Convivendo

A dor do despertar

Mulher branca deitada em cama branca, acordando.
Escrito por Sara

Eu acredito que posso descrever o despertar espiritual com uma simples frase de uma música que eu gosto muito. A frase em questão é: “Before the truth will set you free, It’ll piss you off”, que, traduzida, fica algo mais ou menos parecido com: “Antes da verdade te libertar, ela vai te irritar”. Sinceramente, isso é muito verdadeiro.

Contextualizando, eu tive depressão desde os 12 anos de idade e, entre uma crise aqui e outra ali, cheguei a quase virar ateu, não conseguia acreditar que havia um deus lá fora que permitisse uma dor tão imensa dentro de alguém. Antes disso, desde a infância, sempre fui muito bem acompanhada por sonhos esquisitos, vultos, vozes e essas coisas que crianças normalmente passam, certo?

Com o tempo, fui crescendo e, mesmo tendo sido criada em uma família evangélica, sempre tive uma facilidade imensa em atrair amigos espíritas, umbandistas, wiccas e me sentia fascinada com tudo o que eles compartilhavam comigo. Curiosa que sou, eu ia atrás de pesquisar sobre os assuntos, porém sempre com medo por causa da minha criação. Era basicamente o livro de wicca em uma mão e a bíblia na outra.

Até aí tudo bem! Mas, no ano em que completei 18 anos, no dia 31 de dezembro de 2014, eu estava voltando para casa do trabalho e, dentro do ônibus, tive a minha primeira crise de síndrome do pânico, e essa crise se estendeu ao longo de 2015 e, entre uma crise e outra, eu já não conseguia mais ficar em casa sozinha, tomar banho era impossível se minha mãe não estivesse em casa, e as paralisias do sono (que na verdade eu tive a vida inteira) se tornaram mais frequentes e mais assustadoras do que nunca.

Para cada noite que eu “dormia com os anjinhos”, dormia outras vinte bem acompanhada dos “demôninhos”.

Pois bem, com isso eu comecei a buscar loucamente por maneiras de me curar e acredito que foi aí que começou o meu despertar. Uma amiga minha na época me apresentou o espiritismo e a Mahikari, que é um movimento religioso oriental, e eu fui, entre passes e o Okiyomes (uma espécie de passe da Mahikari) eu ia oscilando entre o “estou muito bem” e o “minha nossa senhora, eu vou morrer”.

despertar

Isso aconteceu no final de 2015. Nessa época, terminei um namoro de dois anos e, em menos de três meses, comecei outro. Esse término doloroso junto com o início conturbado do outro namoro resultou em dois anos de culpas, questionamentos, vazios, falta de amor, falta de amor-próprio e uma lista imensa de coisas ruins. Nesse mesmo ano, de 2016, comecei a faculdade.

Por que estou contando tudo isso? Porque, quando achei que o meu limite era a síndrome do pânico, descobri que ainda dava para ir mais fundo naquele poço e eu desci, desci para caramba, mas tudo bem, porque foi nesse momento que então eu decidi que ia achar um jeito de arrumar essa bagunça toda.

Uma coisa que eu acho interessante dizer é que: quando comecei a minha jornada espiritual, acreditei que bastava eu “espiritualizar” que minhas dores cessariam, que tudo seria simples, que eu ia ver anjos o tempo todo, ia ter paz, amor e prosperidade.

Mas o que não me contaram e que eu vou contar para vocês agora, para que vocês não se iludam como eu me iludi é que: nós ainda vivemos em um planeta dual (por mais quanto tempo, eu não sei), além disso, estamos lotados de crenças limitantes, padrões, remorsos, a gente guarda ódio no coração por muitas pessoas e situações (isso só dessa vida, sem contar as das vidas passadas que a gente não lembra), fora os karmas, minha gente.

“Ah mas eu sou índigo, eu sou cristal, porque eu também estou sofrendo?”, pois é, meus amigos, ninguém conta, mas até as crianças iluminadas que vieram ajudar no despertar da humanidade trazem consigo karmas, coisas para aprender, entre outras coisas.

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Voltando à dor do meu despertar… de 2016 até o final de 2017, minha vida foi simplesmente voltada a estudar. Eu devorei conteúdos de tudo o que vocês podem imaginar sobre a Umbanda, sobre dimensões, energias, magia divina, oráculos, autoconhecimento, li livros do Robson Pinheiro, do Rubens Saraceni, meditei, falei com guias, fui do extremo do meu ódio ao extremo da minha bondade, me espiritualizei até o talo e adivinhem só? Ainda assim a vida não se tornou um mar de rosas.

Por fim, esse ano eu deixei o assunto um pouco pra lá. Terminei o namoro, troquei de emprego e decidi viver mais leve, sem ficar buscando ser evoluída, foquei apenas em tentar descobrir quem eu era, o que eu gostava, o que de fato me faz bem e o que não faz. Comecei a fazer terapia e, cara, adivinhem só, agora sim, comecei a encontrar a paz.

Louco isso, né? Só quando eu desisti é que eu consegui ser. Mas como isso funciona, afinal? Sinceramente, pelo que eu já vi nessa vida, o processo do despertar é muito diferente pra cada um, mas ele sempre vem com uma fórmula: a pessoa é condicionada ao extremo de alguma dor que a faz buscar uma maneira para se curar e, daí para frente, cada um segue uma história diferente, mas que, por sorte, sempre termina em um bom final.

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Eu não acredito que eu já esteja desperta, mas sei que hoje estou um pouquinho mais do que estava ontem e assim continuarei, despertando um pouquinho por dia.

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Para finalizar, eu tenho um conselho para você: acordar dói, machuca o ego, você vai perceber quanto preconceito tem dentro de você (tanto com os outros quanto consigo mesmo), você vai perceber que dinheiro não é tudo e, quando a ilusão começa a romper, dói mais ainda, porque você percebe quanto tempo perdeu sofrendo, julgando, tentando ser o que não era, batendo boca, olha… vai longe os motivos pelos quais o seu ego dói quando desperta.

Mas não se assuste, porque, ao mesmo tempo que o seu ego vai te machucando, você vai começando a enxergar o mundo com outros olhos e vê mais cor nas flores, se apaixona pelas pessoas não pela aparência mas pela essência delas, você para de discutir à toa, porque pouco importa, você não precisa estar totalmente certo o tempo inteiro.

Romper a escuridão dói, encontrar o equilíbrio entre a sua escuridão e a sua luz dói mais ainda, mas acreditem, quando você entende que precisa da luz e das sombras para ser completo, quando você entrega seu corpo e seu espírito para que as forças do universo guiem, você chega a agradecer por ter passado pela dor do despertar, porque não há nada mais maravilhoso nesse mundo do que olhar para o céu e para a natureza e não mais se diferenciar deles, porque você finalmente percebeu que é UM. Você finalmente percebe que é Deus e que é amor.

Sobre o autor

Sara

Sara é um personagem, um pseudônimo, de alguém que gostaria de compartilhar suas experiências sobre o despertar espiritual mas que ainda não tem o ego totalmente desconstruído a ponto de contar suas histórias com seu próprio nome.

Então, enquanto isso, tenho prazer de apresentar, por meio de Sara, os meus textos, reflexões e descobertas sobre um despertar espiritual.

Gratidão ?