Saúde Integral

Cientistas podem ter descoberto a cura para o HIV

Ilustração em 3D de células e vírus.
exploderasi / 123RF
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Uma notícia pegou a comunidade médica de surpresa no início de fevereiro de 2022: uma mulher norte-americana possivelmente está curada do HIV após um tratamento médico inovador. Se isso se confirmar, é uma das primeiras vezes em que uma pessoa infectada com o vírus é curada.

O tratamento, segundo informações da emissora norte-americana NBC, incluiu um método de ponta de transplante de células-tronco. A expectativa da equipe médica é que esse tratamento comece a se expandir para atender, inicialmente, dezenas de pessoas todos os anos.

Esperança para o futuro

Em entrevista à NBC, Carl Dieffenbach, diretor da Divisão de Aids do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos da América, disse que ela é apenas o terceiro paciente com HIV a ser, ao menos supostamente, curado pela medicina.

Segundo ele, se esses pacientes forem somados a outras duas mulheres cujos sistemas imunológicos “derrotaram” o vírus, podemos dizer que é um quadro que “continua a dar esperança”. “É importante que continue a haver sucesso em relação a diferentes tratamentos”, concluiu.

Células-tronco

É importante perceber como o sucesso atual só se torna possível devido às iniciativas bem-sucedidas no passado. O tratamento com células-tronco, por exemplo, só foi adotado graças ao sucesso do caso de Timothy Ray Brown, portador do HIV que foi curado usando células-tronco para combater outro problema, uma leucemia mieloide aguda (LMA).

Descobriu-se que o doador de células-tronco de Brown tinha uma rara anormalidade genética que dava a ele resistência natural ao vírus. Então esse método começou a ser testado. Desde 2008, as três pessoas foram curadas assim, mas, com muitas outras, o tratamento não deu resultado.

Como funciona?

Em resumo, podemos dizer que esse tratamento substitui o sistema imunológico de uma pessoa pelo de outra, o que pode ser usado para tratar câncer, HIV, entre outras doenças.

Antes de mais nada, porém, os médicos precisam “destruir” o sistema imunológico original por meio da quimioterapia, que contribui para a eliminação do maior número possível de células imunes que silenciosamente abrigam o HIV. Se isso não for feito, as novas células serão infectadas.

Tratamento de risco

A maior parte dos médicos, porém, prega cautela quanto ao tratamento, porque é consenso na Medicina moderna que o tratamento com células-tronco é muito agressivo e potencialmente fatal, então somente é usado em casos de câncer ou de outra condição extremamente perigosa.

Ilustração em 3D de uma célula.
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Deborah Persaud, especialista em doenças infecciosas pediátricas da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, opina que “estamos muito animados” com o novo caso de possível cura do HIV, mas o tratamento com células-tronco “ainda não é uma estratégia viável para todos, exceto para um punhado dos milhões de pessoas que vivem com HIV”.

Doadores raros

Um dos grandes desafios para que esse tratamento fique disponível para mais pessoas é encontrar uma forma de mitigar o desafio que é encontrar doadores de células-tronco que tenham a tal anomalia genética que os torna imunes – ou, ao menos, resistentes – ao HIV.

Isso, segundo os pesquisadores, é essencial para que o transplante de células-tronco enxerte bem. Caso contrário, o que acontece é semelhante à rejeição de um transplante de órgão, quando o corpo não se adapta, e é preciso reverter o tratamento.

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Essa anormalidade genética é encontrada mais comumente em pessoas com descendência do norte da Europa, mas é tão rara que, até mesmo entre esse grupo, somente 1% das pessoas seriam doadoras funcionais. Então as chances de encontrar um doador de células-tronco são bastante baixas.

Um tratamento de ponta

Esse tratamento com células-tronco foi desenvolvido por uma equipe da Escola de Medicina Weill Cornell, de Nova York. O objetivo inicial era expandir as opções de tratamento de câncer para pessoas com malignidades no sangue que não encontravam doadores compatíveis.

O tratamento começa com o paciente recebendo um transplante de sangue do cordão umbilical, porque essa região é poderosa em células-tronco. Um dia depois, o paciente recebe um enxerto maior, dessa vez com células-tronco adultas, que florescem rapidamente e são substituídas pelas células do sangue do cordão umbilical.

A junção desses dois transplantes é que torna possível o sucesso do tratamento, porque apenas as células de cordão umbilical não têm “força” suficiente para se espalhar pelo corpo de um adulto, daí a necessidade de fazer um segundo enxerto de células-tronco.

Estágio inicial

A verdade é que esse tratamento ainda está em estágio inicial de pesquisa. Segundo Koen van Besien, um dos coordenadores da equipe médica que curou a paciente, estima-se “que existam aproximadamente 50 pacientes por ano nos EUA que poderiam se beneficiar desse procedimento”.

Ou seja, os pacientes que já podem se beneficiar desse tratamento ainda são muito poucos. Nos EUA, o Ministério da Saúde do país estima que exista 1,2 milhão de pessoas que convivem com o vírus.

Útil ao agradável

A verdade é que o tratamento da mulher teve como objetivo “unir o útil ao agradável”, já que o transplante de células-tronco serviu não apenas para o tratamento do HIV, mas também para a remissão de uma leucemia que ela já tratava havia quatro anos.

Três anos após o transplante, a equipe médica dela suspendeu o tratamento contra o HIV, e, mais de um ano depois disso, ela ainda não experimentou nenhum vírus ressurgente. Por isso, a luz de esperança foi acesa no caso dela.

Cura?

A médica Yvonne J. Bryson, uma das que acompanharam o tratamento da mulher, ainda prega cautela para falarmos sobre cura. “Para não exagerarmos”, ela diz, “o melhor é que usemos a palavra ‘remissão’”.

Se isso representa uma cura definitiva, ainda vamos descobrir. Mas a verdade é que, se há mais ou menos 30 anos não havia nenhuma esperança de cura para quem era diagnosticado com essa doença, hoje já é possível conviver com ela e, possivelmente, ver-se curado definitivamente. Torçamos pelo sucesso desse tratamento!

Fonte: NBC News

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