Autoconhecimento

O que é a felicidade e como podemos experimentá-la?

Uma mulher de braços erguidos em meio a um pôr ou nascer do sol.
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Escrito por Eu Sem Fronteiras

Ah! Essa tal felicidade… Artigo de luxo para alguns, caminho simples para outros. Você saberia dizer, verdadeiramente, se é feliz? Ou, ao menos, se sabe o que é felicidade? Estaria ela nas pequenas coisas ou é algo basicamente inalcançável?

São muitas as questões que envolvem a felicidade. E por se tratar de algo subjetivo, traçar uma única definição seria, talvez, uma tarefa inglória. Mas tentamos. E usando várias referências para versar sobre o tema, trouxemos um conteúdo que você vai adorar percorrer, de forma a encontrar vários caminhos que vão lhe dar uma luz sobre essa “borboleta” que tanto perseguimos no bosque da vida.

Acompanhe, a seguir, o que significa a felicidade…

Felicidade para o budismo

Para os budistas, a felicidade reside no agora, no momento em que a vida acontece. Na capacidade de desfrutar o presente. Está em saber – e aceitar – que as coisas são impermanentes. Viver no presente é o que contribui para a construção da nossa felicidade.

Mas vai também um pouco além disso. Está relacionada com nossa empatia com todos os seres que nos cercam. Não é um fim, mas um meio, já que não é algo que “encontramos”, mas sim praticamos. É por isso que costumamos dizer que ela está dentro de nós, não no exterior.

Um homem trajando vestes budistas e meditando.
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No entanto não é mera escolha de vida, mas sim um hábito que deve ser cultivado, praticado e compartilhado. Isso requer de nós reunir condições de vida saudáveis e harmoniosas, tanto física quanto mentalmente.

O budismo vê o equilíbrio como o caminho para a vida plena. E vida plena é algo que está relacionado com a felicidade. Em primeiro lugar, precisamos entender que o sofrimento existe e que ele não é mera obra do acaso, mas ele não dura para sempre e seu fim se dá por meio do equilíbrio da vida.

Felicidade para a filosofia

Vários foram os filósofos que se empenharam a estudar e “dissecar” a felicidade. Obviamente não chegaram a consenso, uma vez que cada um tinha seu ponto de vista, com base em suas próprias investigações.

Epicuro via a felicidade na satisfação dos desejos. Para Platão, aqueles que são morais são os únicos capazes de ser verdadeiramente felizes. Já os que abusam do poder se tornam escravos de suas vontades, impossibilitados, portanto, de se tornarem livres e felizes.

Sócrates via a felicidade associada a uma conduta correta e justa. Para Pirro de Élis, por sua vez, a felicidade estaria atrelada à tranquilidade de ânimo, à ausência de perturbações (conhecida como ataraxia).

Uma escultura do filósofo grego Aristóteles.
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Para Aristóteles, um dos mais conceituados e estudados filósofos gregos, esse sentimento ultrapassava o sentido geral. Dessa forma, temos uma visão mais estruturada sobre o que é felicidade para Aristóteles.

A felicidade, segundo o discípulo de Platão, reside na atividade, na virtude e na ética, necessárias para que uma pessoa pudesse se enquadrar nesse sentimento. Alcançar a virtude consiste em se preguntar “Como devo ser?”, não “O que devo fazer?”. E na ausência dessa qualidade moral, resta ao homem o mero contentamento.

Felicidade para as religiões

O conceito de felicidade realmente dá “pano para a manga”. Esse sentimento passeia pelas mais diversas esferas. Uma delas é a religião. Qual seria a ligação entre felicidade e religião? Seria uma o caminho para a outra?

Segundo pesquisa da Datafolha de 2020, quase 90% dos brasileiros têm alguma religião. Mas não necessariamente significa que esse mesmo percentual seja feliz. Ainda assim, a ligação a uma religião oficial parece estar relacionada com o aumento da felicidade e do bem-estar.

Ter uma religião proporciona às pessoas a sensação de que são respeitadas e consideradas. Sem falar que os momentos de oração, meditação ou mesmo de um silêncio para sentir a presença da divindade representativa trazem alívio.

A figura de Deus também traz a ideia de suporte para encarar as adversidades da vida, ajuda a entender melhor os desafios, permitindo encará-los com mais gratidão e menos ansiedade. Além do mais, toda religião evoca no seu seguidor um sentido para a vida. A religião, de uma maneira geral, propicia a construção de momentos felizes.

Mas por outro lado…

Tem havido um crescimento do número de pessoas que não se apegam a uma religião formal, sem, entretanto, abandonarem a fé ou a sua ligação com os valores religiosos. Essas pessoas apenas não veem necessidade de intermediadores para a prática de suas crenças.

São os declarados “sem religião”. Alguns deles, inclusive, sentem-se até mais felizes e mais conectados com os outros do que quando pertenciam a uma religião institucionalizada.

A felicidade em números

Ainda que haja uma parcela maciça da população que se enquadra em uma religião, somada a uma pequena porção sem religião, mas com fé, ultimamente o número de pessoas que se dizem felizes não acompanha essa massa.

Uma pesquisa da Global Happiness realizada em 2020 mostrou que 63% da população se considera feliz (contra 61% em 2019). O maior pico de felicidade até então no país foi em 2013, quando 81% dos brasileiros se declaravam felizes.

Uma família feliz.
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É óbvio que essas pesquisas foram realizadas em um período de pandemia, o que claramente afetou todo o planeta nesse quesito. E a ameaça do coronavírus mexeu com a nossa posição no ranking mundial da felicidade: o estudo World Happiness Report (WHR), de 2021, mostrou que a covid-19 fez o Brasil cair 12 posições nessa lista – em 2019, estávamos em 29º lugar; em 2020, passamos a ocupar a 41ª posição.

Sobre esse fator atípico, ainda estamos levantando e sacudindo a poeira, recuperando o fôlego e juntando os caquinhos para retomarmos a nossa busca por dias melhores e mais felizes. Mas isso, a gente há de convir, é um trabalho que o mundo todo está empreendendo. Alguns países com mais facilidade, outros nem tanto.

Como ser mais feliz?

Desconsiderando a questão da pandemia e analisando o quadro geral, fica a pergunta: o que devemos fazer para sermos mais felizes? A felicidade vem da obtenção de coisas ou, como afirma o budismo, é uma prática que deve ser tomada como rotina, assim como escovar os dentes para evitar a cárie?

Sabemos que a felicidade melhora globalmente o nosso bem-estar – físico, mental e espiritual. Sendo assim, a busca por esse sentimento vai além da mera satisfação; ela tem a ver com a manutenção da nossa saúde e a prevenção de doenças.

E dá para “aprender” a ser feliz, sim! É o que diz um estudo publicado pela Universidade de Trento (Itália) na “Frontiers in Psychology”. Podemos aprender a aumentar nosso bem-estar e, com isso, alcançar a tão sonhada felicidade.

Mas a felicidade, para os autores desse estudo, tem a ver com uma combinação de fatores – entre eles alto grau de satisfação com a vida, crescimento pessoal, condições psicológicas ideais e senso de autonomia. São essas as bases para se construir a ideia de felicidade.

Nesse estudo, os pesquisadores criaram um programa que alia psicologia, neurociência e filosofia cujo intuito era estimular emoções positivas e inibir disfunções emocionais, como ansiedade e estresse.

Uma pessoa segurando uma folha de papel sulfite azul em frente do seu rosto. Neste papel, um desenho que representa uma feição/rosto feliz.
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O foco desse trabalho foi associar a felicidade ao desenvolvimento do equilíbrio interior, com aulas teóricas e práticas que envolviam meditação, exercícios baseados várias tradições, inclusive as budistas, e até mesmo o hábito de escrever diários.

Os resultados foram bastante positivos, trazendo aumento da percepção do bem-estar, da autoconsciência e da autorregulação emocional, além de redução considerável da ansiedade, do estresse e dos pensamentos negativos.

Ser feliz é mais fácil do que parece

Há muitos outros estudos sobre a felicidade e também sobre como alcançar esse estado de espírito. Mas esse que mencionamos trouxe uma abordagem holística que reúne ações com as quais já estamos familiarizados. Só falta as colocarmos em prática, já que a felicidade é, em si, um exercício.

Isso mostra que ser feliz é menos complexo do que parece. Embora seja uma condição com algum viés subjetivo, existem coisas objetivas que nos tornam mais propensos a ser felizes. O primeiro deles, que já mencionamos, é o equilíbrio, preconizado pelo budismo e corroborado na pesquisa italiana.

Já sabemos que gratidão, voluntariado, meditação, perdão e amor-próprio são também um caminho para a felicidade. Dormir bem, tomar sol e praticar exercícios também melhoram a nossa condição física e mental, levando a um equilíbrio, que leva a um sentimento de alegria e satisfação. E assim se torna um círculo vicioso, pois estar alegre proporciona ânimo e fôlego para se cuidar.

Outra questão importante é parar de criar expectativas para tudo. Deixar as coisas fluírem e saber que nem tudo pode ser controlado (aliás, praticamente nada pode) também nos desprende, desamarra, e a liberdade também é uma via para a felicidade.

Aceitar as mudanças (mais uma vez aí o budismo nos ensinando sobre a impermanência das coisas) também nos liberta do sofrimento. E, ratificado pela ciência, 40% de nossa capacidade de ser feliz está associada ao poder de mudança (segundo Sonja Lyubomirsky, pesquisadora da Universidade da Califórnia.

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Seja como for, e sem esse clichê das autoajudas que não funcionam, a felicidade está, sim, dentro de nós. Mas ela não é uma caixinha com vários tesouros guardados. Ela é o nosso primeiro passo, ela é o caminho que trilhamos todos os dias. É como se alimentar, tomar banho, escovar os dentes, estudar… Requer rotina, hábito e frequência. A felicidade é como respirar: nunca dá para parar de praticar.

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