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Comunicação não-violenta: uma solução eficaz

Mão infantil entregando Margarida para outra mão.
Escrito por Eu Sem Fronteiras

A cena é a seguinte: um post na rede social apresenta um tema, não necessariamente polêmico, mas que demanda a opinião das pessoas – a favor ou contra. Isso causará muitas ofensas em meio a discussões acaloradas. A hostilidade e a descompostura têm sido constantes nesses meios.

O trânsito também é um cenário em que essa animosidade é mais do que frequente e é ainda mais intenso, porque é um ambiente fértil para que se chegue às vias de fato. Sem falar nas relações familiares, na violência doméstica e nos defensores da famosa palmada, que veem a violência física e psicológica como excelentes corretivos na educação dos filhos.

Esses comportamentos são uma demonstração clara de que as pessoas andam sem empatia, sem capacidade de dialogar e de expor suas opiniões de forma racional e consciente. E é a isso que está associada a Comunicação Não Violenta (CNV), que é o tema deste artigo. Acompanhe para saber tudo sobre essa técnica, que pode ajudá-lo a recuperar a conexão com o outro e a se comunicar de forma mais assertiva e eficiente!

O que é a comunicação não violenta (CNV)?

Basicamente, a comunicação não violenta é um tipo de abordagem comunicativa pautado por uma linguagem não agressiva, em que há a defesa de que as relações precisam se estabelecer de forma compassiva e empática – daí ela também se chamar comunicação compassiva.

duas mulheres conversando
Charlotte May / Pexels / Canva

A CNV prioriza a escuta ativa, a empatia, a compreensão e a capacidade de entender a perspectiva do nosso interlocutor. Em suma, ela envolve o respeito pelo outro, considerando seus sentimentos e suas necessidades ao saber expor nossas opiniões de forma pacífica e sem julgamentos.

Como surgiu

A CNV foi desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, inspirado por grandes líderes, como Martin Luther King Jr. e Mahatma Gandhi – conhecidos por sua abordagem não violenta em prol da transformação do mundo.

Não violência, nesse aspecto, não tem a ver com evitar ou eliminar os conflitos – até porque esse não é o escopo da CNV. Conflitos são necessários, para que possamos exercitar capacidades como mediação, respeito a outros pontos de vista e aquisição de novas perspectivas.

Marshall teve várias inspirações para o seu trabalho. Entre elas, sua própria infância – por ele ser judeu, o que lhe proporcionou experiências desagradáveis, – e os conflitos raciais nos EUA, entre as décadas de 1940 e 1950.

Já por volta dos anos 1960, o psicólogo passou a se dedicar ao estudo do comportamento violento das pessoas em contextos sociais distintos, com o intuito de desenvolver uma cultura pacífica, o que levaria a um mundo mais justo. Para ele, a violência parte da crença de que as outras pessoas nos causam sofrimento e, por essa razão, merecem punição.

Em suas próprias palavras: “a CNV parte do princípio de que somos todos compassivos por natureza e que estratégias violentas – sejam verbais ou físicas – são aprendidas ensinadas e apoiadas pela cultura dominante. Ela também considera que todos compartilham o mesmo, necessidades humanas básicas, e que cada uma de nossas ações é uma estratégia para atender a uma ou mais dessas necessidades”.

Benefícios da comunicação não violenta

Como dissemos mais acima, a não violência habilita em nós a capacidade de argumentar de forma mais clara, respeitosa, levando a discussão a uma troca, à possibilidade de enxergar as coisas com o olhar do outro, gerando empatia e conexão. E, entre os mais diversos benefícios dessa abordagem, podemos destacar:

  • Solução de conflitos de forma pacífica;
  • Melhora da nossa relação com nós mesmos, gerando maior autoconhecimento e autocontrole;
  • Melhora da nossa relação com os outros, criando um ambiente de respeito, empatia e acolhimento;
  • Fortalecimento dos vínculos afetivos, resultando em relações harmônicas e mais bem esclarecidas;
  • Capacidade de perceber o impacto das nossas ações sobre a vida das pessoas, o que faz aumentar o respeito pelo outro e o autorrespeito;
  • Capacidade de entender nossas emoções, permitindo que saibamos lidar com elas e que promovamos reflexões e treinamentos par trabalhá-las em situações diversas;
  • Estímulo a debates saudáveis e ricos, criando um caminho mais fluido para o consenso;
  • Maior tolerância e respeito às diferenças;
  • Estabelecimento de uma cultura de paz e responsabilidade.

Há, sem sombra de dúvidas, uma infinidade de outros benefícios da CNV, individual e coletivamente, e é por isso que devemos colocá-la em prática o mais breve possível. Veja, a seguir, como você pode fazer isso.

Como praticar a comunicação não violenta

Em primeiro lugar, é preciso estar aberto, sinceramente, a embarcar nessa ideia. É necessário reconhecer que existe animosidade dentro de você por mais que você se considere uma pessoa calma – até porque, em um dado momento, seu limite será testado e você vai falhar.

É essencial reconhecer que existem formas de se debater e resolver conflitos sem ser por meio da violência e tenha em mente que violência não é somente a física. Quando invadimos o espaço emocional de alguém, quando somos debochados, não o escutamos, difamamos, desprezamos, estamos praticando uma forma de violência – a violência passiva.

Os quatro componentes da CNV

Para colocar em prática a comunicação não violenta, você pode se guiar em quatro ações:

duas pessoas com as mãos unidas sobre a mesa conversando
vchal / Getty Images / Canva
  • Observação: analise o que está acontecendo em dada circunstância, mas faça isso sem juízo de valor, sem avaliar o que é certo ou errado.
  • Sentimentos: após a observação, é hora de identificar como você se sente ao analisar essa situação. Qual foi o sentimento? Mágoa, raiva, susto, alegria, satisfação ou outra sensação?
  • Necessidades: identificados os sentimentos, então é o momento de reconhecer e constatar as necessidades apontadas por eles. Se você sente raiva, que necessidade está associada a essa raiva? O que precisa ser atendido com relação a esse sentimento?
  • Pedido: com tudo resolvido dentro de você, agora é preciso se direcionar ao outro, para fazer um pedido claro, a fim de atender as necessidades identificadas. O que você precisa daquela pessoa para enriquecer sua experiência ou resolver um conflito?

Um exemplo prático: alguém fez uma observação e você não gostou. Em primeiro lugar, observe a situação. O que a pessoa falou (dispa-se da subjetividade)? Como você se sentiu com relação a essa fala? Chateado, ofendido? Digamos que se sentiu chateado e, então, você conseguiu identificar o sentimento. Então explique o que o chateou no discurso dela, mas responsabilize-se por sua chateação, em vez de culpar a pessoa diretamente (pode ser que ela nem tenha tido essa intenção).

Para finalizar, vocês podem chegar a um consenso sobre a conversa, desde que você deixe claro o que espera da pessoa com relação ao que foi dito e o que aquilo lhe causou, mas, claro, tudo sem acusações. O que nem sempre é fácil, já que a CNV não acontece num passe de mágica. É preciso, portanto, enfrentar as dificuldades em prol de um bem maior!

As dificuldades em praticar a comunicação não violenta

Mudar requer esforço, força de vontade e foco. Temos que ter um propósito na mudança, já que, do lado de lá, sempre tem a tal da zona de conforto, que nos aprisiona no modo automático, o que só piora à medida que envelhecemos, pois vivemos sob a ideia de que o avançar da idade nos impede de abraçar as mudanças. O que não é verdade.

Além do mais, vivemos sob a ideia de que a punição e o domínio agressivo são as bases da comunicação. Exemplos não faltam, como desde o famoso “Manda quem pode, obedece quem tem juízo” até a famosa palmada, sobre a qual falamos no início do artigo e que traz a ideia de que bater, gritar, punir e impor são as únicas formas de educar.

Além disso, temos vários outros fatores do dia a dia que podem se tornar um entrave para a prática da CNV e o seu sucesso:

  • Estabelecer diálogos em que haja julgamento, verdades absolutas, impossibilidade de respostas ou perspectivas impede que a comunicação flua de forma apaziguada.
  • Desvalorizar a dor do outro, seja pela competição (dizendo que você já passou por aquilo e foi pior), seja por dizer que há muita gente em situação pior no mundo e que a pessoa deveria ser mais grata.
  • Aconselhamentos impositivos, como dizer que a pessoa “deveria” fazer algo, em vez de praticar uma escuta ativa, sem julgamentos.
  • Tentativa de direcionar a pessoa.
  • Interrogar e questionar, julgando a atitude da pessoa.
  • Falta de conexão com a pessoa com quem você está conversando, demonstrando falta de interesse ou aprofundamento na necessidade do outro.
  • Estar ali apenas para esperar a sua vez de falar. Isso é bem comum! É quando você está ouvindo a pessoa sem prestar atenção de fato, aguardando apenas chegar a sua vez para falar o seu problema, ignorando completamente os sentimentos e as necessidades do outro.

Há várias outras formas de impedir a eficiência da comunicação não violenta, sob diversos aspectos e perspectivas. O importante é se manter firme e aberto a ouvir o outro e expressar os sentimentos de forma equilibrada e consciente.

Vale aprender mais sobre empatia, olhar para dentro de si e buscar no seu interior uma forma de sanar suas dores por meio do autoperdão, da cura e do resgate da sua criança interior – aquela parte da nossa mente em que habitam as nossas emoções reprimidas, nossa intuição, nossa alegria lúdica e genuína. Trabalhe o seu emocional. É como se costuma dizer: dome a sua fera, para evitar que a outra fera morda você.

Quando não devemos usar a comunicação não violenta?

A CNV pode ser aplicada às mais diversas situações, seja no que se refere a conflitos, a tomadas de decisão, a expressão dos sentimentos. Pode ser realizada no âmbito familiar, no trabalho, na escola, nas relações de amizade e até mesmo com pessoas fora do nosso círculo pessoal, visto que ela é uma ferramenta de transformação global.

Entretanto, como já dissemos acima, essa técnica não foi feita para evitar ou acabar com conflitos (pelo contrário, ela estimula o conflito, só que de forma pacífica e enriquecedora). Se você quer fugir do debate, não estará praticando CNV.

Outra questão defendida pelo seu criador é que a comunicação não violenta não é aplicável a situações de extrema necessidade de sobrevivência ou defesa, já que é uma situação instintiva e o corpo não estaria preparado para executar as etapas que levam a essa abordagem.

Em circunstâncias em que os ânimos estão excessivamente aflorados, o ideal é esperar que tudo se acalme para só então partir para um debate pacífico e resolutivo. Aqui, a questão não é não usar a CNV, mas sim de uma questão de timing, uma vez que a técnica pode ser usada, só não é recomendável fazer de imediato.

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De uma forma geral, porém, não há contraindicações para a prática da comunicação não violenta, já que ela pode se tornar um estilo de vida, uma base para a nossa forma de lidar com os outros e com o mundo que nos cerca.

A comunicação não violenta é a saída para a solução de conflitos de forma a respeitar todas as partes envolvidas e o conflito em si. Como já foi dito aqui, o conflito é importantíssimo em nossa vida, uma vez que ele nos enriquece e nos dá a chance de sairmos de nossa bolha para conhecer o que é diferente. Não só conhecer, mas aceitá-lo e aprender com ele. Esse é o caminho para que possamos evoluir como sociedade e, de fato, construir um mundo melhor, mais respeitoso e acolhedor!

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