Nutrição

Desejo incontrolável por doces? Um vício semelhante à dependência das drogas

Desejo incontrolável por doce
Escrito por Lícia D'ávila

O gosto doce é o primeiro sabor que nós humanos fomos acostumados desde o nascimento, relata a American Dietetic Association (ADA). A presença da lactose no leite humano, atrai o bebê na busca de energia por meio da alimentação, favorecendo a necessidade de crescimento rápido e acelerado.

Talvez por uma questão de sobrevivência, o ser humano, como forma de adaptação ao meio, desde os primórdios, tenha buscado alimentos que proporcionassem calorias facilmente estocadas no organismo, em forma de energia de reserva. Dessa forma, poderiam permanecer longas horas sem se alimentar durante os períodos de carências. Os alimentos com sabores mais adocicados têm a característica de possuírem alta densidade energética, e quando consumidos em quantidade, se transformam em tecido gorduroso, podendo então ser estocado.

É cientificamente comprovado que o sabor doce ativa o circuito cerebral da recompensa, estimulando a sensação de bem-estar, por meio de neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina. O gosto doce também libera no cérebro, substâncias chamadas endorfinas, que têm a capacidade de acalmar, relaxar e proporcionar uma espécie de êxtase. Esta preferência de paladar se intensifica ainda mais, pelo fato de proporcionar uma sensação de recompensa, o que poderá fazer-nos desejar constantemente o sabor doce. O circuito cerebral do prazer ou sistema de recompensa, é ativado por doces, assim como pelas drogas, tais como o álcool e os entorpecentes. Estes têm a capacidade de liberar até 10 vezes mais dopamina que outros estimulantes deste sistema cerebral.

O sistema de recompensa cerebral estabelece uma relação de atração, tanto para o sabor doce intenso, dos doces em geral, como alimentos que contenham carboidratos, como massas, pães, bolos, alimentos processados e outros que utilizem adoçantes artificiais, como os intitulados “diets” de mercado.

Desejo incontrolável por doce

Estudos científicos mostram que a genética também pode influenciar. Polimorfismos nos genes dos receptores T1R1, T1R2 e T1R3, podem caracterizar maior ou menor consumo de carboidratos ou alimentos com sabor doce.

Os problemas na saúde física começam a acontecer, quando comemos açúcar em excesso, algo fácil, uma vez que o açúcar é adicionado em quase todos os alimentos processados, estando presente em diversas nomenclaturas.

Os adoçantes artificiais, embora reduzam a liberação da insulina pelo pâncreas (uma preocupação, principalmente dos portadores de diabete mellitus), têm a característica de manter ativo o sistema neuronal de recompensa. Fato este que estimula a necessidade constante de ingeri-los.

Se você se encontra nesta situação, sem forças para controlar o vício por doces, a notícia é boa: há como reverter este cenário! Veja algumas alternativas que poderão ajudar e escolha as que melhor se adaptam:

1) Procure por um nutricionista: Cada organismo é único. Para atingir os melhores resultados, procure um nutricionista. Este é o profissional habilitado a fazer as prescrições alimentares e orientações corretas para o seu caso.

2) Coma um pouco: O sentimento de proibição, para algumas pessoas, pode desencadear em compulsão alimentar. A proibição deixa de existir se você saboreia aquilo que tanto deseja. Selecione um pedaço bem menor, do que aquele que você normalmente comeria, e coma tornando consciente sua saciedade.

3) Masque chicletes sem açúcar: Mascar chicletes pode diminuir a vontade de doces, recomenda a psicoterapeuta e especialista em compulsões, Judy Chambers. Deixá-los à mão, pode facilitar na hora de partir para algum docinho.

4) Mude o foco para outra atividade: Levante-se e vá caminhar, faça uma atividade manual, foque sua atenção em uma matéria de jornal, retome aquela pendência que você deixou para trás e resolva-a no momento de crise.

5) Faça substituições: Busque substituir o tipo de doce que provoque tentações, por opções mais saudáveis. Por exemplo, os adoradores de brigadeiros, podem experimentar receitas feitas com biomassa de banana verde ou abóbora. No lugar do achocolatado, usar o cacau puro. Trocar o açúcar por adoçantes, de baixa caloria. Estas trocas podem ser um motivador para a mudança, permitindo novas descobertas.

6) Beba água: Beber água ou líquidos não calóricos, cerca de 500ml de uma vez (dois copos), provoca distensão no estômago, trazendo saciedade. Pode distrair ainda aquela vontade de comer alguma coisa. Se a água estiver gelada, o metabolismo pode aumentar em aproximadamente 30% por cerca de uma hora.

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7) Procure entender suas emoções: As emoções interferem diretamente no comportamento alimentar do ser humano. Estresse, cansaço, nervosismo, ansiedade, depressão e até mesmo o estado de euforia, podem interferir no que comemos e na forma como nos alimentamos. Os transtornos alimentares têm origem em questões psicológicas, que devem ser endereçadas e tratadas. Dê um encaminhamento aos problemas de ordem emocional, busque apoio profissional para ajudá-lo a resolvê-los com mais facilidade.

Referências: ALISON K. VENTURA; JULIE A. MENNELLA. Innate and learned preferences for sweet taste during childhood. Curr. Opin. Clin. Nutr. Metab. Care, p.379-84, 2011.

Sobre o autor

Lícia D'ávila

Lícia D’Ávila é profissional graduada e pós-graduada em tecnologia da informação pela USP, e nutricionista, com projeto de pesquisa científica pelo CNPq. Completou seus estudos em Paris, França, onde residiu por três anos.

Especialista em exames hematológicos pelo Instituto de Nutrição Avançada, idealizadora da comunidade Facebook de portadores de compulsão alimentar Pare com a Compulsão Alimentar, Siga Revigorando a Saúde.

Curso pela Harvard Medical School em performance cognitiva, Cognitive Fitness.

Especialização pela Harvard Medical School em imunologia (sistema imunológico, alergias e intolerâncias alimentares).

Curso de iniciação em fitoterapia (USP).

Apaixonada pela ciência da nutrição e em constante busca de conhecimentos e atualização científica. É determinante que o alimento destinado a cada organismo seja individualmente planejado. Esse é o verdadeiro remédio no tratamento de grande parte das doenças.

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