Budismo Espiritualidade

Exercitando o Caminho do Meio

Homens usando roupas laranjas e com mãos juntas segurando linha branca.
Baramee Temboonkiat / Canva PRO
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Caminho do Meio é um conceito budista milenar. Nele, o indivíduo encontra total equilíbrio e controle sobre seus impulsos e comportamentos diariamente.

Embora seja um termo que retrate moderação e autocontrole em relação à maneira de viver das pessoas, o Caminho do Meio não deve ser interpretado como uma atitude passiva em relação aos desafios da vida, muito menos conformista. Praticar esse conceito significa obter uma correta visão da vida, executar pensamentos e atitudes com base na felicidade individual e das pessoas ao redor.

Esse conceito é exemplificado pela própria vida de Siddhartha. Nascido como um príncipe, Sakyamuni desfrutou uma vida de conforto e prazeres. Porém, não satisfeito com isso, deixou o palácio em que vivia em busca da verdade sobre a natureza do seres vivos. Ele iniciou a prática ascética, restringindo sua alimentação e sono, ao ponto de quase sofrer um colapso. Notando a falta de importância de seguir esse caminho, começou a praticar meditação, com determinação para compreender a verdadeira existência humana. Foi assim que Sakyamuni despertou para a verdadeira natureza da vida, ou seja, para a eternidade e para a fonte de vitalidade e sabedoria ilimitadas.

Depois, para conduzir seus seguidores a esse Caminho do Meio, Sakyamuni ensinou sobre o Caminho Óctuplo, que trata de oito princípios pelos quais a pessoa pode controlar seu comportamento, mudar sua natureza de vida e desenvolver seu autoconhecimento. Os oito princípios são:

  1. Visão correta;
  2. Pensamento correto;
  3. Expressão verbal adequada;
  4. Ação correta;
  5. Modo de vida correto;
  6. Empenho adequado;
  7. Observação adequada; 
  8.  Meditação adequada.

Uma lenda budista diz que ele concluiu que é necessário exercitar o Caminho do Meio após desmaiar de fome ao realizar um rigoroso jejum e ter voltado a consciência após ser alimentado com uma tigela de mingau por uma camponesa caridosa que passava por ali no momento. Após meditar sobre este fato, Siddhartha percebeu que o controle exorbitante e excessivo é tão ruim e ineficaz em termos espirituais quanto a excessiva licenciosidade, e optou por seguir um caminho intermediário entre ambos.

O buda elucida oito passos para que o Caminho do Meio seja praticado de maneira correta:

Palavra correta

Homem refletindo.
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O sábio deve escolher a palavra mais eficaz, de acordo com a pessoa e o momento. Muitas vezes, ela não é a mais bonita e agradável, mas precisa ser, acima de tudo, verdadeira. Palavras bonitas soam bem aos ouvidos e massageiam o ego, mas se não partir de um coração sincero e honesto, serão apenas mais uma ilusão. O homem que ensina a verdade somente com palavras e não as vive, não é exemplo, mas sim um hipócrita. Suas palavras podem corretas, mas assim como seu coração não é puro, suas intenções também não o são,  elas são, na verdade, mentirosas e traiçoeiras.

Ação correta

Realizar ações positivas para as pessoas e seres vivos no meio ambiente. A ação correta deve ser correta e justa. Também deve evitar uma posição individualista e voltada somente para os mais fortes, promovendo o bem-estar entre as pessoas.

Meio de vida correto

Viver de forma honesta e justa. Mesmo em meio as questões do dia a dia e influências, trata-se de uma postura correta dentro da profissão, qualquer que seja. Você pode ser um político honesto, correto para com o povo e a sociedade ou escolher ser um profissional corrupto e exclusivista. O soldado pode cumprir seu dever protegendo as pessoas, não necessariamente se tornando um soldado cruel. E assim por diante.

Esforço correto

Homem meditando.
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Trata-se do empenho correto e constate na busca pela iluminação interior, ou seja, pela felicidade absoluta. Um fator importante é que “esforço” não corresponde, necessariamente, a uma luta física ou repressão ao outro. Trata-se de desprender grande energia e foco para realizar uma verdadeira dedicação, a fim de obtermos os resultados provenientes desses esforços.  

Plena atenção correta

Trata-se da meditação vivida e praticada da forma correta. É preciso meditar corretamente, pois, se não meditamos de maneira eficaz, não obteremos nenhum resultado. Por essa razão, a Meditação Correta é muito importante. Sem ela, estaremos rodando em círculos e, dessa forma, não é possível ascender a níveis superiores de compreensão e consciência de própria vida.

Concentração correta

Nos dias atuais, quando ouvimos falar em concentração, vem logo à mente uma pessoa esforçando-se para concentrar-se em uma só coisa. Natural pensarmos assim, porém, não é isso que o Buda quer dizer, pois nossos objetivos são baseados em desejos que obtemos e que buscamos alcançá-los.  Essa prática, em vez de libertar, aprisiona a mente. Nesse sentido, é de suma importância elevar o estado interior de vida, a própria energia. É necessário se concentrar não somente em um ponto ou um fator da vida, mas sim nos sonhos e objetivos que permeiam a mente, fazendo uma “seleção” dos que são de fato importantes para o desenvolvimento pessoal, e os que podem ser descartados.

Pensamento correto

Flor de lótus
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Quando coordenados de maneira correta e eficaz, os pensamentos projetam somente questões positivas, mesmo em meio aos problemas. Eles devem ser trabalhados dioturnamente e, após um tempo, passam a ser ações, mudando assim a realidade da própria vida.  Por outro lado, o pensamento, quando é inconsciente, descontrolado e reativo aos impulsos externos, causa males não somente ao seu dono, como também as demais pessoas e seres vivos ao redor. Pensamento é pura energia, por isso a importância de mantê-lo correto, mesmo em meio a negatividade ao redor. Você estará emanando essa mesma força e positividade ao universo, o que beneficia tanto a nós mesmos, quanto a todos os seres do universo.

Compreensão correta

É a compreensão clara, sábia e verdadeira acerca de si mesmo, da vida e do universo, o que inclui a descoberta de tudo aquilo que aprisiona o homem na ilusão e ignorância. Entendendo como a mente funciona, como ela cria a dor e as ilusões, compreendendo a verdade sobre si mesmo e os fatores da vida como realmente são.

Apesar de sua origem judia, Albert Einstein (1879-1955) elogiou e enalteceu sua admiração pelo budismo, louvando as virtudes lógicas e condizentes que Siddhartha manifestou, comparando com a era tecnológica e científica que vivemos. Segundo ele, o budismo pode ser uma espécie de “religião cósmica do futuro”, pois baseia-se numa lógica exata, que tem relação com a causa e efeito de todos os fenômenos da vida, sem precisar apelar para dogmas impostos à base da força.

Trata-se de autoconhecimento para a compreensão do próximo. É ver claramente a verdade sobre o ego e como ele atua em nossas vidas.

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Vivendo de maneira correta o Caminho do Meio, é possível ter o discernimento de quando e como utilizar dos meios e benefícios materiais, assim como usufruirmos de nossa vida espiritual, encontrando equilíbrio e controle sobre os aspectos da vida. Não é fácil exercitar esse Caminho, uma vez que nossa mente e corpo são expostos  a inúmeros efeitos e fatores, e aí reside o desafio. Quando praticado o Caminho do Meio, é possível viver feliz e tranquilamente.

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