Ah, decepções… Quem nunca viu cair por terra algo que parecia que ia dar certo, não é mesmo? Mas o que é uma decepção? Como essa palavrinha tão angustiante pode ter significados diferentes para cada pessoa baseados em suas histórias de vida. Vamos unificar aqui uma definição a respeito desse substantivo cruel. Segundo o dicionário Oxford Languages da Língua Portuguesa, “decepção” é “sentimento de tristeza, descontentamento ou frustração pela ocorrência de fato inesperado, que representa um mal; desilusão, desapontamento”, certo? Lembrou-se de alguma coisa ao ler a definição? Pode ter certeza de que todo mundo vai se lembrar de algum episódio, sabe por quê?
“A decepção é inevitável na vida”, explica o psicanalista Giuliano Rocha Andrade, “porque a decepção é fruto da expectativa que criamos a respeito de alguma coisa, de algum acontecimento ou de alguém, e qual ser humano consegue viver sem criar expectativas? Ainda que tentemos evitá-las, é impossível… Refletir e se projetar no futuro é uma parte importante de quem somos, então quando nos projetamos no futuro, visualizamos ali algo bom e criamos expectativa de ver isso realizado, mas a realidade vai num caminho diverso, aí vem a decepção”. Se não ficou claro: não tem para onde fugir, uma hora ou outra você vai se decepcionar.
Então se decepcionar é algo inevitável, o que podemos fazer para lidar com uma decepção e evitar sucumbir a sentimentos depressivos, estacionando nessa decepção, o que impede de seguir em frente? É impossível apontar uma solução para contornar uma decepção, já que elas são tão diversas e nós, como seres humanos individuais, também somos tão diversos. Mas há algumas dicas que você pode seguir para minar o modo como as decepções atingem você. Confira!
8 dicas para lidar com uma decepção
1. Equilíbrio
É preciso, antes de mais nada, encontrar um equilíbrio no modo como você vê a sua decepção. É claro que isso leva tempo e não acontece assim que você se decepciona, mas é importante inserir isso nas suas reflexões. “É difícil, no olho do furacão, por assim dizer, encontrar um modo de não subestimar a dor, não dando a ela a devida importância, mas também de não superestimar a dor, fazendo com que ela nos desvie do nosso caminho. É uma equação difícil, mas é preciso fazer contas e mais contas até chegar num resultado”, aconselha a psicóloga clínica Helena Martinelli.
2. O outro lado da história
Mais alguém está envolvido nessa decepção que você sofreu? Você já tentou entender o lado da pessoa antes de sair carregando mágoas e decepções? “A frustração muitas vezes é um sentimento egoísta”, opina o psicanalista Giuliano Rocha Andrade, “porque nos frustramos e nos decepcionamos ao ver que nossas expectativas não foram alcançadas, mas se a sua decepção envolver diretamente alguém, tente pensar no lado dela também. Sabe aquele relacionamento que começa bem, mas aí o trem descarrila? Em vez de apenas culpar a outra pessoa e se frustrar porque não deu certo, tenha empatia e se coloque no lugar dela. Isso até ajuda a diminuir a decepção, porque percebemos que lá do outro lado também tem uma pessoa decepcionada, então se ela não pode cobrar de nós a perfeição, que direito temos de cobra o mesmo dela?”.
3. Entender a raiz do problema
Você tem se decepcionado com frequência em sua vida e o tema dessas decepções se repetem? Amigos que somem, relações amorosas que fracassam, pessoas que se afastam, demissões de emprego, problemas para se dedicar ao estudo… Você precisa entender a raiz do seu problema para combatê-lo. “É comum vermos os problemas de movo pontual: ah, esse relacionamento deu errado por esse e esse motivo, tudo bem. Mas aí quando você analisa esse relacionamento que deu errado e os três anteriores a ele, percebe alguns padrões e comportamentos que você vem repetindo e que levam a essa decepção. Um exemplo: uma pessoa que sonha em se casar e ter filhos, mas começa a namorar parceiros que, depois de meses de relação, revelam que não querem filhos, aí vem o término, a decepção… Será que você se preocupa com os seus planos e expectativas antes de entrar nesses relacionamentos ou prefere jogar a culpa e a decepção no colo da outra pessoa? Investigar o problema é o primeiro passo para combatê-lo”, exemplifica o psicanalista.
4. Buscar psicoterapia
E combater o problema, como disse Rocha Andrade, muitas vezes é se ver diante de um terapeuta para falar sobre si mesmo. “O espaço da terapia é um espaço livre de julgamentos, com alguém que está dedicando 100% do tempo para dar ouvidos atentos para tudo aquilo que você queira dizer, então a psicoterapia é um espaço maravilhoso para desvendar os verdadeiros motivos por trás das suas decepções, se é que eles existem, e encontrar um modo de ficar em paz com eles”, sugere Martinelli.
5. Lembre-se das vitórias
“Dias de luta, dias de glória”, escreveu o poeta Chorão, líder da banda Charlie Brown Jr. Quando chegarem os dias de luta e tudo parecer negativo e envolto em pessimismo, lembre-se das suas vitórias e dos dias de glória, aqueles em que você conseguiu conquistar o que desejava. “A decepção tende a colocar um véu de desesperança em nossos olhos, então turva a nossa visão e nos impede de olhar para trás, para o passado, para aquela conquista que nos fez tão feliz há pouco tempo. Enfim, tente resgatar o seu sucesso também, então você entenderá que são ciclos: vitórias, derrotas, sucessos, fracassos; tudo isso faz parte da vida, e é saudável para o equilíbrio dela que faça”, opina o psicanalista.
6. Autoestima
Você está com a autoestima em dia? Tem encontrado equilíbrio quando o assunto é autoestima também? “Quando a nossa autoestima anda meio baixa, pode ser que acabemos aceitando que merecemos o pior mesmo e aí a decepção se instala e permanece. Por outro lado, se a autoestima está alta demais, isso pode causar um pouco de arrogância, então quando você vê a sua armadura perfurada, pode parecer até inacreditável: como assim uma pessoa como eu sendo derrotada? Os dois extremos devem ser evitados”, sugere Rocha Andrade.
7. Todo mundo passa por isso
Sabe quando a gente é criança e quer um brinquedo e nossos pais não dão? Decepção. Lembra-se de quando você era adolescente e odiava ser tratado mais como criança do que como adulto? Decepção. Ou seja, é inevitável se decepcionar. “Boa parte do sentimento de decepção vem da sensação de que somos fracassados, e isso machuca a nossa autoestima, porque nos diminui. Quando você entende que todo mundo se decepciona — da pessoa mais poderosa do mundo à mais simples nele —, você entende que não é menos por ter passado por uma decepção, então passa a aceitá-la como parte da vida, como uma etapa pela qual você até talvez precisasse passar para amadurecer determinados aspectos”, delibera a psicóloga clínica Helena Martinelli.
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8. Expectativa
Como explicado no início deste artigo pelo psicanalista Giuliano Rocha Andrade, boa parte das decepções vem das nossas expectativas. Talvez, então, o momento da decepção seja propício para uma reflexão, como sugere o especialista: “Por que não ‘aproveitar’ a decepção para fazer uma reflexão a respeito das suas expectativas que causaram aquela frustração? Repense os seus caminhos, repense o que você quer e adeque tudo isso à sua realidade, porque aquele que fica buscando objetivos inalcançáveis tende a se decepcionar mais. Se você sente que tem se decepcionado muito, cobre menos de si mesmo, e uma boa ideia é estabelecer objetivos, digamos, menores. Se em vez de ter a expectativa de encontrar a tampa perfeita para a sua panela, usando expressão coloquial, você se preocupar em encontrar alguém com quem possa construir um relacionamento gostoso, saudável e em que haja amor, talvez com o tempo você perceba que essa pessoa é a tampa da sua panela, mas essa descoberta só foi possível porque você domou as suas expectativas e as adequou a realidade. Pode parecer clichê, mas tire lições das derrotas e saiba se reinventar.”