Espiritualidade Saúde Mental

A depressão e suicídio são pecados imperdoáveis, como afirmam alguns grupos religiosos ?

Mulher deitada na cama com olhar triste.
Foto: Katarzyna Białasiewicz / 123RF

Alerta: A taxa de suicídio cresceu 30% no isolamento social. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2014, 10.631 pessoas cometeram suicídio no Brasil.

E, no contexto de pandemia, postagens e publicações sobre suicídio têm aumentado no Facebook e em outras redes sociais.

Após um estudo feito em Michigan, divulgado pelo Loudwire, o índice de pessoas que se matam cresceu 32% durante a quarentena.

Fiquei consternado ao observar alguns comentários na internet de pessoas que se dizem religiosas e, na prática, não são. Devido a isso, gostaria de desmitificar a crença de que o suicídio é algo imperdoável e demoníaco, como dizem algumas pessoas.

O que é depressão? E por que é tão importante falar sobre o assunto?

Mulher sentada no chão da sala, segurando os joelhos, cabisbaixa.
Foto: TORWAI Suebsri / 123RF

A depressão, ou transtorno depressivo, é considerada uma doença psiquiátrica que afeta negativamente a maior parte da população. Ela não tem cura, porém possui tratamento.

Por que devemos falar sobre a depressão? As pessoas que não são acometidas por essa doença acreditam que as que sofrem depressão se fazem de coitadinhas quando, na verdade, a situação é muito séria e merece uma maior atenção.

Devemos informar que a depressão afeta de várias formas a nossa vida. Esses são os principais sintomas, segundo os estudiosos:

tristeza ou humor deprimido constante; perda de interesse ou prazer em atividades antes apreciadas; alterações no apetite — perda de peso ou ganho não relacionado à dieta; problemas para dormir (insônia) ou dormir demais; perda de energia ou aumento da fadiga; baixa autoestima e presença de sentimentos de culpa.

Por que expliquei o que era a depressão?

As pessoas que abraçam a religião acabam não acreditando na ciência, o que é um absurdo, pois podemos fazer um equilíbrio entre Fé e Ciência. Gostaria de apresentar um pensamento que é defendido por alguns grupos religiosos.

“Na Idade média, podemos observar que as pessoas que sofriam de depressão eram taxadas como possuídas, e as que tiravam sua vida estariam condenadas eternamente ao inferno.”

Esse pensamento ganhou força por causa da Igreja Católica Romana, porém o contexto mudou. A Igreja entendeu que se tratava de uma doença e não de forças malignas.

A depressão vem do Diabo?

Homem olhando pela janela, sentado, com expressão triste.
Foto: Katarzyna Białasiewicz / 123RF

Sabemos que a mudança de comportamento e humor são tristes frutos da depressão. Com isso em mente, alguns “evangélicos” afirmam que a depressão vem do Diabo, e você pode estar possuído e precisando de uma libertação.

Gostaria de provar que esse pensamento está errado, pois a depressão é uma doença psicológica, e não um demônio.

Como o próprio Jesus disse: “Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33).

Não estou afirmando que só teremos tristezas nesse mundo e que esse foi o plano de Deus, pelo contrário, por meio do pecado a morte entrou em nosso mundo, por isso existe esse contexto de miserabilidade.

Qual é o papel do Diabo no pensamento cristão?

Arte em vidro em uma catedral, representando figuras cristãs.
Foto: Pixabay / Pexels

Um antagonista que existe e se esconde por trás desse mundo terrível. A bíblia se refere a um ser completamente oposto à vontade divina. É chamado, às vezes, de Satanás ou Diabo.

São Pedro, em sua primeira epístola, menciona o objetivo do Inimigo da Humanidade:

“Sejam sóbrios e vigiem. O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar” (1 Pedro 5:8).

Comentário Bíblico:

8,9: Sede sóbrios (calmos) e vigilantes… vosso adversário

(oponente em uma ação judicial)… anda em derredor, como leão

que ruge procurando alguém para devorar (1 Pedro 5:8-9).

Essa passagem pode ser uma velada referência a Nero ou ao seu anfiteatro com os leões.

Resumindo, é um diabo pessoal. Resisti-lhe. Compare Tiago 4:7. A determinação cristã provoca a ajuda divina. E o conhecimento do que a

irmandade espalhada pelo mundo sofre as mesmas aflições tende a tomar os cristãos em dificuldades mais firmes na fé.

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Durante séculos, a crença de que o Diabo vivia em constante guerra com Deus propagou mentiras. Durante a Idade Média, a Igreja Católica ensinava que a alma daqueles que se mataram estava no inferno, e consideravam o suicídio um pecado Imperdoável.

Lembrando que, durante a leitura do novo testamento, percebemos a movimentação do Diabo, em algumas passagens. Pouco antes de Jesus começar seu Ministério, o mesmo foi tentando por Satanás (Mateus 4:1-11, Lucas 4:1-13).

O fracasso de Satanás é evidente, porém o mesmo foi responsável por influenciar outros seres humanos, para executar Jesus Cristo (Lucas 22:2-4).

O apóstolo Pedro foi vítima das ações diabólicas (Mateus 16:21-23, Lucas 22:31-32).

A Bíblia revela algumas coisas sobre o caráter sujo do Diabo. Cristo disse:

“Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira” (João 8:44).

Imagem de uma Bíblia sagrada sobre uma mesa.
Foto de John-Mark Smith no Pexels

Comentário Bíblico:

43, 44: O verdadeiro motivo para o fracasso deles em aceitá-lo era o

parentesco que tinham com o diabo. Ele era o pai deles. Por isso é que

agiam de acordo (Mateus 23:15). Seus pecados especiais eram a

mentira (relacionada com a tentação no jardim) e homicídio (no estímulo

de Caim para matar seu irmão — I João 3:12).

Por Willian Barclay:

(1) O próprio do demônio é ser um homicida. Jesus pode estar

pensando em duas coisas. Pode ter presente a velha história de Caim e

Abel. Caim foi o primeiro homicida e recebeu sua inspiração do diabo.

Mas possivelmente Jesus se refere a algo ainda mais sério. Foi o diabo

quem tentou pela primeira vez o homem, no antigo relato do Gênesis. O

pecado entrou no mundo pelo demônio, e pelo pecado chegou a morte

(Romanos 5:12). Se não tivesse havido tentação, não existiria o pecado,

e se não tivesse havido pecado, não existiria a morte. De maneira que,

em certo sentido, o diabo é o homicida de toda a raça humana.

Além disso, além dos relatos antigos, subsiste o fato de que Cristo

conduz à vida e o diabo à morte. O diabo mata a bondade, a castidade, a

honra, a honestidade, a beleza, tudo o que converte a vida em algo

bonito. O demônio destrói a paz do espírito, a felicidade e até o amor. A

essência do mal é a destruição, a essência de Cristo é trazer a vida.

Nesse preciso momento, os judeus faziam acertos e planos para

matar a Cristo. Tentavam converter-se em homicidas bem-sucedidos.

Tomavam o caminho do diabo.

(2) O que caracteriza o diabo é o amor à mentira. A palavra falsa, o

pensamento falso, a distorção da verdade, a mentira, pertencem ao

demônio. Toda mentira é concebida e inspirada pelo demônio e faz sua

obra. A falsidade sempre odeia a verdade e tenta destruí-la. É por isso

que os judeus odiavam a Jesus. Quando se defrontaram com Jesus, o

caminho falso se encontrou com o verdadeiro e, inevitavelmente, o falso

tentou aniquilar o verdadeiro.

Jesus acusou os judeus de serem filhos do diabo porque seus

pensamentos se inclinavam a destruir o bom e a manter o falso. Todo

homem que busca destruir a verdade, faz a obra do diabo.

Mais tarde em Apocalipse, o apóstolo João oferece uma importante informação:

O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra (Apocalipse 12:9).

Crucifixo em uma catedral.
Foto: Pixabay / Pexels

Satanás “engana todo o mundo”. O verbo “enganar”, que João usa, está no presente do indicativo, o que significa que ele ainda continua com suas atividades diabólicas.

O Diabo tem influenciado a humanidade desde o princípio. A história começa no Jardim do Éden, Adão e Eva, representantes da raça humana, foram influenciados por Satanás e ao comerem do fruto, ambos foram expulsos (Gênesis 3). Podemos observar também que a serpente era um animal “sagaz” e, dessa forma, contradisse a mulher (Gênesis 3:4-5). Eva acreditou na serpente e ao comer compartilhou com Adão e ambos permitiram a entrada do pecado no mundo.

Como disse o Apóstolo Paulo:

“Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12).

Homicida desde o princípio, Jesus se referiu a esse incidente, sem dúvidas satanás foi “homicida”. No entanto, ele não feriu Adão ou Eva, apenas provando que desobedecendo a Deus, eles trouxeram consequências para Si (Romanos 6:23).

No pensamento Cristão, o mundo sofre por causa do pecado.

A humanidade estabeleceu seu próprio padrão por meio de Adão e Eva. Satanás enganou ambos e, com isso, ficamos como escravos do pecado, como disse o Apóstolo Paulo:

“Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados” (Efésios 2:1).

Ao escrever para a Igreja de Éfeso, Paulo explica como estava a nossa situação antes de Deus, e conseguimos entender que o que ocorre no Mundo é por nossa causa.

Como o texto de Romanos 3:23 explica:

“Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus.”

“Por causa do nosso pecado, sofremos as dolorosas consequências, porém Jesus veio para os doentes” (Marcos 2:17).

O mundo está cheio de misérias por causa da nossa ação. Nós colhemos o que plantamos.

Conclusão:

Homem sentado no sofá, com expressão séria e as mãos sobre o rosto.
Foto de Andrea Piacquadio no Pexels

O Diabo não é Criador da Depressão, pelo contrário, por meio de sua liberdade, Adão escolheu pecar e, com isso, o pecado entrou no mundo.

Deus sempre avisou que após o pecado as pessoas seriam fortemente influenciadas mais cedo ou mais tarde.

“O seu crime a castigará e a sua rebelião a repreenderá. Compreenda e veja como é mau e amargo abandonar o Senhor, o seu Deus, e não ter temor de mim” (Jeremias 2:19), diz o Soberano, o Senhor dos Exércitos.

Quando procuramos a principal razão do sofrimento das pessoas e dos nossos, devemos buscar as respostas que estão em nossa volta. O Cristianismo afirma que o pecado é algo péssimo que afeta todos os seres humanos; a ciência afirma que a depressão é uma doença psiquiátrica que faz a narrativa dos religiosos passarem longe de tal veracidade.

Com a finalização desse artigo, quero afirmar que sou a favor da vida, logo eu não ofereço justificativa para o suicídio, pelo contrário, quero provar que as pessoas que cometeram tal ato sofreram vários motivos para tomarem uma decisão drástica.

Porém, todo tipo de julgamento pertence a Deus, caso você acredite nEle. O ser humano deve entender que nem sempre teremos respostas para nossas indagações.

Amar a Jesus nem sempre cura pensamentos suicidas. Amar a Jesus nem sempre cura a depressão. Amar a Jesus nem sempre cura o Transtorno de Estresse Pós-traumático. Amar a Jesus nem sempre cura a ansiedade. Mas isso não significa que Jesus não nos oferece companhia e consolo. Ele sempre faz isso.

— Pastor Jarrid Wilson (1988–2019)

Observação: Jarrid foi uma triste vítima da depressão que não aguentou as circunstâncias.

Descanse em paz, meu irmão na fé!

Sobre o autor

Jonathan Gomes de Brito

Estudante de administração e Teologia.
tentando chamar um pouco de atenção escrevendo algumas coisas.

Email: jonathangomesdebrito@gmail.com
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