Em geral, todas as formas de Arte conduzem a um estado de bem-estar, realização, prazer, concentração e ajudam a limpar a mente de problemas e conflitos, pelo menos durante o tempo em que nos dedicamos às atividades criativas. Mas mexer com a argila para criar Arte, seja esta utilitária ou simplesmente uma expressão do Belo, nos conduz a outro universo, outra dimensão.
Pesquisas recentes comprovam que usar o barro como forma de expressão reduz consideravelmente os níveis de estresse, ansiedade e depressão, além de fazer com que o indivíduo olhe para si mesmo, para dentro, em busca de autoconhecimento. A argila com certeza facilita essa jornada, e falo por experiência própria.
Em um tempo onde as conexões estão cada vez mais instantâneas, em que o conhecimento global nos chega em segundos a partir de um simples ‘clic’ na tela de um smartphone, onde as pessoas parecem cada vez mais ansiosas, sem tempo, com relações superficiais e passageiras, se torna necessário um “voltar para dentro”, um tempo para olhar no espelho d’alma e entender o que se passa conosco, do que precisamos, o que nos faz feliz ou infeliz… PARAR é fundamental.
Os monges budistas fazem isso há milênios, nos ensinaram a meditar, parar, refletir e cantar mantras, e através dos anos essa sabedoria foi adquirindo outras nuances, ganhando outros nomes de batismo e milhares de adeptos ao redor do planeta.
Assim, a partir de vivências, estudos, observações de casos e relatos pessoais, descobriu-se que a argila é uma ferramenta muito potente para ajudar a se reconectar com si mesmo e com os outros.
A argila nos ajuda a…
- focar a mente no momento Presente, e como a Dança, faz com que você use os cinco sentidos, a musculatura, a atenção, a tensão, a respiração, os movimentos, todo seu corpo, aliado à sua mente, em prol de um objetivo final. É o tal do Meio que justifica o Fim, já ouviram falar, né!? Aqui, o principal é o Processo, e não necessariamente o resultado final, onde tudo trabalha em harmonia e de forma solidária.
- perder a noção do Tempo, no bom sentido, distrair a mente (nossa companheira às vezes tão ativa e cansativa), abrir espaço para o novo, relaxar, fazer uma faxina geral nas preocupações e silenciar os “macaquinhos” mentais que ficam pulando sem parar, nos distraem e perturbam.
- exercer a criatividade, a liberdade de criar sem censura, dar forma ao pensamento, tornar a imaginação uma realidade e desfrutá-la com tudo que temos direito.
Mas também, e propriamente a argila, nos ensina a lidar com muitos aspectos de nossas vidas com os quais nem sempre conseguimos em condições normais, por exemplo, ela nos ensina a…
- lidar com as frustrações, na medida em que nem sempre o resultado final corresponde ao projeto planejado, uma vez que no processo de confecção de uma peça, a ideia está exposta a algumas variáveis, como a umidade do ar, a intensidade/direção e temperatura/ou “temperamento” do fogo, e outros fatores da Natureza sobre os quais não temos controle algum.
- reagir ao inesperado, nos forçando a descobrir e criar recursos para solucionar problemas que surgem durante a criação, secagem e acabamento de uma peça.
- entender que não temos o controle de tudo, que é humanamente impossível controlar todos os aspectos da Vida, e mesmo assim podemos ser felizes, acolhendo as diferenças, as surpresas e entendendo o outro sobre o qual não temos controle, mas que pode nos somar/acrescentar e nos enriquecer.
- desenvolver a aceitação, já que sem o controle absoluto, às vezes as forças dos elementos naturais conduzem sua peça para um resultado surpreendente, nem sempre tão “bom/bonito” como você desejaria, mas que pode se tornar admirado e belo, com todas as suas “imperfeições”.
- não ter apego nas coisas materiais, pois em seus vários momentos de construção a peça passa por situações de extrema fragilidade, e mesmo você fazendo tudo “certo”, ela pode quebrar dentro do forno ou em um dia qualquer de sua existência, o que nos faz entender cada vez mais profundamente que tudo é passageiro, mas pode ser refeito, reconstruído, melhorado, sempre nos abrindo novas possibilidades!
Então, o que você está esperando? Bora lá e mão na massa! Literalmente…