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A obsessão disfarçada de inveja: quando alguém quer ser você

Mulher e homem lado a lado segurando celulares, olhando para baixo com expressões sérias ou desconfiadas, diante de um fundo laranja.
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Escrito por Giselli Duarte

E se aquela pessoa que te “inveja” não te odiasse… mas quisesse ser você? Por que alguém copia seus passos, gostos e escolhas como se fosse uma sombra? Até onde isso pode chegar? Continue lendo e descubra o que ninguém te conta.

Tem gente que você acha que tem inveja de você. Que tem ciúmes. Que te odeia. Mas não é bem isso.

Essa pessoa quer ser você.

Ela copia suas escolhas. Escuta as mesmas músicas. Vai aos mesmos lugares. Quer ter os mesmos amigos. Trabalha com as mesmas coisas. Viaja para as mesmas cidades. Se veste parecido com você.

E comenta em tudo. Em cada post, em cada foto, em cada conquista. Como se precisasse marcar presença. Como se precisasse ser vista por você o tempo todo.

Você acha que é perseguição. Que é inveja. Que é maldade.

Mas é outra coisa. É obsessão. É identificação patológica. É ausência de identidade própria manifestada como parasitismo psíquico.

O que acontece por trás da cópia

Na prática clínica, é comum encontrar pessoas que relatam estar sendo copiadas de forma sistemática por alguém próximo. E o padrão se repete: começa sutil, com pequenas imitações, e vai escalando até virar algo perturbador.

A pessoa que copia não tem identidade própria consolidada. Ela não sabe quem é. Não sabe o que quer. Não consegue existir sem se espelhar em alguém.

Então, ela escolhe um alvo. Alguém que ela admira, que ela inveja, que representa tudo o que ela gostaria de ser.

Três mulheres de negócios estão sentadas de frente para uma mesa na hora do almoço. Duas se olham e conversam, enquanto a terceira mulher olha com ciúmes ou inveja para uma delas.
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E passa a construir a própria vida como reflexo da vida do outro.

Começa imitando gostos musicais, estilo de roupa, lugares que frequenta. Depois avança para escolhas mais significativas: mesma área de trabalho, mesma cidade, mesmos cursos, mesmas oportunidades.

Em casos mais graves, a pessoa chega a sabotar o alvo. Inventa histórias, difama, tenta prejudicar profissionalmente. E mesmo assim, continua copiando. Porque a obsessão não tem a ver com gostar ou não gostar. Tem a ver com a necessidade patológica de se fundir com o outro.

O que a psicanálise explica

Freud falava sobre identificação como processo natural do desenvolvimento. Nos identificamos com pessoas que admiramos, que nos inspiram, que queremos nos tornar. Isso é saudável e faz parte da construção da identidade.

Mas quando a identificação vira imitação obsessiva, quando a pessoa perde completamente a capacidade de ser ela mesma e só existe como cópia, estamos diante de algo patológico.

Lacan descreveu o estádio do espelho como fase em que a criança começa a formar identidade a partir do reflexo. Mas algumas pessoas nunca saem desse estádio. Continuam precisando do reflexo do outro para existir. Não conseguem formar um eu autônomo, separado, próprio.

Essas pessoas estão presas numa fase infantil do desenvolvimento psíquico. E escolhem alguém para ser o espelho permanente. Sem esse espelho, elas se desorganizam. Entram em pânico. Não sabem quem são.

Quando há transtorno de personalidade

Mas, em muitos casos, a questão vai além da identificação patológica. Estamos falando de transtorno de personalidade.

No transtorno borderline, por exemplo, a pessoa não tem noção clara de quem é. Vive em constante instabilidade emocional, oscilando entre idealizar e destruir o outro. Pode te copiar obsessivamente e ao mesmo tempo te odiar. Porque ela precisa de você para existir, mas te odeia por precisar.

Já em transtornos com traços antissociais, há comportamento predatório consciente. A pessoa usa os outros de forma instrumental. Copia porque quer o que o outro tem. Sabota porque vê o outro como competição. E não sente culpa genuína. Pode pedir desculpas quando confrontada, mas apenas para manipular, não por remorso verdadeiro.

Essas pessoas costumam ter um padrão: identificam o alvo, se aproximam, parasitam o que podem, e quando são confrontadas ou bloqueadas, fingem arrependimento, mas continuam de forma mais discreta.

Casos que ilustram esse padrão

Atendi uma cliente que relatou ser copiada pela cunhada há anos. A cunhada entrava nos mesmos cursos, comprava roupas iguais, tentava fazer amizade com as mesmas pessoas. Quando a cliente teve filho, a cunhada engravidou logo em seguida. Quando a cliente abriu um negócio, a cunhada abriu algo parecido. E comentava em absolutamente tudo que a cliente postava nas redes sociais, como se precisasse marcar presença constantemente.

Duas mulheres parecidas fisicamente e com roupas iguais estão de braços cruzados na frente de um fundo branco.
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Outro caso envolveu uma paciente que descobriu que uma conhecida do círculo familiar enviava currículo para todas as empresas onde ela trabalhava. A pessoa chegou a conseguir entrevistas e, quando questionada, disse que era “coincidência”. Mas o padrão se repetiu por anos.

Há também situações em que a pessoa que copia ocupa posições de cuidado, se apresenta como terapeuta, coach, facilitadora, mas não tem estrutura emocional para lidar com a própria vida, quanto mais com a vida dos outros. Vende uma imagem de equilíbrio e espiritualidade, mas nos bastidores há desorganização total, comportamentos erráticos, relacionamentos destrutivos.

Em casos extremos, há ameaças, difamação sistemática, tentativas de prejudicar o alvo de todas as formas possíveis. E depois, pedidos de perdão. E volta a copiar. Porque não consegue parar.

A diferença de idade torna tudo mais perturbador

Um elemento que complica ainda mais essa dinâmica é quando a pessoa que copia é significativamente mais velha que o alvo. Dez, quinze, até vinte anos de diferença.

Alguém que deveria estar estabelecido na própria vida, com identidade formada, com maturidade emocional. Mas está ali, copiando alguém mais novo.

Isso mostra que idade não garante desenvolvimento psíquico. A pessoa pode ter 40, 50 anos e estar presa numa fase infantil de não saber quem é, de precisar se espelhar no outro para existir.

E quando essa pessoa mais velha já teve casamentos, filhos, décadas de vida, mas continua sem identidade própria, o quadro é grave. Porque ela passou por todos esses marcos de vida e mesmo assim não se desenvolveu.

O papel das substâncias psicoativas

Outro fator que complica esses quadros é o uso de substâncias psicoativas sem acompanhamento adequado.

Algumas pessoas fazem uso frequente de cannabis, cogumelos e outras substâncias, e justificam como “expansão de consciência” ou “cura espiritual”. Mas quando há predisposição genética para transtornos psicóticos, quando há histórico familiar de esquizofrenia ou bipolaridade, essas substâncias podem desencadear ou agravar quadros graves.

O uso pode intensificar a dissociação, desorganização do pensamento, delírios. E a pessoa alterna entre estados de “plenitude espiritual” e comportamentos agressivos, invasivos, descontrolados.

Elas podem ter um episódio violento, ameaçar alguém, agredir verbalmente, agir de forma destrutiva, e horas depois estar “em paz”, como se nada tivesse acontecido. Isso mostra uma dissociação severa. A pessoa não integra as próprias ações.

E o pior: muitas vezes essas pessoas trabalham com outras pessoas em contextos terapêuticos ou espirituais sem supervisão, sem formação adequada, sem tratamento para os próprios transtornos. E causam danos em quem as procura.

As consequências para quem convive

Pessoas com esses transtornos destroem quem está ao redor. Principalmente quem não pode se afastar: filhos, cônjuges, pais idosos.

Um casal está discutindo em uma sala. Eles estão sentados em um sofá. A mulher jovem conversa com o homem jovem que aparenta ser invejoso ou ciumento.
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Filhos de pessoas assim costumam desenvolver quadros graves de ansiedade, depressão, comportamentos autodestrutivos. Porque cresceram num ambiente emocionalmente caótico, imprevisível, onde a figura de cuidado não tinha estrutura para cuidar.

Já atendi diversos casos de jovens adultos que relatavam mães ou pais com comportamentos erráticos, manipuladores, invasivos. E esses jovens carregavam culpa, confusão, dificuldade extrema de estabelecer limites.

Porque foram ensinados que dizer não é traição. Que se afastar é abandono. Que cuidar de si mesmo é egoísmo.

E levam anos de terapia para desconstruir isso.

O que fazer quando você é o alvo

Se você está sendo copiado de forma obsessiva por alguém, precisa entender: isso não vai parar sozinho.

A pessoa não vai acordar um dia e perceber que está errada. Ela não tem esse insight. Não tem capacidade de ver o próprio comportamento de forma crítica.

Então você precisa se proteger.

Primeiro: crie distância. Bloqueie das redes sociais. Não compartilhe detalhes da sua vida. Não responda a tentativas de contato. Se for possível, afaste-se fisicamente também.

Segundo: não confronte. Você não vai conseguir fazer a pessoa ver o que ela está fazendo. E pode piorar a situação, porque ela pode reagir de forma agressiva ou aumentar a perseguição.

Terceiro: documente. Se houver ameaças, mensagens invasivas, comportamentos que configurem assédio, guarde tudo. Prints, testemunhas, registros. Porque, se precisar de medida protetiva, você vai precisar de provas.

Quarto: busque apoio terapêutico. Ser alvo de alguém assim gera medo, hipervigilância, dificuldade de relaxar. Você precisa processar isso com ajuda profissional.

Quinto: não se culpe. O problema nunca foi você. Você não fez nada para merecer isso. A pessoa escolheu você como alvo porque tem um transtorno. E isso não tem relação com quem você é ou com o que você fez.

A liberdade de ser você mesma

Depois de muito trabalho interno, chega o momento em que você olha para essa pessoa e sente compaixão. Não raiva. Não medo. Compaixão.

Porque você entende que ela está presa. Que nunca vai ser feliz. Que vai passar a vida copiando, invejando, perseguindo.

E você está livre.

Você construiu sua identidade. Você sabe quem é. Você existe sem precisar se espelhar em ninguém.

E pode voltar a viver abertamente. A postar o que quiser. A existir plenamente. Porque entendeu que o problema nunca foi você.

E não precisa mais se esconder.

A pessoa pode continuar te observando de longe, criando contas falsas, copiando o que consegue ver. Mas isso não te afeta mais. Porque você sabe que é problema dela. Sempre foi.

E você segue. Inteira. Plena. Livre.

Sobre o autor

Giselli Duarte

Sempre fui movida pela busca por novos aprendizados.
Minha trajetória percorreu diferentes áreas, desde a carreira corporativa até experiências pouco convencionais, como um curso de DJ. Essa diversidade ampliou minhas perspectivas e me trouxe a compreensão de que cada fase contribui para o trabalho que realizo hoje.

Com espírito empreendedor desde cedo, comecei a trabalhar aos 14 anos como jovem aprendiz e, aos 21, legalizei meu primeiro negócio. Desde então, criei e participei de projetos diversos, sempre unindo consistência e visão estratégica.

Atuei como profissional PJ em projetos para empresas de diferentes setores, incluindo engenharia, startups, agências de comunicação e administração de condomínios, conciliando o empreendedorismo com projetos fixos. Essa experiência trouxe visão prática sobre diferentes modelos de negócios e a capacidade de orientar profissionais em diversos momentos da carreira.

A experiência com o burnout transformou a forma como conduzo minha vida e minha atuação profissional. Encontrei no Yoga e na Meditação o caminho de reconexão, o que me levou à formação em Hatha Yoga e à especialização em terapias naturais.

Compartilho esse conhecimento como colunista nos portais O Segredo e Eu Sem Fronteiras e como instrutora de meditação nas plataformas Insight Timer e Aura Health, onde também atuo como podcaster, oferecendo práticas que ajudam a cultivar presença e equilíbrio.

Como autora, publiquei os livros No Caminho do Autoconhecimento, Lado B e Histórias de Jardim e Café, registrando reflexões e vivências que me conduziram a um olhar mais consciente sobre a vida.

Sou graduada em Marketing, pós-graduada no MBA em Gestão Estratégica de Negócios, com especializações em Design Gráfico e Inteligência Artificial aplicada a Growth Marketing, Inteligência Emocional, Psicanálise e outras.

Concluí também a Formação de Instrutores de Yoga para Crianças, Jovens e Yoga na Educação, ampliando minha visão sobre o bem-estar em todas as fases da vida.

Hoje, à frente da Terapeutas Digitais, auxilio profissionais da área terapêutica a fortalecerem suas marcas e a se posicionarem no digital de forma consciente e coerente com seus valores. Atuo como mentora de negócios, incentivando e conduzindo profissionais no caminho do empreendedorismo ao longo da minha trajetória. Atualmente, também sou mentora da RME – Rede Mulher Empreendedora, ampliando esse propósito.

Acredito que negócios alinhados com quem somos têm mais impacto e significado. É assim que escolho atuar e é esse o caminho que sigo construindo.

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Meditação para quem não sabe meditar

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