Yoga

A palavra mágica do Yoga

Mulher com as mãos em formato de namastê.
Avrielle Suleiman / Unsplash
Escrito por Pedro Kupfer

O que é namaste? A palavra sânscrita namaste já foi ouvida por praticamente todo mundo, mas poucos sabem o seu significado. Até mesmo pessoas que não são praticantes do Yoga adotaram o namaste como uma saudação do dia a dia, de tanto ouvir yogis usando esse termo tão lindo.

Atualmente, esta saudação passou a ser dita em ambientes alheios ao Yoga e à espiritualidade, estando até nos dicionários ingleses, por conta dos imigrantes indianos que moram no Reino Unido. Além disso, de namaste derivam também a palavra persa namaz ou namasés, que é o nome da prostração feita pelos muçulmanos cinco vezes por dia.

Namaste vem de namah, que quer dizer “entrega”, ou “reverência”. No Yoga toda criação é uma infindável miríade de formas e nomes, e derivam do único ser Brahman, assim, namaste aponta para o Ser, presente em todos os nomes e formas, animadas ou não. Portanto, sendo todos esses aspectos manifestações do Ser, todas as formas de vida, ou de seres inanimados, são dignas de respeito e sagradas.

Seguindo esta linha de pensamento, percebe-se porque o hinduísmo reverencia todas as criaturas e todos os tipos de vida, e também porque existe o princípio da não-violência, chamado ahimsa, tão importante para todos os praticantes de Yoga e também para aqueles que não praticam.

Esse respeito pela vida é representado pela imagem de Kamadhenu, a vaca sagrada, que simboliza a generosidade sem fim de toda mãe e também a sacralidade da própria existência.

Mulher com as mãos em pose de namastê.
Ashley Inguanta / Unsplash

Da mesma forma que no Ocidente existe um porque profundo por trás de algumas palavras, como da palavra “adeus” – que é uma contração da saudação “entrego-te a Deus”- namaste tem uma história profunda e linda por trás de suas sete letras.

Namaste ou namaskar, assim como a palavra adeus, é usada como saudação, tanto no encontro, como na despedida entre pessoas. Seu significado literal significa “a você, meu namah”, ou seja, a você minha reverência, meu reconhecimento da presença do Ser em você. Esta é também a primeira palavra num mantra védico para Shiva, chamado Sri Rudram e que aparece no Ṛg Veda, o livro mais antigo da Humanidade, tratando extensamente da vida e de Yoga. Sua estrofe inicial é essa:

NamasteastuBhavagānViśveśvarāya
MahadevāyaTryambakāya
TripurantakāyaTrikālagnikālāya
KālāgnirudrāyaNīlakaṇṭhāya
MṛtyuñjayāyaSarveśvarāya
SadaśivāyaŚrīmanmahadevāyanamaḥ.

E a tradução do mantra se diz:

“Minha saudação a você, Senhor, Mestre do Universo, Grande Senhor, dotado de três olhos, Destruidor de Tripura, Destruidor do fogo Trikala e do fogo da morte, Aquele de Garganta Azul, o Vitorioso sobre a Morte, o Senhor de Tudo, o Sempre-Auspicioso, o Glorioso Senhor de todas as Deidades”.

No hinduísmo, Shiva é a forma divina que dissolve a criação no fim dos ciclos cósmicos e seu nome significa “auspiciosa”, além de representar a transformação, a mudança, a renovação, a aceitação e a gratidão. Toda mudança é ou acontece para o bem, assim, Shiva volta-se para o poder da transformação, e também para a gratidão que vem dela.
Sobre isso percebemos que, mesmo quando não compreendemos ou não conseguimos aceitar as contingências que a vida nos dá, devemos cultivar a aceitação pacífica das transformações. O terceiro olho de Shiva representa a sabedoria, que libera o adharma, ou seja, que libera o erro de conduta, alcançando a libertação (moksha).

O gesto chamado añjalimudra, quando unimos as palmas das mãos frente ao coração e fazemos uma ligeira inclinação com a cabeça, faz parte do namaste, sendo feito em sinal de respeito.

Você também pode gostar

Nas beiras do rio Ganges, na Índia é frequente as pessoas fazerem o namaste às águas sagradas, com um gesto que consiste em elevar os braços até o céu e fazer uma flexão à frente, que é muito familiar aos praticantes de Yoga.

Sabendo de tudo que envolve o namaste, numa próxima vez que formos usar esta bela e profunda saudação, façamos de forma consciente, com a lembrança de que quem está na nossa frente não é diferente de nós. Todos os humanos e criaturas vivas são dignos do mesmo respeito, assim como todos os nomes e formas. Todos merecem a mesma reverência.

Que este significado seja lembrado e celebrado, tanto nos encontros como nas despedidas de cada amigo, de cada companheiro de vida, de cada ser humano, mesmo se ao invés de namaste você disser “bom dia” ou “boa tarde”.
Então, namaste para você!

Sobre o autor

Pedro Kupfer

Pedro vive de vegetais, praia e surf. É casado com Ângela Sundari, com quem viaja com frequência para surfar, estudar, ensinar e compartilhar momentos bons com os seres humanos, plantas e animais deste belo planeta. Ensina Yoga há 30 anos. Move-se entre Portugal, Brasil, Índia, Indonésia e Chile, lugares que ama por diferentes motivos, sendo o mais importante de todos, as pessoas que conhece neles.

Oṁ Gaṁ Gaṇapataye namaḥ!

Site: www.yoga.pro.br
Facebook: @pedrokupfer
SoundCloud: soundcloud.com/pedrokupfer