Convivendo

Você cria a sua timeline

Linha do tempo das décadas. Pino verde e cinza.
Escrito por Marisa Pretti

Quando eu tinha quinze anos, queria logo ter dezoito. Para mim, dezoito vinha como promessa de liberdade. Imagino que você pensava mais ou menos assim se nasceu em meados de 60… 70… 80, talvez não.

Eu tinha sonhos. Muitos sonhos doidos. E acredito que você também. Ainda os tenho. Adolescente sempre sonha com alguma coisa. Sonhos adolescentes podem ser até parecidos. Em geral, poucos desses sonhos se realizam.

Minha adolescência foi menos agitada do que uma criança pode querer. E mais complicada que um adulto pode prever. Nada fácil. Uma adolescência cheia de desacertos, truncada por muita responsabilidade emocional antes do tempo da maturação.

Cresci com a noção exata: ultrapassar meus limites só se fosse para beneficiar o coletivo familiar. Ou então, para trazer alguma medalha de ouro para casa. Feito que sinceramente, não me recordo de ter realizado. Desde adolescente, não consigo pensar em benefícios individuais.

Ou ganhamos todos ou eu prefiro perder. 

Mulher fazendo coração com a mão no horizonte.

Sobrevivi a ataques de ansiedade, duvidas, culpas, medos… pelamor, tudo desnecessário, agora eu sei.

Tinha uma personalidade dramática, forte demais em contrapartida com a baixa autoestima. E uma vontade de deitar na cama e morrer. Preguiçosa também, fato. Vai que, por isso não morri, por pura preguiça.

Em torno dos meus trinta, já casada e mãe de 3 filhas, aí sim, o bicho pegou! Tive depressão e, como brinde, síndrome do pânico. Natureba com exceções racionais, procuro métodos com os quais me sinto conectada, e, nessa busca, encontrei a homeopatia. Tratamento iniciado, em uma das consultas ouvi do médico, Dr. Augusto, a quem só tenho gratidão, o alerta desconcertante e decisivo para quem hoje sou: “Fácil querer morrer, não? Difícil é ter coragem para viver”. 

Um soco no nariz teria entortado menos a minha cara. De tacho, como ficou, certeza!

Desde então, desentortei o pescoço, olhei para os lados e resolvi viver. Adversários no caminho? Muitos!

Dos imaginários aos reais e o mais cruel: eu. 

Mulher andando em tronco buscando equilíbrio.

Fiz tai chi para me curar da depressão e do pânico. Com as artes marciais, aprendi algumas regrinhas. Uma delas é aproveitar a energia desprendida nos golpes do adversário, transmutar essa energia em força para vencer a luta. Outro princípio é não perder o equilíbrio. 100% de apoio nos pés, mesmo que em algum momento um deles não esteja no chão.

Não gosto muito de regras. Mas admito que servem para colocar ordem em uma possível bagunça. Tenho uma regra de que gosto, aprendida com meu mestre de tai chi, Daniel Lee: a alegria e a tristeza estão em uma balança imaginária, jamais podemos colocar mais peso em qualquer um dos lados. As emoções devem estar sempre equilibradas. Lembra quando você aprontava alguma e sua mãe falava: “Tá rindo muito, já tô vendo: logo mais vai chorar”? Se a sua não falava isso, sorte sua.

Exemplo simples de falta de equilíbrio: minha mãe teve dois acidentes vasculares cerebrais. O primeiro, hemorrágico: discutiu com o gerente do banco. No dia seguinte, baixou no hospital. O segundo, isquêmico: Marcelo, meu irmão, comentou que ia ser pai. No dia seguinte, baixou no hospital. Pode acreditar: a raiva e a alegria mal dosadas foram responsáveis pelo estrago!

Não é difícil compreender.

Letras em neon amarelo com frase "everything is connected". Fundo preto.

Tudo passa, e nós pagamos com os efeitos das nossas ações. Podemos ser o rascunho ou a arte-final. Os artistas somos nós. Temos as ferramentas cedidas pelo Grande Criador.

O que você quer está além do véu da ilusão. Não existe modelo correto a ser seguido. Existem fórmulas que podem ser aprendidas, mas não há receita perfeita.

A primeira coisa que coloquei na minha prática diária foi o “não me culpo, e não me culpe”. Isso não quer dizer que sou condescendente com todos meus erros. Se eu errei, errei e pronto. Sou honesta e justa comigo mesma. Não me culpe pelo seu erro. Se você errou, seja honesto com você. Não me maltrato mais. Não permito ser maltratada. 

Procuro o meio-termo entre estar relaxada e atenta. Aprendi a contemplar para, mais tarde, realizar. Aprendi a focar minha mente em objetivos. Aprendi também: se não tenho objetivo no momento, dane-se, espero um outro momento. Nem todos meus objetivos serão realidade. E mesmo assim, a minha realidade pode ser até melhor. Tudo bem. Nem tudo o tempo resolve. Desculpe se disseram o contrário. Acredito que o tempo passa, mas quem resolve somos nós.

Já ganhei um ano em um dia bem vivido. Já perdi um ano em dias mal vividos. Parei com a neurose ensinada, quase obrigatória de viver cada segundo intensamente. Vivo apenas. Intensamente ou não.

Plenamente sim, eu vivo! 

Homem na praia com os braços abertos em sinal de conquista, aproveitamento.

Se eu tiver vontade, desperdiço meu tempo. Me entrego ao ócio da contemplação. Depois desfruto a plenitude do movimento. Então, naturalmente a ação acontece. Não sou obrigada, não preciso estar taquicardicamente feliz o tempo todo. Sou feliz, muito, mas nem todo dia é dia de circo.

O sofrimento pode ser real ou invenção do imaginário. Sofro na medida, se for real. Desapego do sofrimento, se for excesso de criatividade da minha cabeça.

Desapego de alegrias muito saltitantes e de emoções superficiais.

Não crio GRAN-DES expectativas. Nem para mim nem para os outros. Expectativas são saudáveis na medida certa e como um lembrete do possível.

No mais, tudo é transitório. Em trânsito. Ilusório.

O que fica? O que você acha que fica de verdade, como sinopse de tantas informações na sua timeline?

Fica só o que É. O que É, independe da matéria e da alegria momentânea. 

É a sua essência liberta do Ego. É o prazer que a gente tanto procura.

ÔPA, isso É real. É você! 


Você também pode gostar de outro artigo desta autora. Acesse: Dia das Saudações

Sobre o autor

Marisa Pretti

Amigo leitor...

Caro leitor...

Querido leitor...

Prefiro chamar você de Passageiro leitor.

Afinal, você está aqui de passagem como eu. Caminhando nesta Terra cheia de buracos e tanta água que haja braços fortes e pernas ligeiras para não se afogar.

Viver, a começar pelo ato de nascer, é para quem tem pacto fechado com a teimosia. O ar inflando os pulmões e o primeiro choro para que ninguém se engane: não estamos aqui só para sorrir, mas principalmente. Sim!

Sou mãe por vocação. Atriz por formação. Entusiasta por opção. Audiodescritora por paixão e profissão desde 2010.

Minha profissão, em uma breve descrição, se resume em traduzir imagens em palavras com o maior detalhamento possível para a pessoa com deficiência visual. Um recurso acessível também para idosos, disléxicos, pessoas com deficiência intelectual e para quem mais sentir necessidade dessa ferramenta assistiva. Simples e complicado assim. Trabalho com filmes, espetáculos de dança, teatro, vídeos, suportes empresariais, e o maior desafio foi levar acessibilidade visual ao Carnaval paulistano, desde 2017.

O mundo é visual, estímulos visuais são constantes! Por meio da audiodescrição qualquer produto pode ser traduzido em palavras.

Trabalhar com inclusão é estar atento ao outro, é ser um facilitador e igualar oportunidades.

Provavelmente foi esse gosto pelas letras encadeadas, mastigadas e saboreadas na língua como um demorado beijo que me trouxe até aqui.

Pretendo contribuir com minhas vivências e reflexões sem pretensão alguma, apenas para compartilhar alguns saberes. Uma leitura leve, um livre pensar, mas nem por isso descompromissado com a sua inteligência.

E porque creio na humanidade, na diversidade e na inclusão aceitei colaborar com o #EuSemFronteiras.

Abraços acessíveis!

OBRIGADA.

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