Autoconhecimento

Sonhos em análise – Parte 4

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Escrito por Deva Layo Al-N-Dara

SONHOS EM ANÁLISE
O BEIJO DE UMA ROSA
NA VIDA REAL E NA MÚSICA
– IV Parte –

Leia a Parte 1Parte 2 e Parte 3 deste artigo.

AS DUPLAS MENSAGENS DA PSIQUE

A Psique, a maior parte do tempo, entra em contato conosco por meio de mensagens invertidas, tanto nos sonhos quanto nas situações corriqueiras, sincronicidades ou somatizações que constelamos.

Vamos analisar algumas frases do texto da música Kiss from a Rose, do cantor Seal, e os símbolos e as metáforas escondidos no discurso que a sombra trouxe através do sonho de uma cliente.

No caso dos sonhos, as duplas mensagens são mais comuns do que se pode parecer. Como esta música foi a trilha sonora de um sonho relacionado a um aspecto sombrio do Animus*, devemos prestar muita atenção aos apelos sedutores da sombra que se exprime através do embusteiro em nós. Esse é um mecanismo compensatório do inconsciente para provocar o nosso amadurecimento na vida real. Então, prestemos atenção.

Esse “Animus embusteiro” (ou “trickster”) geralmente encarna o sedutor ou puer (lembram de Don Juan DeMarco?), que promete “mundos e fundos”, porém, no momento de cumprir sua parte da promessa, teme o aprisionamento do compromisso, fugindo com desculpas evasivas – e às vezes sumindo sem explicação alguma, criando na vítima a experiência do abandono.

Na realidade, trata-se de um Animus infantil (somente um Animus puer tem medo de mulher de verdade, isto é, de mulher adulta, mulher crescida, mulher real, e não mais uma puella). Ele é medroso, vive no mundo da fantasia de seu narcisismo negativo, e ao mesmo tempo é atávico e sombrio, pois ele não vai deixar de “morder a sua parte”, se tiver oportunidade, nessa relação com a Anima**, sugando-lhe a viçosidade e a libido como o faria um vampiro, e negando-se a nutri-la ou dar-lhe um feedback positivo, abandonando o sentido da troca nessa relação.

Dessa forma, a Anima sente-se faminta por mais, porque desatenta, se deixou viciar, não sabe mais o que fazer ou pensar sem seu amado, e a psique a interdita para receber mais nutrição, a fim de lhe proteger, enquanto esse Animus imaturo passa a “curtir” o sofrimento da vítima, revelando um sadismo até então oculto, tendo na angústia feminina o prazer em querer mais. “Me diz, isso é saudável, querida?”, evoca a frase da música explícita na 2ª parte desta série.

APRENDENDO A PERCEBER AS MENSAGENS INVERTIDAS DA PSIQUE MASCULINA

Observem a mensagem invertida: ele informa como todo trickster o faz, na posição de um “suposto dependente emocional”, na posição do “inofensivo”, que sabe que o vício não faz bem, mas como ele está encantado pela Anima e, então, a “encantando” com sedução, enfeitiçando-a com a sua poesia, o seu romance, cativando-a com o verbo (transformando a Anima em sua cativa), ela não consegue perceber essa mensagem implícita no discurso por causa do glamour masculino em lisonjeá-la.

O “volta pra mim…” pode ser um convite tentador, porém, se a mulher que decide voltar atrás não estabelecer limites e continuar aceitando as manipulações narcísicas desse Animus, ela não conseguirá experimentar O Feminino de si mesma nesta relação.

A sombra, que é um complexo do inconsciente, avisa à mulher que “Existe tanta coisa que um homem pode contar a você, tanto que ele pode dizer”, e isso também inclui os discursos invertidos e não verbalizados do masculino. Portanto, é necessário prestar muita atenção aos atos falhos que se manifestam nas palavras dos discursos masculinos de sedução.

A sombra masculina também diz na música: “Você se tornou a luz no meu lado obscuro”. Tal discurso pode representar a própria Anima revelada no espelho da sombra, falando a respeito de si mesma. Neste caso, é a Anima quem canta para o Animus e revela sua fragilidade.

O amor não precisa ser uma meta inalcançável dentro de nós, e sombra não se combate, se integra.

A frase também revela o “acordamento” de algo que já existia e jazia enterrado, esquecido e ignorado em nossa consciência, uma presença sombria no discurso da música que deseja ser considerada – integrada: que lado em nós “vive morto” na sepultura sem uma luz, um beijo ou carinho? Por que nos negamos a crescer? Por que nos negamos amor? E se der tudo certo, o que vamos fazer com isso? Resposta: vamos tomar isso para nós. Viver “isso” como símbolo. Viver o símbolo!

O amor não precisa ser uma meta inalcançável dentro de nós, e sombra não se combate, se integra. Talvez precisemos aprender a cantá-lo para nós mesmas antes de nos aventurarmos em um relacionamento. Cantar o amor aos nossos próprios ouvidos esquecidos da canção. Às vezes, admitir um eu falido é o melhor começo para experimentar o nascimento do amor em nós.

ENFIM, REFLEXÕES SOBRE O AMOR

Embora esse lado sombrio do Animus nos faça refletir sobre a existência do amor em paralelo à angústia, ele também evoca essa angústia mais do qualquer outro aspecto no início da música, ao mesmo tempo em que a frase tem duplo sentido ao dizer “O amor continua sendo a droga que “dá uma onda” sem a pílula”. É só “uma onda” o que ele realmente quer?

Então o suposto amor é algo passageiro, sem muita profundidade, assemelha-se mais a um encantamento passageiro. Ou ele está realmente dizendo que o que sente é muito forte e genuíno? No estudo de caso da música, Seal fala de uma paixão, mas quando a Psique traz essa paixão como símbolo para a consciência feminina, ela precisa ficar atenta aos aspectos positivos ou negativos da paixão que vive em si mesma.

Apaixonar-se por si mesmo pode ser uma experiência prazerosa como foi para Afrodite, tanto quanto fatal, como o foi para Narciso.

Um discurso semelhante aparece em “Você permanece, meu poder, meu prazer, minha dor! Querida… para mim você é como um vício crescente que eu não posso negar”. Por que o amor deveria ser um vício sempre doloroso? Por que não ressignificar o contexto do prazer pela dor? Já que ele não exclui a angústia, porque cair para o sadomasoquismo? O que falta em recursos para que o Animus saia desse dilema da dor toda vez que experimenta o amor? Significa que ele está “viciado” naquela “sensação”, na dependência química da paixão, em sinapses negativadas, e que pela mesma razão, não tem recursos para sustentar a relação por muito tempo.

Logo, que tipo de cura esse discurso nos traz, para nós mulheres? Diferenciarmo-nos dos aspectos da dependência emocional como risco em qualquer relacionamento. Todos sabemos que as relações humanas são baseadas na troca, e em especial nos relacionamentos amorosos.

Um lado nutre o outro a partir de si mesmo, ainda que todo início espera-se um elemento narcísico de manifestação afetiva, e quanto mais ambos estão conscientes dessa nutrição pessoal, íntima e intransferível de si mesmo, mais ambos só têm a ganhar um com o outro.

Vejamos que no discurso “Costumava a ser uma torre acinzentada sozinha no mar”, temos um conto de fadas. Este Animus encantador, aquele que canta e com seu canto nos encanta, começa seu discurso contando um conto. Que tipo de mulher espera por um Animus, presa em uma torre no mar, senão aquela que vive o dia a dia fechada em seu conto de fadas, longe da realidade? Como foi dito anteriormente, este mecanismo de defesa está prestes a ruir se contarmos com os parâmetros desse Animus que acaba de se apresentar ao longo da música.

Um outro fato que chama muito a atenção é “Ooh, Quanto mais eu recebo de você, mais estranha é a sensação, é sim. E agora que sua rosa está desabrochando, uma luz atinge a escuridão da sepultura”. O símbolo escondido por trás desta frase tem duas faces:

Quando ele recebe a correspondência dessa Anima, mais ele se torna capaz de experimentar a sensação estranha que esse amor lhe causa, pois ele acaba de sair de sua sepultura renovado pelo beijo da rosa e pela luz dessa Anima. Isso é bom, pois ele está dizendo que está entrando em contato com o amor dentro dele. Ele se permite experimentar o amor como Animus ressuscitado. É um Animus que expressa sua gratidão e reverência ao feminino.

Quanto mais ele recebe, mais ele se alimenta dessa estranha sensação que o amor dessa Anima lhe traz, mais ele quer beber dessa sexualidade recém descoberta, e como só agora ele foi capaz de enxergá-la em sua plenitude, em seu pleno desabrochar, só agora ele aparece cheio de promessas, porque de alguma forma projeta a imagem materna que o salvará de sua sepultura. Isso não é bom, pois se assemelha muito àquele velho discurso, de quando a mulher decide dar um basta e o homem lhe diz “desculpe amor, só agora percebi isso, eu sou um coitado, me desculpe!”

COMPREENDENDO NOSSA FORMA DE AMAR COM A AJUDA DOS SÍMBOLOS PRESENTES EM NOSSOS SONHOS

Estas duas possibilidades acima estão presentes no discurso da música, e é muito importante a mulher estar atenta às mensagens invertidas nos discursos da sedução da sombra que se apresentam em seus sonhos, pois em última análise, tais discursos podem representar o embusteiro em nós e nossa falta de conexão e inconsciência da nossa feminilidade. E quanto menos temos conexão com o feminino em nós, mais distante do Animus sagrado, de um Animus positivo, nos encontramos.

Logo, a música é tanto “um chamado”, quanto “um aviso” e “um lembrete”: o Animus sagrado existe dentro da psique feminina, mas a mulher precisa estar atenta às seduções do trickster sedutor, que a faria cair de novo para o aspecto da Anima não considerada, da vítima seduzida e abandonada, pois o sedutor apenas promete, encanta e seduz. É o que ele sabe fazer.

É muito importante a mulher estar atenta às mensagens invertidas nos discursos da sedução da sombra que se apresentam em seus sonhos.

Ele não sabe corresponder, polarizar, sustentar a energia, responsabilizar-se e se relacionar. Se a mulher deseja de relacionar verdadeiramente, terá que estabelecer um vínculo muito profundo com ela mesma, integrando estes aspectos sombrios da sedução que ela traz como conteúdos de autosabotagem, para “se encantar a fim de não se ver”, se diferenciando deste aspecto e tirando o poder de figuras masculinas que desejam que ela continue sendo submissa ao narcisismo deles.

Um Animus autêntico não necessita da máscara do embuste ou dos artifícios da sedução feérica para conquistar uma mulher. Ele é naturalmente seguro em seu discurso e essa segurança produz um outro tipo de atração e efeito sobre a Anima, sem os aspectos infantis do encantamento. Esse Animus não tem necessidade de encantar ninguém no sentido de “prender a atenção para si, criar uma necessidade de mim dentro dela” no dilema narcísico, pois ele tem consciência em si mesmo, de que é o masculino encarnado e de que ele é o que é.

Seal nos traz uma música repleta de símbolos e mensagens que, a depender do contexto vivido por cada mulher, podem representar aspectos positivos de um Animus considerador que enxerga sua Anima e deseja assumir com ela uma relação de desenvolvimento para ambos ou o contrário.

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A mulher, na posição da “Anima encarnada”, é quem precisa aprender a distinguir qual é o seu caso, que tipo de Animus traz dentro de si, como lida com o próprio feminino, se seus vínculos consigo não estão mascarados pela autosedução e autosabotagem, por meio de questionamentos muito profundos, uma sinceridade genuína, que no começo pode gerar muita angústia, porém, no final do ciclo, pode lhe trazer felizes resultados. E todas nós temos ainda muitos e muitos ciclos para abrir e fechar, muitos e muitos símbolos para serem vividos.


*Animus: aspecto masculino interior da mulher.
**Anima: aspecto feminino interior do homem.

Sobre o autor

Deva Layo Al-N-Dara

Deva Layo – nome tântrico de Luciáurea Coelho – é autora e arquiteta com especialização em cura de ambientes (Feng Shui, radiestesia e radiônica).

Atua como condutora de percepções, é empata sensitiva consciente e contatada de fenômenos anômalos (UFO), com vasta formação e experiência no segmento artístico, holístico e em espiritualidade: técnicas de dança para educação somática, terapêutica tântrica, terapêutica Yoni Egg, mestria em Reiki, practitioner em ThetaHealing, terapêutica psicanalítica e junguiana, renascimento, leitura de oráculos e condução do sagrado.

É mantenedora da Plataforma de Conhecimento LILITH-BRASIL, criadora da “Jornada para Lilith – de 21 Dias” e mentora do “Lilith Satsang – Encontros com Lilith”, da Escola Psicopompo de Lilith, do Programa Consciência Rúnica (na Rádio StartFM, em 2017), compiladora e transmissora das obras “O Chamado de Lilith”, “Lilith – Rainha da Lua”.

É também autora das obras “A Sombra Que a Gente Tem”, “O Vampiro no Divã”, “Yoni Egg – A Pedra Filosofal da Consciência Feminina”, “Meditação Yoni Egg” e da série de cinco volumes sobre Geometria Corporal Expressiva para Dança do Ventre, disponíveis no Clube de Autores e na Amazon.

Compartilha conhecimentos por meio de seus livros pela expansão da consciência planetária.

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