O que eu vou dizer agora é sobre a diferença entre dor interna, emocional, incômodo psicológico. Eu não estou falando de dor física, da diferença entre dor e sofrimento. Sofrimento é algo arrastado, prolongado, que se amplia, que corrói. Dor é algo momentâneo, passageiro, ocorre pelo impacto do acontecimento. Agora o que faz com que uma dor possa ser passageira ou possa se transformar em sofrimento? O que faz com que a dor se transforme em sofrimento são os pensamentos que eu agrego à dor.
Está vendo a importância de pegar em flagrante? Algo acontece na minha vida. Por exemplo: eu perco o emprego, pode ser qualquer exemplo de algo de que você não gostaria, talvez você até gostasse de perder o emprego, mas vamos supor que você não queria perder esse emprego, aí você pode começar a lamuriar, resistir, se lamentar, começar a imaginar cenários negativos. Isso é agregar pensamentos a um acontecimento. Aí a dor… que tinha um incômodo delimitado… agora esse incômodo ampliou, aumentou, porque eu agreguei pensamentos, já não é mais dor, é sofrimento.
O sofrimento é opcional. Ele depende de eu colocar ou não pensamentos sobre aquilo. Aí esse treino, eu pego em flagrante os pensamentos que ocorrem e fico no silêncio. Aconteceu. A realidade é essa. Não é boa, não é ruim, é a realidade tal qual ela é. Apesar da insistência de a mente querer classificar como ruim, pego em flagrante essa insistência, é como o porteiro pegando em flagrante aquele cara que invadiu o condomínio e fala para ele não entrar. Fica na presença, apenas sente a realidade. A distinção entre sofrimento e dor é algo que os grandes mestres já conheciam. Buda tinha a metáfora da flecha: a dor é como se fosse uma flechada que o cara leva, o sofrimento é como se fossem segunda flecha, terceira flecha, quarta flecha, que a pessoa recebe, só que da segunda, inclusive, em diante, quem dispara a flecha é a própria vítima da primeira flecha por meio de seus pensamentos, isso se for entendido e vivenciado tem um potencial de transformação da nossa vida imenso.
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As circunstâncias não são responsáveis pelo nosso sofrimento, é a nossa própria atitude que é responsável pelo sofrimento. Eu posso manter um luto por décadas. O luto não dura décadas se eu não agregar pensamentos que reforçam algum motivo, por algum motivo eu estou agregando pensamentos àquele luto. Então eu estou sendo responsável pelo meu próprio sofrimento, isso vale para qualquer coisa.