Nutrição

Benefícios Mentais do Chocolate, Cacau e Cupuaçu

Cupuaçu.
briste / 123rf
Escrito por Lucas Zappia

O cupuaçu é um fruto marrom de casca dura, miolo branco com sementes grandes, nativo da bacia Amazônica e parente muito próximo do cacau. Apesar da maior disseminação internacional do cacau e de sua fama como principal ingrediente do chocolate, ambas são frutas nativas da região amazônica do Brasil e do gênero Theobroma na classificação científica, indicando que são parentes biológicas muito próximas.

Povos nativos da América, como os Maias e Astecas, davam grande importância ao cacau, usando-o como moeda de troca e alimento sagrado. A primeira referência que temos à origem do atual chocolate é uma bebida chamada de chocolatl na língua náuatle (do povo asteca) feita das sementes torradas e moídas do cacau. Essa bebida era consumida pela nobreza do povo asteca e tinha um gosto forte e amargo. Para amenizar o amargor, misturavam baunilha, mel, pimenta e flores na bebida, criando, assim, a fórmula antiga que inspirou o chocolate de hoje.

O cacau tem maior importância econômica, sendo cultivado também na América Central, África e Ásia, enquanto o cupuaçu é quase exclusivo do Brasil, contudo ambos são do gênero Theobroma e possuem uma composição bioquímica parecida que confere vários benefícios parecidos para o corpo e a mente.

As duas frutas crescem em árvores que podem chegar a 20 metros de altura. Ambas têm uma polpa branca levemente adocicada e ácida que envolve suas sementes no interior da fruta. Tanto a polpa quanto as sementes são usadas na culinária e para confecção de cosméticos, principalmente no caso do cupuaçu.

Essas frutas possuem uma concentração relevante de flavonóis, um subgrupo de polifenóis altamente antioxidantes e anti-inflamatórios. Estudos humanos demonstram que uma dieta rica em flavonóis ou com suplementação de flavonóis pode melhorar a cognição tanto no curto quanto no longo prazo, especialmente em tarefas de alta demanda cognitiva.

Um estudo testou 90 idosos com comprometimento cognitivo leve; um grupo tomou altas doses de flavonóis de cacau diariamente por 8 semanas e outro grupo tomou doses menores. O grupo que tomou as maiores doses durante as 8 semanas teve resultados expressivamente melhores em 3 testes cognitivos: fluência verbal, reconhecimento visual e atenção. Esse estudo ficou conhecido como CoCoA study (Cocoa Cognition and Aging), cacau, cognição e envelhecimento em inglês.

Outro estudo humano feito com adultos saudáveis testou o efeito pontual do consumo de flavonoides de cacau 2h após seu consumo. Os resultados demonstraram que apenas quando realizaram as tarefas intelectuais mais demandantes os participantes que tomaram a dose de flavonóis tiveram melhores notas. Esse estudo também avaliou a função vascular cerebral antes e 2h depois do consumo de flavonóis e demonstrou melhora na eficiência de oxigenação do sangue no cérebro.

Barra de chocolate.
Tamas Pap / Unsplash

Os mecanismos exatos que fazem o cérebro funcionar melhor com os compostos do cacau e do cupuaçu ainda não são conhecidos completamente, porém temos algumas pistas. O flavonoide mais abundante no cacau e no cupuaçu é a (-) epicatequina (pronunciada “menos epicatequina”). Esse poderoso neuronutriente tem mostrado resultados impressionantes para a saúde cerebral e modulação do comportamento cognitivo. Estudos com animais e humanos usando esse flavonoide demonstraram redução de ansiedade, melhora cognitiva, melhora do sistema vascular e proteção contra doenças como Alzheimer.

Para incorporar essas frutas no seu dia a dia e ter seus benefícios potencializados existem alguns truques para escolher e preparar esses alimentos.

O cacau é famoso por ser o principal ingrediente do chocolate, tão amado ao redor do mundo, porém nem todo chocolate é criado igual. Na realidade, produtos vendidos como chocolate variam muito na sua composição e fabricação. Na hora de escolher um chocolate neuronutritivo siga as seguintes dicas:

Quanto menos ingredientes, melhor. Um bom chocolate pode ter apenas 3 ingredientes, sendo o cacau sempre o primeiro, um adoçante ou açúcar e uma gordura ou leite. Evite emulsificantes, conservantes, açúcar refinado e outros ingredientes.

70% cacau ou mais. Para ter uma boa concentração de flavonóis no seu chocolate, opte por ter no mínimo 70% de cacau na composição. Alguns antioxidantes se perdem no processamento, então quanto mais cacau, melhor

O processo de fabricação importa. Quanto menos processado for o cacau, mais ele conserva suas propriedades saudáveis. Se possível, opte por chocolates de cacau cru (feitos abaixo de 42C) e que sejam fabricados no sistema “bean to bar” ou da “amêndoa à barra”, na qual o produtor do chocolate final controla todo o processo de seleção e moagem da amêndoa do cacau.

Os mesmos passos se aplicam para outros produtos de cacau como cacau em pó e nibs de cacau. É ainda preferível preparar suas próprias receitas com o cacau puro para controlar a quantidade de açúcar e gordura melhor. Além de doces você pode adicionar cacau em pó em batidas, cafés, sucos e vitaminas. Nibs de cacau você pode adicionar a saladas e cremes como de açaí ou cupuaçu (veja a seguir como fazer o seu creme de cupuaçu!)

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O cupuaçu, por sua vez, ainda não tem o alcance internacional que o cacau tem, porém também tem sua versão em barra, o cupulate, feito das amêndoas do cupuaçu. Cupulate tem a consistência e textura quase idêntica ao chocolate, mas tem um sabor de chocolate misturado com frutas tropicais como abacaxi ou acerola. Para escolher um bom cupulate, siga as mesmas dicas do chocolate.

Cupuaçu também é vendido em natura, em pó ou em polpa. Nesses casos estamos consumindo a polpa do cupuaçu e não suas amêndoas. Encontrar cupuaçu fresco pode ser difícil em algumas regiões do Brasil, mas a polpa congelada é mais fácil. Com a polpa do cupuaçu existem muitos preparos de doces, mousses e cremes, porém a maioria das receitas leva muito açúcar.

As minhas preferidas são:

Creme de cupuaçu com açaí

Em uma panela misture em fogo baixo até incorporar: 2 xícaras de iogurte desnatado, 2 colheres de sopa de amido de milho, 2 colheres de sopa de stevia (ou outro adoçante).

Adicione a mistura fria a um liquidificador com 200g de polpa de cupuaçu congelada e 200g de polpa de açaí

Bata no liquidificador até ficar homogêneo e sirva com amêndoas e nibs de cacau

Mousse de cupuaçu com raspas de limão

Em uma panela misture em fogo baixo até incorporar: 2 xícaras de iogurte desnatado, 3 colheres de sopa de amido de milho, 2 colheres de sopa de stevia (ou outro adoçante).

Adicione a mistura fria a um liquidificador com 1 xícara de polpa de cupuaçu congelada

Bata no liquidificador até ficar homogêneo, adicione raspas de limão em cima e leve à geladeira para gelar por 3 horas antes de servir.

Se você gostou dessas dicas e quer saber quais outros alimentos cotidianos também têm propriedades incríveis para o cérebro e como usá-los, baixe de graça o e-book 6 temperos para a mente e descubra como usar temperos para aprimorar o cérebro

Referências

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22892813/

https://www.nature.com/articles/s41598-020-76160-9

https://www.nature.com/articles/tp2014135

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3575938/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6115745/

Sobre o autor

Lucas Zappia

Empreendedor, montanhista e apaixonado por desenvolver as incríveis capacidades do corpo e da mente. Sou formado em administração de empresas, trabalhei em uma das áreas mais exigentes do mercado financeiro, fundei duas empresas no ramo de nutrição e já escalei algumas das maiores montanhas na Europa e nas Américas.

Criador do Neuro Food, meu programa sobre nutrição cerebral que ensina tudo sobre como usar o poder dos neuronutrientes de comidas comuns para elevar o nível de performance mental.

Minha missão é ajudar profissionais e estudantes ambiciosos a alcançarem níveis diferenciados de performance e bem-estar da maneira mais simples e mais fácil possível.

O foco de todo o conteúdo do Neuro Food é ajudar pessoas como você a ter melhoras significativas no funcionamento cognitivo em aspectos como memória, função executiva, aprendizado, concentração, relaxamento, e muitos outros.

Depois de anos estudando os hábitos e rotinas dos meus ídolos, empreendedores, atletas, investidores, artistas e escritores, eu percebi que todos eles, sem exceção, tinham uma compreensão de como a alimentação podia afetar a produtividade e felicidade. A partir disso, busquei os fundamentos por trás das práticas e descobri toda uma literatura científica sobre como certos compostos presentes em alimentos comuns podem oferecer ganhos na nossa saúde e desempenho mental.

Eu chamo esses compostos de neuronutrientes. Me dediquei a estudar e testar em mim mesmo e em pessoas próximas o que eu descobria. Os resultados são impressionantes.

Não sou médico, cientista ou nutricionista. Vivo uma vida corrida equilibrando trabalho e estudos, mas passei a me dedicar à missão de ajudar pessoas como você a chegarem mais longe nos seus objetivos e contribuírem cada dia mais no seu projeto de vida. Minha contribuição com o Neuro Food é trazer todo esse conhecimento científico ao dia a dia de pessoas como eu e você e aplicar isso da maneira mais simples possível: com os alimentos que você já come.

Além de comer de maneira saudável para longevidade, estética e performance atlética, nosso objetivo nem sempre é de adicionar mais anos à nossa vida. Às vezes queremos ter mais vida nos nossos anos. Isso quer dizer mais tempo livre com nossa família e amigos, nos projetos pessoais que nos dão propósito, na evolução de nossa carreira, para aprender coisas novas e ter energia e tempo para aproveitar nossa vida. É com esse foco em mente que desenvolvi o programa compreensivo do Neuro Food.

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