Para que o assunto da importância do sadhana possa ser melhor explorado por nós, dividiremos nossos compromissos em dois tipos: um tipo vamos chamar de “compromisso social”; o outro, de “compromisso pessoal”.
Os compromissos sociais são aqueles que firmamos com os outros. Esse grupo inclui as relações de trabalho, como um emprego pelo qual você se compromete a dedicar X horas por semana. Também inclui os compromissos familiares, pois existem (ou deveriam existir) relações que requerem reciprocidade, como ajudar em algo genérico, comprar alguma coisa, tirar uma dúvida, dar uma carona, etc. Não podemos nos esquecer de incluir os grupos dos quais participamos, que não estão relacionados à nossa profissão, mas visam nosso entretenimento, lazer, estudo, esporte, práticas espirituais, etc.
De forma geral, podemos dizer que as demandas impostas por esses compromissos sociais geram um esgotamento da nossa energia. É comum nos sentirmos cansados após nos dedicarmos a tantos compromissos ao mesmo tempo — e como todos considerados tão importantes, acabamos assumindo diversos deles. O ponto a ser questionado é: como estamos vivendo cada um desses compromissos? Será que estamos no “modo automático”, fazendo um trabalho mecânico apenas para receber o salário no final do mês? Será que estamos nos levantando da cama arrastados e indo de má vontade a encontros cujos objetivos nós nem conseguimos visualizar de verdade? Nas relações familiares, criamos intrigas e desavenças ou fomentamos a harmonia e a amizade?
É inegável que existe a necessidade de vivermos em sociedade e que os compromissos derivam naturalmente dessa convivência, mas repito: o ponto é a forma como estamos cumprindo esses compromissos.
Algumas tradições originadas na região da Índia utilizam o termo sadhana (em sânscrito), que significa algo do tipo “prática espiritual diária de Yoga para atingir a libertação do sofrimento”. No sentido de ‘prática com consistência’, ‘repetição com consistência’, ‘prática disciplinada’ ou ‘seguir a trilha de forma consistente, sem se desviar’. Em alguns lugares, sadhana está traduzido como ‘qualificações necessárias’. Este, vou chamar de compromisso pessoal.
E se você não pratica Yoga? Não importa. Podemos expandir o conceito para uma prática que seja adotada por você com a finalidade de desenvolver o compromisso com a disciplina.
Você pode escolher se aprofundar em um assunto, mantendo um estudo constante sobre ele. Muitas pessoas se dedicam ao estudo da música, por exemplo.
Geralmente, o sadhana está ligado a alguma prática relacionada ao corpo e à mente: dança, arte marcial, meditação, respiração, alongamento, exercícios etc.
Você já percebeu a dificuldade que tem em manter diariamente uma prática? De assumir um compromisso consigo? Existe uma zona de conforto colossal na qual o ego/mente nos mantêm inertes e negligentes perante esse compromisso maior de tomada de consciência.
Esse compromisso pessoal, ou sadhana, é o que deve nortear todos os outros compromissos, pois é um compromisso que você assume com sua tomada de consciência. E ele, então, vai trazer vida às suas experiências: o trabalho escolhido se tornará mais criativo e prazeroso, não sendo feito a contragosto; as relações familiares ganharão sentido, pois começarão a revelar a importância de cada membro; os encontros com grupos ganharão profundidade, dando mais sentido e clareza ao objetivo pelo qual nos comprometemos, evitando a sensação de estarmos perdendo tempo ali.
Sadhana traz firmeza nos propósitos
Vamos supor que você esteja querendo melhorar sua alimentação. Você é viciado em fritura, mas decidiu diminuir a quantidade de gordura ingerida. Durante o almoço em um restaurante, você terá a impressão de que aumentaram as opções de fritura. Sem um sadhana firme, facilmente você vai encher o prato com todas elas, e vai até repetir. Porém vai se sentir mal mais tarde. Já com um sadhana firme, seu autocontrole aumentará. Você pega uma quantidade menor e se sente satisfeito depois, por ter vencido esse desejo. O autocontrole pode ser explorado em diversos momentos da vida.
Devemos assumir um sadhana, ou compromisso pessoal, de forma séria. Esse compromisso deve ser sempre acompanhado por alguns questionamentos:
• Como está a frequência da minha prática diária?
• Com o passar do tempo, noto um aumento ou uma diminuição de entusiasmo nos compromissos sociais?
• Estou dando mais importância para fofocas de outras pessoas ou para assuntos e ideias que edificam a alma?
• Minhas dúvidas sobre o que comprar, comer, fazer e estudar estão maiores ou menores?
• Tenho experimentado mais sentimentos de ódio ou amor? Aceitação ou negação? Intrigas ou diplomacia? Revolta ou compreensão?
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Comprometer-se com sua libertação é o maior de todos os compromissos assumidos. Em outras palavras:
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês.” — Mateus, 6:33.