior grau; o que muda é o quão evoluída está a sua mediunidade. Mesmo que você nunca tenha sentido esse poder na sua vida, você o possui e pode desenvolvê-lo por meio dos ensinamentos da umbanda.

Além disso, existem várias maneiras de expressar esse poder ao longo do seu contato com a religião. Não apenas a incorporação, mas a psicografia, a psicofonia, a projeção astral, a vidência e várias outras modalidades de contato com o mundo espiritual podem surgir entre os praticantes da umbanda.

9 — O que as velas representam?

Nos rituais de umbanda, existem várias velas de diferentes cores. Essa tradição vem da influência da religião católica, que usa uma vela para representar os membros da santíssima trindade — o pavio como Jesus, a cera como Deus-Pai e a chama como Espírito.

Velas acesas.
TAKASHI HONMA / 123RF

Na umbanda, cada cor representa um orixá. Por exemplo, aos Exus são ofertadas velas pretas; a Oxalá, brancas; a Oxóssi, verdes; a Xangô, marrons; a Ogum, vermelhas; a Iemanjá, azul-claras; a Oxum, azul-royal; a Iansã, amarelas; a Nanã, roxas; e a Ibeji, rosas.

Ao utilizá-las, tenha em mente o que cada cor significa e acenda-a em um ambiente calmo, concentrando-se em transmitir a sua energia para garantir que o pedido seja atendido.

10 — O paraíso da umbanda é Aruanda

Assim como quase toda religião, a umbanda também tem a crença em uma espécie de paraíso, ou melhor, um lugar de passagem para o plano divino. É Aruanda, uma cidade de luz etérea que fica em uma dimensão espiritual de transição na ionosfera da Terra, ou seja, em uma parte da atmosfera superior do nosso planeta. A origem do nome Aruanda é africana e representa um lugar para o qual se quer voltar um dia para descansar e aproveitar a luz pura de bondade lá presente.

Se você leu até aqui, já pode dizer que conhece mais sobre a umbanda do que a maioria das pessoas. Os conhecimentos reunidos neste artigo são só uma parte da imensa quantidade de ensinamentos promovidos pela religião. Permita-se ter um contato mais próximo com essa doutrina tão profunda e busque ainda mais conhecimentos sobre as crenças umbandistas!

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