Estamos já no século XXI e ainda discutimos esse assunto. O interessante é que sempre há uma novidade, sempre um novo jeito de atacar alguém por sua cor-de-pele.
Nós, negros, já estamos saturados dessa lenga-lenga, e acho que essa história já precisa tomar novo rumo. Somos inteligentes, bonitos, altamente capazes de transformar a nossa sociedade em um lugar melhor e mais producente.
Estava lendo um artigo muito interessante sobre estes elementos que há pouco tempo foram alvos de polêmicas de apropriação cultural. Segundo a pesquisa, seu uso se iniciou no Antigo Egito, sendo usado pelos Faraós, e tinha o nome de Khemet, Kemet ou Nemes, feito de linho, o grande produto da região na época. Tinha uma representação de hierarquia e que, depois, foi adaptada para outras áreas, incluindo a religião.
Ainda segundo a pesquisa, os persas usavam algo feito com dez bandas de pano, cujo nome pode ter originado o nome Turbante – Dulband ou Tülbent. Na África do Sul e em Moçambique, os Xhosa os chamam de Iqhiya. Ele enaltece a feminilidade nas mulheres em torno da África. Seu uso indica a herança do orgulho do povo que nunca terá fim. Ele ainda tem grande importância de uso entre os Xhosas, Zulus, Tongas e os Vendas.
Atualmente, pode-se afirmar que o turbante tem sido utilizado como símbolo do empoderamento negro, e principalmente da mulher negra, em que se mostra um enaltecimento desta etnia, com sua beleza e força emocional, que convive com grandes demonstrações de emoção, ligação com os povos que vieram sofrendo da África para cá, nos porões dos navios, praticamente sem poder se mover e que resistiram ao sistema que lhes foi imposto, e que até hoje, sentem na pele o peso do preconceito e da segregação descabida, desde que eram julgados como seres sem alma. Ele dá destaque aos cabelos, cujo crescimento para cima forma uma Coroa, que é enfatizada através do uso dos turbantes abertos, ou simplesmente faixas, cuja amarração é escondida por dentro, sem a necessidade de nós. Assim, ficam ainda mais expostos o rosto e os seus traços marcantes.
Existem também significados relacionados a cores e eventos, sendo os de cor preta usados em funerais, e os brancos usados em casamentos e outros eventos em que se celebra alegria e renascimento.
Este é um torço, cujo tecido é o ojà, usado em religião (candomblé). Quem está na foto é a Ekèji Noélia.
Associado ao uso de turbantes ou outro tipo de tecido na cabeça, há uma expressão pejorativa de que a usuária se pareça com uma empregada doméstica, como se a profissão fosse depreciativa – o que obviamente não é, sendo uma ocupação como qualquer outra, em que o conhecimento é adquirido com a prática e também com estudos.
É preciso que a sociedade apague esse pensamento ridículo. É uma profissão que deveria ser muito valorizada, pois faz parte da engrenagem de uma residência, uma boa administração implica em sucesso e organização. E não é qualquer pessoa capaz de desenvolver essa atividade.
O uso do cabelo natural também ainda é reprovado por muitas pessoas, inclusive por aquelas que não entendem que cada ser humano tem uma beleza única. Não é a estética que define a pessoa, mas sim os seus atos e pensamentos.
Quanto à discriminação racial em si, é doloroso ouvir muitas coisas que se fala e ver muita coisa que fazem os preconceituosos (ainda bem que são minoria):
– ser atingido por bananas ou suas cascas;hist
– ser perseguido em um ambiente de comércio por um segurança (muitas vezes também negro), sendo tachado de ladrão pela cor da pele;
– não ser servido em um restaurante, ou haver demora proposital no atendimento;
– dificilmente ser selecionado para editoriais ou capas de revista ou desfiles;
– não ter representatividade em cargos de mais autoridade como gerência, diretoria, presidência, cargos públicos;
– não ter ensinamento da História dos Negros nas escolas (só para citar alguns negros importantes do Brasil temos Zumbi dos Palmares, Aqualtune, os irmãos Rebouças, Aleijadinho, Machado de Assis, Tereza de Benguela, Luiz Gama, José do Patrocínio, Carolina de Jesus, Abdias do Nascimento, Ruth de Souza, Grande Othelo, Milton Santos, etc);
– ser o único negro do local em que se estuda, trabalha ou frequenta;
– ter que explicar para que servem as cotas educacionais e quem são os atingidos por elas;
– receber apelidos que se referem a alguma característica física de acordo com a etnia: negão, carvão, popô, chocolate, saci, sombra, pneu, crioulo, entre outros;
– letras de músicas que depreciam a mulher negra, que não valem ser citadas aqui, mas o leitor provavelmente vai se lembrar de uma sem demorar;
– sentir que alguém atravessou a rua por medo;
– utilizar expressões racistas sem conhecer o real significado;
– utilizar a posição de digital influencer para destilar seu veneno contra qualquer pessoa.
Aceitação e respeito é o que mais se precisa neste mundo para uma convivência harmoniosa. Afinal de contas, todos nós fazemos parte desta engrenagem que se chama planeta Terra.
Referências
https://paineira.usp.br/celacc/sites/default/files/media/tcc/iqhiyaversaartigo_0.pdf 12072018
https://www.thepatriot.co.zw/old_posts/african-women-and-the-significance-of-a-head-wrap-dhuku/ 12072018
https://clothetrotter.wixsite.com/clothetrotter/single-post/2017/04/26/The-History-of-the-Head-Wrap 12072018
http://portal.aprendiz.uol.com.br/arquivo/2013/07/18/professor-lista-360-apelidos-racistas-para-debater-preconceito/ 12072018
http://www.curtamais.com.br/goiania/18-expressoes-racistas-que-voce-usa-sem-saber 12072018
https://www.todamateria.com.br/personalidades-negras-brasileiras/ 12072018
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-42033622 12072018
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